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Em nova rodada de negociações, Ucrânia pedirá cessar-fogo e retirada de tropas russas

Mykhaïlo Podoliak, negociador e conselheiro do presidente ucraniano, publicou no Twitter que Moscou parou de dar “ultimatos” a Kiev e começou a “ouvir atentamente propostas”

Encontro entre os Dmytro Kuleba, chanceler da Ucrânia, e Sergei Lavrov, chanceler russo, no sul da Turquia.  Foto: CEM OZDEL / TURKISH FOREIGN MINISTRY / AFP
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Os negociadores russos e ucranianos iniciaram novas negociações nesta segunda-feira (14) sobre o conflito que já dura 19 dias. Os últimos os ataques se estenderam ao oeste da Ucrânia e um foguete atingiu um imóvel em Kiev nesta segunda, deixando pelo menos dois morto e três feridos.

A Ucrânia tentará negociar um cessar-fogo e a retirada das tropas russas nesta segunda-feira, em meio ao agravamento do conflito. “Nossa posição não mudou: queremos paz, um cessar-fogo imediato e a retirada de todas as tropas russas. Só depois disso poderemos conversar sobre questões políticas”, disse Mykhaïlo Podoliak, negociador e conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, em um vídeo publicado no Twitter.

O tom da delegação russa é otimista. “Se compararmos a posição das duas delegações entre o início das negociações e agora, notamos um progresso significativo”, disse Leonid Slutski, membro da delegação do país que se reuniu recentemente com negociadores ucranianos em Belarus. “Minha expectativa pessoal é que esse progresso leve muito em breve a uma posição comum entre as duas delegações e à assinatura de documentos”, disse ele, segundo agências de notícias russas.

As negociações entre a Ucrânia e a Rússia por videoconferência foram confirmadas pelo Kremlin neste domingo (13), de acordo autoridades ucranianas. A informação foi confirmada por Mykhailo Podoliak, negociador e assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Em uma mensagem no Twitter, ele explicou que, nesta segunda, será feito “um balanço dos avanços feitos nas reuniões precedentes”.

As três rodadas anteriores de negociações entre Rússia e Ucrânia em Belarus se concentraram principalmente em questões humanitárias, como a abertura de corredores para a retirada de civis. Na quinta-feira (10), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e seu colega ucraniano, Dmytro Kuleba, concluíram mais uma rodada de discussões na Turquia, sem grandes avanços. Ambos prometeram manter o diálogo.

Neste domingo, Podoliak havia publicado no Twitter que Moscou parou de dar “ultimatos” a Kiev e começou a “ouvir atentamente nossas propostas”. Zelensky disse no sábado que Moscou adotou uma abordagem “diferente” para as negociações. O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou na sexta-feira que tinha visto um “progresso positivo” nos diálogos.

Rússia expande alvos

A Rússia expandiu seus alvos militares na Ucrânia neste domingo (13) com ataques a uma base militar perto da fronteira polonesa. Mais de 2.000 civis já foram mortos em Mariupol, uma das cidades sitiadas pelo exército russo. As forças de Moscou atacaram a base militar de Yavoriv, a cerca de 40 quilômetros de Lviv, destino de milhares de deslocados internos, e a cerca de 20 quilômetros da fronteira com a Polônia, membro da Otan.

Os bombardeios, realizados a partir dos mares Negro e de Azov, deixaram 35 mortos e 134 feridos, segundo o governador da região, Maxim Kozitsky. “Como resultado do ataque, até 180 mercenários estrangeiros e um grande número de armas estrangeiras foram eliminados”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.

Nesse contexto, o presidente ucraniano voltou a pedir à Otan uma zona de exclusão aérea sobre seu país. “Se não fecharem nossos céus, é só questão de tempo para que os foguetes russos caiam sobre o seu território, sobre o território da Otan”, disse Zelensky, em discurso em vídeo.

“Pior cenário” em Mariupol

Em Mariupol, cidade portuária sitiada há 13 dias, moradores cercados e sob bombardeios ainda aguardavam a chegada da ajuda humanitária. Os invasores “atacam edifícios residenciais, áreas densamente povoadas, destroem hospitais infantis e a infraestrutura urbana. Até hoje, 2.187 habitantes de Mariupol morreram em ataques russos”, disse o prefeito da cidade no Telegram neste domingo.

“Em 24 horas, vimos 22 bombardeios em uma cidade pacífica. Cerca de 100 bombas já foram lançadas em Mariupol”, completou. Enquanto isso, um comboio com ajuda humanitária estava “a duas horas de Mariupol, a 80 km”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no domingo.

Vindo de Zaporizhzhia, o comboio foi bloqueado em um posto de controle russo por mais de cinco horas no sábado. A chegada de ajuda é fundamental: “o sofrimento humano é imenso” na cidade, denunciou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Em comunicado, a ONG lembrou que a população é obrigada a se refugiar em abrigos antiaéreos sem aquecimento e arriscar a vida para encontrar comida e água. Mariupol “tornou-se uma cidade mártir na dolorosa guerra que está devastando a Ucrânia”, lamentou o Papa Francisco, que pediu o fim do “massacre”.

Nesta cidade, foi registrado em 9 de março o bombardeio de um hospital pediátrico, no qual três pessoas morreram. Este tipo de ataques contra pessoal e infraestruturas sanitárias deve cessar imediatamente por ser de uma “crueldade inadmissível”, exigiu a ONU neste domingo.

Jornalista morto

Em Irpin, subúrbio do noroeste de Kiev, onde as forças ucranianas lutam contra os militares russos, o jornalista norte-americano Brent Renaud, de 50 anos, foi morto, e outro repórter e um civil ucraniano ficaram feridos.

Kiev, onde apenas as estradas ao sul permanecem livres, é “uma cidade sitiada”, escreveu no Twitter Mykhailo Podoliak, um dos assessores do presidente ucraniano. Os subúrbios do noroeste da capital (Irpin e Bucha) têm sido intensamente bombardeados nos últimos dias.

Bucha já está nas mãos de soldados russos. No sul, Odessa continua se preparando para uma ofensiva das tropas russas, que atualmente estão concentradas em Mykolaiv, cerca de 100 km a leste.

Mais de 2,7 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da guerra, aos quais se somaram cerca de dois milhões de deslocados internos, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Nas últimas 24 horas, quase 100 mil pessoas fugiram dos combates, informou a ONU neste domingo. Em um vídeo postado em suas redes sociais, Zelensky assegurou que foram evacuadas “125 mil pessoas para regiões seguras através de corredores humanitários”.

Instagram é bloqueado na Rússia

Segundo o Unicef, desde o começo da guerra foram registrados 31 ataques contra serviços de assistência sanitária, que deixaram “ao menos 12 mortos e 34 feridos”. A organização alertou para o risco de “colapso” do sistema sanitário. Neste domingo, uma autoridade policial ucraniana da região de Lugansk, no leste, acusou Moscou de bombardear sua cidade com bombas de fósforo. A informação não pôde ser verificada.

Na Rússia, onde as manifestações estão proibidas, mais de 800 pessoas foram detidas por protestar contra a ofensiva, segundo a ONG OVD-Info. A Rússia também decidiu bloquear o Instagram desde a manhã desta segunda. O país acusa a rede de incitar a violência contra sua população, que agora está na lista de sites com acesso restrito publicada pela agência reguladora Roskomnador. Facebook, Twitter e outras mídias que criticam o governo russo já haviam sido bloqueadas.

(Com informações da AFP)

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