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Tropas russas assumiram o controle de Kherson, confirmam autoridades ucranianas

Chega ao fim a primeira semana de operação militar da Rússia contra a Ucrânia, que já levou um milhão de pessoas a fugir para países vizinhos

Foto: Daniel Leal/AFP
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Tropas russas assumiram nesta quinta-feira 3 (pelo horário local) o controle de Kherson, no sul da Ucrânia. A cidade tem cerca de 300 mil habitantes e fica a noroeste da Crimeia, península anexada pela Rússia há oito anos. A confirmação do triunfo russo no local foi feita à agência AFP por autoridades ucranianas.

Ao jornal norte-americano New York Times, o prefeito Igor Kolykhaev e um alto funcionário do governo ucraniano também admitiram a queda de Kherson. Segundo Kolykhaev, as forças russas cercaram a cidade e, após dias de intensos combates, os soldados ucranianos recuaram em direção à vizinha Mykolaiv.

“Não há exército ucraniano aqui”, disse o prefeito ao NYT. “A cidade está cercada.”

Ainda de acordo com Kolykhaev, cerca de dez oficiais russos, incluindo o comandante da ação, entraram na sede da Prefeitura e revelaram planos de estabelecer ali um novo centro administrativo.

É desta forma que chega ao fim a primeira semana de operação militar da Rússia, que já levou um milhão de pessoas a fugir do território ucraniano rumo a países vizinhos, segundo o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi.

A capital Kiev, centro das atenções em meio ao avanço das tropas de Vladimir Putin, segue sob a tensão pela aproximação de um grande comboio militar inimigo.

A extensão do comboio chega, segundo os satélites da Maxar, a 64 quilômetros. São vistos tanques, peças de artilharia e outros equipamentos. Esta quarta-feira 2, no entanto, não marcou a chegada do reforço militar russo para uma possível investida contra Kiev.

Segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby, as forças que se deslocam a Kiev “continuam paradas”.

“De acordo com nossas melhores estimativas, eles não fizeram nenhum progresso muito apreciável nas últimas 24 a 36 horas”, prosseguiu Kirby em pronunciamento a jornalistas. “Nada muito significativo.”

O Pentágono considera que essa “paralisação” se explica por um processo de reavaliação sobre o progresso não realizado, por “desafios de logística” e por “resistência dos ucranianos”. Também entende que as tropas russas “parecem enfrentar menos resistência no sul”.

A 400 quilômetros de Kherson, Mariupol também é palco de combates. Intensos bombardeios deixaram dezenas de feridos, de acordo com a Prefeitura, que teme o avanço russo por três lados. O objetivo do Kremlin ao sinalizar a tomada de Mariupol é formar uma espécie de corredor terrestre que a ligaria à Crimeia.

Kiev segue pressionada

Pouco antes do início da madrugada da quinta 3, houve o registro de novas explosões em Kiev. Nas redes sociais, Anton Herashchenko, conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, afirmou que uma grande estrutura para fornecer aquecimento à população pode ter sido destruída em um ataque russo perto da estação ferroviária de Kiev.

A temperatura na cidade é de cerca de 1 grau, neste momento.

A CNN dos Estados Unidos, presente em Kiev, confirmou os danos à estação de Pivnichna, localizada a pouco mais de 200 metros da estação central.

O prefeito Vitali Klitschko afirmou que relatórios preliminares sugerem não ter havido vítimas nessa explosão, mas ponderou que sua gestão “está esclarecendo os detalhes”.

“O inimigo estava tentando invadir nossa cidade, mas os defensores ucranianos os estão repelindo e defendendo nossa capital”, completou, em post no Telegram.

Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia – perto da fronteira com a Rússia -, também foi alvo de bombardeios pelo segundo dia consecutivo. À BBC, de Londres, o prefeito Igor Terekhov afirmou que a cidade está “parcialmente cercada” pelo Exército russo. Alega, no entanto, que os militares ucranianos agem “heroicamente” para impedir que o controle vá para as mãos de Putin.

Além das armas

No lado diplomático, o dia foi marcado pela decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas de aprovar uma resolução que condena a operação militar da Rússia e a trata como invasão. O texto teve 141 votos favoráveis, incluindo o Brasil.

Cinco países foram contrários ao texto: Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia. Outros 35 decidiram se abster, como China, Cuba, Irã, Cazaquistão, Nicarágua e Vietnã. A redação pede que a Rússia retire suas forças militares da Ucrânia e interrompa a ação militar.

Horas depois, em um novo pronunciamento, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, voltou a afirmar que a operação russa “não foi provocada” e que seu país “está com o povo ucraniano”.

“Ele [Putin] achou que o Ocidente e a Otan não responderiam. Ele achou que poderia nos dividir, mas errou. Nós estamos prontos. Passamos incontáveis horas unificando os aliados europeus”, prosseguiu Biden. “Quando a história desta era for escrita, a Ucrânia terá deixado a Rússia mais fraca e o resto do mundo mais forte.”

Enquanto isso, segue a expectativa pela segunda rodada de conversas entre as delegações russa e ucraniana. O governo de Volodymyr Zelensky já despachou seus representantes para o encontro que deve ocorrer nesta quinta 3 em Belarus. Mais cedo, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, já havia confirmado que a “delegação de Moscou estará pronta para continuar a conversa”.

O governo russo, porém, mantém o tom de responsabilização das potências ocidentais pela deflagração de uma ação militar  contra a Ucrânia. “O Ocidente se recusou a cooperar conosco no estabelecimento de uma nova arquitetura de segurança europeia”, declarou nesta quarta o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, em entrevista à Al Jazeera.

Lavrov também fez um novo alerta: “A Rússia tem muitos amigos e é impossível isolá-la”.

Mortes

Como em qualquer guerra, há um grande desencontro nas informações sobre baixas. Já na madrugada desta quinta na Ucrânia, as Nações Unidas afirmaram que 227 civis foram mortos e 525 feridos na Ucrânia desde o início da operação militar russa.

Na manhã da quarta 2, o Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas comunicou a morte de 5.840 soldados russos desde o princípio da ação. Do lado ucraniano, mais de 2.000 civis foram mortos, segundo balanço do Serviço de Emergência do país.

As Forças Armadas da Rússia, por sua vez, divulgaram um número drasticamente distinto: afirmaram que 498 militares do país morreram e quase 1.600 ficaram feridos durante a operação. O Ministério da Defesa russo rechaçou, em comunicado, as estimativas de baixas em suas tropas divulgadas pela Ucrânia. Segundo a pasta, trata-se de desinformação deliberada.

Segundo os militares da Rússia, o lado ucraniano perdeu 2.870 soldados e tem 3.700 feridos. Além disso, 572 militares da Ucrânia estariam na condição de prisioneiros.

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