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Egito diz que retirada de estrangeiros de Gaza, incluindo brasileiros, não é segura no momento

A fronteira começou a ser aberta no sábado, porém apenas para a passagem de caminhões com ajuda humanitária

Militares do Egito fazem a segurança da fronteira entre Egito e a Faixa de Gaza. Foto: Kerolos SALAH / AFP
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Embaixadas de 45 países – entre eles o Brasil – ainda tentam resgatar seus cidadãos da Faixa de Gaza através da única saída possível: Rafah, fronteira com o norte do Egito. Em uma coletiva de imprensa com dezenas de jornalistas locais e internacionais, no Cairo, ao ser questionado pela RFI sobre a retirada dos cerca de 30 brasileiros que ainda estão no sul de Gaza, o chefe do Serviço de informação do Estado (correspondente à Abin, porém com estatuto de ministério), Diaa Rashwan, disse que a retirada de todos os estrangeiros ainda não é segura.

A estrada que, do lado de Gaza, dá acesso à fronteira foi bombardeada por Israel, que também estaria ameaçando palestinos que possam ajudar na retirada desses estrangeiros.

O Brasil já tem um ônibus reservado para trazer os seus cidadãos para a capital egípcia, onde um avião da Presidência da República aguarda para levá-los de volta ao Brasil. Mas a operação só será possível quando conseguirem cruzar a fronteira. A reportagem ainda não conseguiu permissão das autoridades egípcias para ir até o norte do país, assim como outros jornalistas internacionais. O embaixador do Brasil no Cairo, Paulino Franco, tentou chegar recentemente até a região de carro, mas não conseguiu completar a viagem. Foi impedido pelos bloqueios das forças de segurança e teve que voltar para a capital.

A fronteira começou a ser aberta no sábado, porém apenas para a passagem de caminhões com ajuda humanitária. Mais de 50 caminhões conseguiram levar algumas dessas doações para Gaza. Já foram entregues 475 toneladas de medicamentos, 251 toneladas de alimentos e 78 toneladas de água. Cerca de 200 outros caminhões ainda aguardam perto da fronteira autorização para passar. A abertura é uma decisão de comum acordo e precisa ter a garantia israelense de que os caminhões não serão bombardeados se chegarem até Gaza. Quase 40 aviões pousaram no Egito trazendo ajuda humanitária de diferentes países e organizações. Estes números foram divulgados pelo representante do Egito na coletiva.

Diaa Rashwan criticou ataques a civis dos dois lados, mas demonstrou claro apoio egípcio aos palestinos ao falar de décadas de opressão e afirmar que o governo do Egito apoia os palestinos na defesa dos próprios direitos. Ao falar de pessoas que estão abrigadas em hospitais, igrejas e escolas, ele lembrou que esses locais ainda não estão seguros. “A continuação da violência é que impede o encontro de uma solução”, afirmou. Na ocasião, ele também destacou que o Egito nunca apoia o terrorismo, mas reconhece que todo mundo tem o direito de defender sua liberdade. “A solução apoiada pelo Egito será a Solução de dois Estados”, ressaltou, se referindo ao projeto de criação dos Estados de Israel e da Palestina, assim como a coexistência pacífica dos dois, encerrando disputas por soberania regional. Ele também defendeu na coletiva a libertação de reféns. Como resultado da mediação do Egito e do Qatar, o Hamas disse no início desta semana que seu braço armado libertou duas israelenses (de cerca de 200 reféns) mantidas em cativeiro: Yocheved Lifshitz e Nurit Cooper.

A cobertura da “mídia ocidental” também foi criticada pelo chefe do Serviço de Informação egípcio. Ele lembrou que há jornalistas estrangeiros em Israel, mas não em território palestino para mostrar diretamente as consequências dos ataques israelenses. Em resposta, jornalistas estrangeiros que participaram da coletiva destacaram a burocracia para se obter permissões de circulação para fazer uma cobertura mais equilibrada e pediram ajuda ao Egito para garantir acesso à Faixa de Gaza através da fronteira de Rafah.

O discurso sobre o receio de que este conflito se espalhe pela região vem sendo reproduzido por diferentes autoridades e, preocupando cada vez mais governos que, até agora, não estão diretamente envolvidos na guerra entre Israel e Hamas. Isso foi um dos temas de uma conversa por telefone essa semana entre os ministros das Relações Exteriores egípcio, Sameh Shoukry, e iraniano, Hossein Abdollahian. O tema também esteve na pauta do encontro entre os presidentes do Egito, Abdel-Fattah El-Sisi, e da França, Emmanuel Macron. Ambos disseram que é preciso um esforço para que a violência não se espalhe pela região. “Um deslocamento dos palestinos em Gaza para fora das suas terras complicaria as perspectivas da solução de dois Estados para resolver o conflito”, declarou Sisi. Macron anunciou ainda que a França enviará um navio para apoiar os hospitais em Gaza. O presidente da França também se reuniu recentemente com o presidente israelense, Izaac Herzog, com o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, em Israel, e com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na Cisjordânia.

Reações africanas

Nesta quinta-feira, 19 dias depois do início dos ataques, o conflito será discutido pela Assembleia Geral da ONU, da qual quase um terço é formado por países africanos. Aparentemente o continente está dividido em se tratando de apoiar um dos lados. Nem todos os governos se manifestaram publicamente sobre essa guerra. As mensagens mais divulgadas falam quase sempre em busca de diálogo, fim dos ataques aos civis e paz. Mas há uma tendência no continente a se apoiar a causa palestina. A delegação de Israel chegou a ser expulsa da cúpula da União Africana este ano.

A Argélia condenou veementemente os ataques das forças de ocupação israelenses na Faixa de Gaza. A Tunísia declarou solidariedade “total e incondicional” ao povo palestino. Pediu ainda que a comunidade internacional busque o fim aos “ataques bárbaros” de Israel contra os palestinos. O Marrocos se mostrou preocupado com a eclosão de operações militares na Faixa de Gaza e condenou “os ataques contra civis onde quer que estejam”. A África do Sul também demonstrou preocupação com a escalada devastadora no conflito e apela à cessação imediata da violência. Nas ruas de algumas cidades sul-africanas houve recentemente protestos em apoio à Palestina.

A República Democrática do Congo expressou solidariedade com o povo israelita e deixou claro que o país africano e Israel estão do mesmo lado no combate ao terrorismo em todas as suas formas. O Quênia também disse que se solidariza com o Estado de Israel e condena o terrorismo e os ataques a civis inocentes no país.

A maioria dos países africanos age com cautela. Nem todos que apoiam a Palestina querem comprar briga com Israel, que investe no continente. Por isso, alguns governos assumiram até agora uma posição mais neutra.

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