Economia

Rússia vai limitar exportação de gasolina e diesel; entenda os impactos do anúncio para o Brasil

Medida russa visa estabilizar o mercado interno; desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia se tornou a principal exportadora de diesel para o Brasil

Foto: DELIL SOULEIMAN / AFP
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A Rússia anunciou que vai fazer restrições à exportação de gasolina e diesel. A medida, assinada pelo primeiro-ministro Mikhail Mishustin na última quinta-feira 21, tem como objetivo estabilizar os preços dos combustíveis no mercado interno.

“As restrições temporárias ajudarão a saturar o mercado de combustíveis, o que, por sua vez, reduzirá os preços para os consumidores”, diz o comunicado. Desde ontem, o anúncio vem movimentando o mercado internacional de combustíveis e poderá impactar o Brasil. 

A maior parte do diesel importado pelo Brasil vem da Rússia. No último mês de agosto, segundo o governo federal, o diesel da Rússia representou 74% das importações brasileiras do ativo. Quase um terço do diesel consumido no país é importado. 

Vale destacar, nesse contexto, que o diesel é o principal combustível derivado de petróleo importado no País, representando, atualmente, 52% das importações.

O volume de importação de diesel russo não apenas é expressivo, mas crescente. Nos primeiros sete meses deste ano, o Brasil comprou 1,49 bilhão de dólares em diesel da Rússia, segundo o governo federal. O valor é bem superior ao montante comprado em todo o ano de 2022, que totalizou 95 milhões de dólares.

A subida tem um motivo direto: com as restrições comerciais impostas à Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, o país teve que ampliar o seu horizonte de negociação. No mercado de combustíveis, o Brasil foi diretamente beneficiado. É o que explica Mahatma dos Santos, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e pesquisador do grupo Desenvolvimento, Trabalho e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Essa decisão é mais um dos reflexos do conflito em solo ucraniano, que vem gerando impactos profundos nas rotas de exportação. A Rússia privilegiou o Sul Global e parte da Ásia, após as sanções de parte do Ocidente. Até 2022, por exemplo, quem dominava a importação do diesel brasileiro eram os Estados Unidos, mas isso mudou”, explica o pesquisador. 

Quais as consequências para o Brasil

A Petrobras, principal empresa de petróleo do país, não importa diesel. A princípio, portanto, a decisão russa não afetaria diretamente os negócios da empresa, tampouco os preços dos combustíveis para os consumidores.

Entretanto, a depender da alta no mercado internacional que a decisão do Kremlin poderá causar, não é de se descartar que haja defasagem entre o preço praticado pela estatal e os valores negociados no mercado externo. Outra questão importante é que a Rússia não deu detalhes sobre qual o tamanho do corte nas exportações de diesel e gasolina, nem sobre a duração da nova política.

Para Mahatma dos Santos, “a falta de temporalidade dificulta a mensuração das consequências” para o Brasil. Segundo o especialista, porém, é certo dizer que a medida “com certeza vai impactar o preço global e o custo do diesel importado em circulação no País”. O impacto, neste caso, deve ser sentido sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, uma vez que o Centro-Sul do país possui as principais refinarias que abastecem o mercado nacional.

O pesquisador do Ineep pondera, no entanto, que esse impacto não deverá ser imediato. “Quando se compra diesel russo, o ativo demora de 30 a 50 dias para chegar ao mercado brasileiro. O impacto, portanto, pode não ser imediato. Se as restrições se estenderem, aí sim podem ter impacto direto”, explica.

Desde o início do ano, a Petrobras mudou a sua política de preços, extinguindo a antiga política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que atrelava, diretamente, os preços praticados no Brasil ao mercado internacional.

Após o anúncio da Rússia, o banco Goldman Sachs divulgou um comunicado e tratou do caso específico do Brasil. Para a instituição financeira, é possível que a Petrobras tenha que subir os preços para impedir um desabastecimento de diesel no País. “Com a oferta limitada da Rússia, o desconto da Petrobras para oferta alternativa aumentaria, aumentando assim a probabilidade de um ajuste de preços para cima”, informou o banco.

Para Mahatma Santos, uma das formas que o Brasil deve adotar para não sofrer de forma aguda a volatilidade do mercado externo é buscar a autossuficiência. “A forma de enfrentar esse problema seria expandindo a capacidade de refino em parques de refino [da Petrobras]. Seja pela modernização, seja pela construção de novas refinarias”, aponta.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, a Abicom, em nota, também destacou que, por ora, não há grandes riscos de desabastecimento no País diante do anúncio russo.

“Caso os produtores nacionais, principalmente a Petrobras na sua condição de agente dominante no mercado, deem previsibilidade dos volumes de derivados que serão disponibilizados para as Distribuidoras de combustíveis, nos próximos 4 meses, podemos afirmar que não haverá risco de desabastecimento”, informa a entidade.

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