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Quem foi Fernando Villavicencio, o candidato a presidente assassinado no Equador

Dias antes de sua morte, Villavicencio havia denunciado duas vezes ameaças contra sua vida e de sua equipe de campanha

Imagem do candidato presidencial equatoriano Fernando Villavicencio, um dia antes de seu assassinato. Na ocasião, ele pediu à Procuradoria Geral da República que investigue ex-funcionários relacionados ao setor de petróleo dos governos, incluindo o atual presidente Rafael Correa — Foto: Rodrigo BUENDIA / AFP
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O candidato à Presidência do Equador, Fernando Villavicencio, de 53 anos, assassinado com três tiros na cabeça nesta quarta-feira, 9, era uma figura conhecida pela luta anticorrupção e por suas declarações contra o tráfico de drogas no País. 

Villavicencio disputaria o cargo pela primeira vez. Natural do interior de Quito, capital do Equador, era jornalista de profissão, líder sindical e integrava o partido de centro-esquerda Movimiento Construye, criado após a redemocratização do País. 

As suas propostas de governo miravam na militarização dos portos para controlar o narcotráfico, a criação de uma Unidade Antimáfia com apoio internacional e na construção de um presídio de segurança máxima, para os criminosos mais perigosos. 

Mas ele aparecia com poucas chances para o posto, de acordo com a pesquisa de intenção de votos feita pela ClickReport entre os dias 4 e 6 de agosto. O levantamento apontava a candidata Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, na liderança isolada com 29,2% de apoio do eleitorado e Villavicencio aparecia com 7,5%. Já em outra pesquisa, ele aparecia como segundo colocado. 

Profundamente conectado às raízes latino-americanas e oriundo de uma família pobre, sua carreira política se inicia no Movimento Pachakutik, partido de raízes indígenas que se empenhou pelo reconhecimento do Equador como nação plurinacional, ainda em 1995. 

Enquanto jornalista, ele chegou a criar o portal “Jornalismo Investigativo” — criticado sobre sua credibilidade.

Uma de suas reportagens, revelou um esquema de propinas do ex-presidente Rafael Correa, conhecido como “Arroz Verde”. Diante a comprovação da Justiça, que Correa e ex-colaboradores financiaram contratos em troca de apoio político. O ex-presidente recebeu pena de oito anos de prisão em abril de 2020 e vive até hoje como refugiado na Bélgica. Correa atribuiu a pena a perseguição política.

Nessa toada, em 2014, um tribunal condenou Villavicencio a 18 meses de prisão por insultar Correa, após outra denúncia de supostos crimes contra a humanidade em uma batida militar em um hospital. Mas, ele não cumpriu o mandado de prisão e se refugiou em um povoado indígena na selva amazônica. Na época, ele era assessor legislativo de Cléver Jiménez, co-idealizador do Pachakutik.

Posteriormente, em 2016, um juiz novamente ordenou sua prisão por usar e-mails hackeados em uma investigação sobre suposta corrupção na Ecopetrol. Foi quando Villavicencio então se refugiou no Peru até que o sucessor de Correa, Lenín Moreno, permitiu, em 2017, que ele voltasse ao Equador.

No sábado, 5 de agosto, ele disse ter sido ameaçado de morte por ‘Fito’, que seria um dos chefes do grupo criminoso ‘Cartel de Sinaloa’ e disse que não usaria colete à prova de balas. 

“Ouçam bem, eles me disseram para usar o colete, aqui estou eu, maldita camisa suada. Você é meu colete à prova de balas, eu não preciso disso, você é um povo corajoso e eu sou corajoso como você. Vocês são os únicos que cuidam de mim”, disse Villavicencio, de acordo com um vídeo publicado na terça-feira em suas redes sociais . “Venha, aqui estou […] você pode me dobrar, mas nunca vai me quebrar”, acrescentou.

O Equador enfrenta uma histórica crise de segurança pública – agora, amplificada pela crise política. Após ser alvo de um processo de impeachment, Guillermo Lasso convocou uma cláusula da Constituição e dissolveu a Assembleia Nacional, na tentativa de não ser deposto. 

No entanto, com a aplicação do artigo, conhecido como “Morte Cruzada”, Lasso foi obrigado a convocar novas eleições presidenciais, que devem acontecer em 20 de agosto, apesar do atentado.  

Por quem ele foi morto?

Apesar da nomeação feita pelo próprio Villavicencio, dias antes de sua morte, a segunda maior facção criminosa do País, o Los Lobos, reivindicou a autoria do atentado.

Por outro lado, o governo do Equador afirmou que os detidos são colombianos. “Todos, incluindo o falecido, são colombianos”, informou a polícia, consultada pela agência AFP.

Segundo Lasso, que creditou a morte a organizações criminosas, a FBI deve auxiliar na investigação do atentado contra Villavicencio.

Ele deixou a esposa Verónica Sarauz e cinco filhos, Amanda, Tamia, Antonella, José Emiliano e Martín.

Com informações de Elcomercio, Perfil e AFP

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