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Lula, Dilma, Haddad e líderes latinos repudiam ação militar contra Nicolás Maduro

Em carta, Grupo de Puebla considerou ‘inaceitável’ haver uma tentativa de golpe à Venezuela durante a pandemia do coronavírus

Nicolás Maduro era principal alvo de incursão paramilitar na Venezuela. Foto: AFP PHOTO/VENEZUELA'S PRESIDENCY/MARCELO GARCIA
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Lideranças que compõem o Grupo de Puebla protestaram contra uma ação militar planejada para derrubar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Os membros do coletivo registraram o repúdio em uma carta divulgada no domingo 10. O documento é assinado por 23 nomes, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

No manifesto, também representam o Brasil o ex-chanceler Celso Amorim, o ex-ministro Aloizio Mercadante e a jurista Carol Proner. Entre os líderes estrangeiros, assinaram o ex-presidente do Equador, Rafael Correa; o ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo; o ex-premiê da Espanha, José Luiz Rodríguez Zapatero; e o ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper.

O Grupo de Puebla foi criado em 2019 e também conta com a participação do presidente da Argentina, Alberto Fernández, único político em exercício a integrar a organização. Em abril, o conjunto protestou contra os embargos econômicos dos Estados Unidos contra Cuba e Venezuela, durante reunião em que Lula discursou pela primeira vez perante o grupo.

Agora, o Grupo de Puebla volta mais uma vez a sua atenção aos venezuelanos, após mercenários coordenados pela empresa americana Silvercorp USA tentarem invadir o país vizinho. A incursão ocorreu nos dias 3 e 4 de maio, no entanto, os paramilitares foram flagrados pelas forças bolivarianas e a ação resultou em oito mortes e mais de 40 prisões. Entre os detidos, estão dois veteranos de guerra americanos, Luke Denman e Airan Berry.

Segundo reportagem do jornal espanhol Diario ABC publicada no domingo 10, o plano teria sido debatido por meses antes entre o dono da Silvercorp USA e ex-soldado dos EUA, o americano Jordan Goudreau, e o assessor do deputado antichavista Juan Guaidó, Juan José Rendón.

Em um documento de 41 páginas obtido pelo veículo europeu, Goudreau se comprometeu a “planificar e executar uma operação para capturar, deter e derrubar Nicolás Maduro, derrubar o atual regime e instalar o presidente reconhecido da Venezuela, Juan Guaidó”, em uma missão que custaria 212 milhões de dólares.

Outra reportagem, publicada pelo jornal americano The Washington Post, também sustentou que o plano tinha o objetivo de sequestrar Nicolás Maduro.

Para o Grupo de Puebla, a incursão representa uma tentativa de golpe de estado contra o governo de Nicolás Maduro. Os líderes classificaram as ações como “ilegais e clandestinas” e consideraram “inaceitável” que os países da América Latina sejam alvos de ações violentas, com o objetivo de desestabilizar governos, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus.

Segundo os integrantes do grupo, “esta é uma ação que rompe não apenas com a ordem constitucional da República Bolivariana da Venezuela, mas também com os princípios que regem o direito internacional público e as relações entre os países”. Os assinantes da carta argumentam que sanções econômicas e ações militares contra qualquer país devem ser devidamente aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Os membros do conjunto também afirmam que a incursão contra o governo da Venezuela tem ligação com a política externa dos Estados Unidos, na gestão do presidente Donald Trump. O chefe da Casa Branca, porém, nega seu envolvimento com a invasão.

“Em nossa opinião, essa tentativa não é um evento isolado. Faz parte de ações e medidas, que teriam sido coordenadas pelo Departamento de Estado dos EUA, que buscam aumentar a pressão sobre o governo venezuelano, para provocar uma mudança de regime pela força, contrariamente à ordem constitucional daquele país e à ordem jurídica internacional”, escrevem os assinantes da carta.

O Grupo de Puebla pede que as forças democráticas da região se comprometam a “apoiar o diálogo democrático e a solução pacífica do conflito na Venezuela”. Além disso, exige que os Estados Unidos retirem os bloqueios econômicos contra o país, punição que dificulta a obtenção de produtos como remédios e peças de máquinas.

O governo do presidente Jair Bolsonaro também é citado na carta. Os integrantes do coletivo rejeitaram a expulsão de diplomatas venezuelanos do Brasil em meio à pandemia, ação considerada “incompatível” com o direito internacional e o direito humanitário.

“Enviamos nossa solidariedade irrestrita ao povo da Venezuela, o único ator político que tem legitimidade para decidir, de maneira pacífica de democrática, a direção dessa grande nação”, escrevem.

Nas redes sociais, Dilma Rousseff divulgou a carta na íntegra e afirmou que “a Venezuela é alvo de um bloqueio genocida contra o seu povo”. Ela acusou ainda o governo Bolsonaro de apoiar “uma escalada de agressões à Venezuela liderada por Trump”.

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