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EUA registram 1ª greve simultânea contra as principais montadoras do País; entenda as causas e consequências

Entidade que representa quase 150 mil trabalhadores exige aumento de salários e melhores condições de trabalho nas montadoras General Motors, Ford e Stellantis

Trabalhadores da indústria automobilística dos EUA fazem greve contra as três principais montadoras do país. - Foto: GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP
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Pela primeira vez, trabalhadores das três principais montadoras de veículos dos Estados Unidos (General Motors, Ford e Stellantis, controladora da Chrysler) resolveram fazer uma greve simultânea. A paralisação, que deve interromper a produção de cerca de 24 mil veículos por semana, foi anunciada por Shawn Fain, presidente do United Auto Workers (UAW, o sindicato automotivo norte-americano), nesta sexta-feira 15.

Há meses, a entidade vem tentando negociar com as montadoras a elaboração de novos acordos coletivos, com validade de quatro anos. Em termos de reajuste salarial, o UAW exige um aumento de 36% no período, enquanto as três montadoras se recusam a pagar um reajuste superior a 20%.

Além disso, os sindicatos querem garantias específicas para que os trabalhadores das montadoras tenham estabilidade no trabalho diante do processo global de transição para a produção de veículos elétricos. A transição é defendida pelo governo do presidente Joe Biden, enquanto deverá ser uma realidade, também nos países da União Europeia (UE).

Outros pontos em que os sindicatos e as montadoras não chegaram a um acordo dizem respeito à concessão de dias de férias adicionais e ao aumento de pensões. Como os dois benefícios não constam em legislação nos Estados Unidos, os pagamentos são feitos por meio de fundos específicos que algumas empresas, como as três montadoras, possuem.

Hoje, o UAW paralisou três fábricas importantes das montadoras: em Wentzville, Missouri (da General Motors); em Wayne, Michigan (da Ford); e em Toledo, Ohio (da Stellantis). As paralisações podem ser estendidas a outras fábricas. 

Mesmo com ano lucrativo, montadoras não pagam benefícios

O sindicato, que possui quase 150 mil trabalhadores associados, planeja pagar aos trabalhadores em greve 500 dólares por semana. O valor sairá de um fundo de greve de 850 milhões de dólares que o sindicato possui. Do total de trabalhadores do UAW, cerca de 12.700 não estão trabalhando hoje, segundo estimativas da associação.

“Esta empresa vem ganhando dinheiro graças ao nosso trabalho”, disse Paul Sievert, que trabalha na fábrica da Ford em Wayne há 29 anos. “Acho que é hora de recebermos algo em troca”, afirmou, segundo informações da AFP.

A Stellatis, a Ford e a General Motors vêm tendo um ano lucrativo. Fabricante de marcas como Jeep e Dodge, a Stallantis obteve um lucro de 11,6 bilhões de dólares no primeiro semestre de 2023, o que representa um aumento de 37% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a companhia. Nos primeiros seis meses do ano, houve um aumento de 24% nas vendas de veículos elétricos.

Já a Ford relatou ao mercado um lucro de 3,7 bilhões de dólares no primeiro semestre. O valor inverteu o prejuízo de 2,4 bilhões de dólares no mesmo período do ano passado. Já a receita da montadora cresceu 16% no período.

A General Motors, por sua vez, informou que obteve um lucro de 5 bilhões de dólares no primeiro semestre deste ano. A cifra é superior aos 4,6 bilhões de dólares do mesmo período de 2022. Já a receita da GM cresceu 18% no primeiro semestre de 2022, na mesma comparação.

Greve poderá impactar economia e politica

Em um plano mais amplo, a greve iniciada hoje poderá trazer consequências não apenas às montadoras, mas à economia dos EUA. Tudo isso em um ano-chave para as pretensões de Joe Biden de se reeleger no ano que vem. 

Não é de hoje que Biden vem defendendo uma pauta semelhante àquela levantada pelos sindicalistas da indústria automotiva. O presidente já fez declarações públicas em defesa de um aumento de salário para a classe média do país.

“Você tem a reconstrução da classe média e a construção das coisas novamente”, disse Eddie Vale, um estrategista do Partido Democrata, à imprensa norte-americana. “Se não for tratado corretamente, existem riscos políticos e políticos”, disse Vale, embora tenha acrescentado: “No final, Biden será capaz de desempenhar aqui um papel de corretor honesto”. Vale destacar que Biden não tem, legalmente, o poder de interferir na greve deflagrada hoje.

Em termos econômicos, caso todos os trabalhadores do UAW paralisem as suas atividades por um mês, a produção de automóveis dos EUA poderá ser reduzida em um terço, segundo dados da Oxford Economics.

O que dizem as montadoras

Na manhã de hoje, a executiva-chefe da General Motors, Mary Barra, se disse “extremamente frustrada e decepcionada”. Ela afirmou que a empresa pretende “colocar uma oferta histórica sobre a mesa”, o que poderia envolver aumentos salariais acima dos 20%, com mais mais segurança no emprego e cuidados com a saúde dos trabalhadores.

Já a Stellantis soltou um comunicado em que diz que colocará imediatamente a empresa “em modo de contingência”, prometendo que tomará “todas as decisões estruturais apropriadas para proteger as operações na América do Norte”. 

A Ford, por sua vez, foi mais dura com os sindicalistas. Segundo a empresa, os termos propostos pelo UAW são insustentáveis. “A Ford continua absolutamente empenhada em alcançar um acordo que recompense os seus funcionários e proteja a capacidade da Ford de investir no futuro à medida que avançamos na transformação de toda a indústria”, disse a companhia.

(Com informações de AFP)

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