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Cresce o medo de escalada da guerra em Gaza após explosões no Irã e morte de nº 2 do Hamas no Líbano

O conflito intensificou as tensões com grupos pró-Irã em Líbano, Iraque, Síria e Iêmen

Registro de ataque israelense a Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 3 de janeiro de 2024. Foto: AFP
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Os temores de uma extensão regional do conflito entre Israel e Hamas se multiplicaram nesta quarta-feira 3, após a dupla explosão que deixou mais de 100 mortos no Irã e a morte, na véspera, do número dois do movimento islamista palestino no Líbano.

Pelo menos 103 pessoas morreram nesta quarta no Irã em um ataque classificado pelas autoridades do país como um “atentado terrorista”, perto do túmulo do general Qasem Soleimani, assassinado por um drone americano em 2020.

As explosões ocorreram perto da mesquita Saheb al Zaman, na cidade de Kerman (sul), enquanto uma multidão homenageava o general no quarto aniversário de sua morte.

Soleimani era encarregado das operações exteriores dos Guardiães da Revolução, o exército ideológico do Irã.

As bombas explodiram em um momento de grande tensão no Oriente Médio, um dia após o número dois do Hamas, Saleh al Aruri, aliado do Irã, morrer em um ataque com drone em Beirute, que as autoridades libanesas atribuíram a Israel.

Na terça-feira, o porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, afirmou que o Exército de Israel está “em estado de alerta muito elevado” e preparado “para qualquer cenário”.

Israel e Irã têm relações tensas há muito tempo. O início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza intensificou as tensões com grupos pró-Irã em Líbano, Iraque, Síria e Iêmen.

Os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro deixaram cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais israelenses. Entre os mortos, havia mais de 300 militares.

Os combatentes também fizeram cerca de 250 reféns, dos quais 129 permanecem em cativeiro, segundo as autoridades israelenses.

Após o ataque, Israel lançou um bombardeio implacável e uma ofensiva terrestre que deixaram pelo menos 22.313 mortos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

“Risco significativo de escalada”

Um movimento “cujos líderes e fundadores caem como mártires pela dignidade do nosso povo e nossa nação nunca sera vencido”, afirmou o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, após a morte de Aruri em Beirute.

Israel, Estados Unidos e União Europeia consideram o grupo islamista uma organização “terrorista”.

No Líbano, o movimento xiita Hezbollah jurou vingança e classificou o assassinato como “um grave ataque contra o Líbano e um grave acontecimento na guerra entre o inimigo e o eixo de resistência”, expressão usada para se referir ao Irã e a seus aliados regionais hostis a Israel.

“Este crime não ficará sem resposta, nem impune”, acrescentou o Hezbollah, cujo secretário-geral, Hassan Nasrallah, deve fazer um discurso nesta quarta-feira.

Já o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou que a morte “procura arrastar o Líbano” para a guerra.

Segundo a especialista Maha Yahya, diretora do Carnegie Middle East Center, com sede em Beirute, “o risco de escalada é significativo, mas o Hezbollah se esforça para evitar ser arrastado para um conflito”.

Os enfrentamentos entre Israel o grupo islamista libanês se intensificaram na fronteira entre os dois países, mas é a primeira vez desde o início do conflito que um bombardeio atinge o sul da capital do Líbano.

O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohamed Shtayyeh, advertiu para “riscos e consequências” do assassinato.

Greve geral em Nablus e Ramallah

Israel anunciou a morte de outros comandantes e oficiais do Hamas em Gaza, mas Aruri é o mais importante até agora.

Diante do ocorrido, inúmeros palestinos protestaram nas ruas de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.

“A notícia da morte [de Saleh Al Aruri] é muito difícil para nós, mas ele não vale mais do que aqueles que morreram como mártires em Gaza, que são mais de 20 mil”, disse a jovem Diya Zalum à AFP.

Tanto Nablus quanto Ramallah paralisaram suas atividades nesta quarta, em resposta a um apelo feito pela Autoridade Palestina para a realização de uma greve geral.

Em Arura, uma pequena aldeia ao norte de Ramallah, onde Aruri nasceu, a bandeira verde do Hamas tremulava sobre a casa de sua família.

Em Gaza, os ataques a Khan Yunis continuaram na manhã desta quarta, causando “inúmeras” mortes, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

O conflito desencadeou uma grave crise humanitária em Gaza, cujos 2,4 milhões de habitantes vivem sitiados e, em sua maioria, deslocados e em acampamentos improvisados e superlotados.

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