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Eleição nos EUA: Gestão da pandemia domina debate entre candidatos a vice

‘O presidente disse que era um engano. Minimizaram a seriedade’, acusou Kamala Harris

Foto: Robyn Beck, Eric BARADAT / AFP Foto: Robyn Beck, Eric BARADAT / AFP
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Os candidatos à vice-presidência americana, o republicano Mike Pence e a democrata Kamala Harris, discordaram nesta quarta-feira 7 sobre a gestão da pandemia em seu primeiro e único debate, em um encontro que ganhou mais relevância após a infecção do presidente Donald Trump pelo novo coronavírus.

A Covid-19, tema central das eleições de 3 de novembro, provocou em sete meses a morte de mais de 210.000 americanos e infectou mais de 7,5 milhões, incluindo o próprio Trump, que se recupera na Casa Branca depois de passar o fim de semana hospitalizado.

“O povo americano foi testemunha do maior fracasso de qualquer administração presidencial na história de nosso país”, afirmou duramente a senadora democrata, ao questionar a resposta da administração Trump durante um debate exibido na televisão e que teve distanciamento físico, com direito a barreiras de acrílico para evitar contágios.

A doença do presidente, de 74 anos, somada às preocupações sobre o estado físico e a idade de seu rival, Joe Biden, três anos mais velho, aumentou o interesse pelo debate entre os vices, que aconteceu em Salt Lake City, Utah.

O tema colocou Pence – que encabeça desde fevereiro o grupo responsável pelo combate à Covid-19 – em uma posição incômoda, já que, além do avanço da pandemia pelo país, a administração Trump enfrenta um surto da doença dentro da Casa Branca.

Pence, de 61 anos, acusou os democratas de “plagiar” seu plano de luta contra o novo coronavírus, referência a uma controvérsia que afundou a primeira campanha presidencial de Biden em 1988. Em seguida, acusou Harris de “minar a confiança” dos americanos na possível descoberta de uma vacina durante o mandato de Trump.

“Pare de brincar de política com a vida das pessoas”, pediu Pence, vestido com a tradicional gravata vermelha dos republicanos.

Harris, uma ex-procuradora de 55 anos habituada a fazer perguntas inquisitivas, acusou Trump de “sacrificar” os trabalhadores da saúde e atacou a Casa Branca por não atuar rapidamente, apesar de ter conhecimento dos riscos da Covid-19.

“O presidente disse que era um engano. Minimizaram a seriedade”, disse.

A senadora da Califórnia, de pai jamaicano e mãe indiana, poderá se tornar a primeira mulher a ocupar a vice-presidência dos Estados Unidos em caso de vitória de Biden nas eleições de novembro.

Desemprego, impostos e raça

A grave crise econômica induzida pela pandemia também foi tema do debate. A recessão pulverizou o mercado de trabalho e aumentou o desemprego, acabando com um dos melhores argumentos a favor da gestão Trump: uma taxa de desemprego que chegou ao nível mínimo de 3,5%, mas que agora está em 7,9%.

“Há estimativas de que até o final deste governo haverá mais perdas de empregos do que em qualquer outro governo”, disse Harris, que participou do debate vestida de preto e com um discreto colar de pérolas.

Pence rebateu duramente Harris: “A senadora tem direito a sua opinião, mas não a seus próprios fatos”. O atual vice-presidente também reforçou o temor de um aumento dos impostos, de mais regulamentações, da proibição da extração de petróleo e do fim da indústria da energia fóssil caso Biden seja eleito.

Pence, um cristão evangélico tradicional que costuma zelar por um perfil discreto, foi ao debate com a intenção de defender arduamente o governo Trump.

Uma das discussões mais fortes aconteceu durante o tema justiça racial, em meio à onda nacional de protestos contra a brutalidade policial contra os negros.

Pence acusou Biden de acreditar que a polícia tinha um “viés” em relação às minorias, algo que ele chamou de “grande insulto” aos agentes. Harris lembrou que Trump disse que havia “pessoas muito boas” entre os neonazistas em uma marcha em Charlottesville, Virgínia, que terminou em atos de violência.

Embora Pence e Harris tenham discordado em muitas questões, o tom civilizado do debate em Salt Lake City apresentou um forte contraste com o tenso confronto verbal da semana passada entre Trump e Biden em Cleveland, repleto de interrupções e insultos.

Trump de volta ao Salão Oval

Trump voltou à Casa Branca na segunda-feira após três dias hospitalizado devido à covid-19. Segundo o médico presidencial, o mandatário está sem sintomas e não tem febre há quatro dias.

Na quarta-feira, ignorando os alertas sobre os riscos de contágios, Trump foi trabalhar no Salão Oval e afirmou sentir-se “perfeitamente bem”.

O comportamento de Trump é especialmente criticado pelos democratas. Quando estava hospitalizado, o presidente foi saudar seus seguidores e, ao voltar à Casa Branca, retirou a máscara.

No outro lado da disputa está Biden, que respeita todos os conselhos dos especialistas e que manteve durante meses os deslocamentos ao mínimo. De acordo com o adversário, o candidato democrata usa a pandemia para evitar tanto os eleitores quanto os jornalistas.

Apresentando-se como o unificador de um país dividido, Biden lidera há meses as pesquisas eleitorais e aumentou a vantagem sobre Trump após o caótico debate presidencial de 29 de setembro.

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