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Corte na produção da Arábia Saudita entra no radar da nova política de preços da Petrobras

Para pesquisadora do Ineep, caso o preço do barril internacional suba de forma significativa, o País terá a primeira oportunidade de medir a capacidade pós-PPI

Foto: iStockphoto e Agência Petrobras
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A Arábia Saudita anunciou no domingo 4 o corte de um milhão de barris por dia na produção de petróleo, a partir de julho. O comunicado marcou o dia da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP, em Viena, na Áustria. 

Segundo o ministro de Energia saudita, Abdel Aziz Bin Salman, a redução “pode ser estendida”. Esse não foi, porém, o primeiro corte expressivo na produção mundial de petróleo. Em outubro do ano passado, a OPEP+ (que inclui países como Rússia e Venezuela) divulgou a queda de dois milhões de barris diários. Outro anúncio no mesmo tom, desta vez com cortes de 1,16 milhão de barris diários, ocorreu em abril.

As reduções tinham como objetivo controlar o preço internacional dos barris. Na manhã desta segunda-feira 5, os contratos futuros do petróleo Brent, referência no mercado, subiam na casa de 1%, a 77,1 dólares.

Movimentações no mercado global de petróleo afetaram de maneira mais direta, nos últimos anos, a situação no Brasil. Desde 2016, vigorou na Petrobras uma política de preços baseada na paridade internacional. A estatal, sob a gestão de Jean Paul Prates, anunciou em maio o fim do PPI, visando, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “abrasileirar” os preços.

De acordo com o comunicado da Petrobras, a nova estratégia se baseia em dois elementos principais: o “custo alternativo ao cliente” (ou seja, aquilo que a concorrência pratica) e o “valor marginal para a Petrobras” (ou o custo de oportunidade referente a produção, importação e exportação).

A expectativa da Petrobras é evitar que as volatilidades no câmbio sejam repassadas diretamente ao consumidor brasileiro. Entretanto, a companhia pontuou que não pretende abandonar por completo “as referências de mercado”.

O corte anunciado pela Arábia Saudita é o primeiro em grande escala após a mudança nas políticas de preços da Petrobras. Para entender as expectativas sobre os impactos da medida na estatal, CartaCapital conversou com Carla Borges Ferreira, pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

Para a especialista, o corte na produção pode ser “o primeiro movimento para se entender no que consiste a nova política de preços da Petrobras”. Segundo ela, a intenção da estatal é retirar o preço internacional como a única referência para os combustíveis no País, mas isso não vai evitar que os “preços internacionais se mantenham em cena”. 

“A questão é que o acompanhamento deverá se dar de maneira mais suave que o PPI. A política pretende ser menos volátil, mas não abandona, de todo, o preço internacional como referência”, explica. De acordo com Ferreira, desde que a política foi anunciada não houve um teste de efeito no que se refere às variações internacionais, uma vez que as alterações têm sido suaves.

“Entretanto, se o impacto do corte da Arábia Saudita no preço internacional for relevante, a gente vai ter a primeira experiência que nos permite saber como a Petrobras vai trabalhar o impacto no Brasil.”

Ferreira observa que o Brasil vem mantendo a sua condição de autossuficiência em petróleo, o que protege o País da volatilidade no exterior. “Temos uma das dez maiores produções de petróleo do mundo, a dependência dos derivados não é majoritária e, no pré-sal, por exemplo, o Brasil extrai petróleo a custos muito baixos”, prossegue. “A partir dessas premissas, a Petrobras pode evitar ficar refém das mudanças nos preços.”

Para a especialista, a mudança na política de preços poderá evitar o cenário registrado nos últimos anos: o fato de a Petrobras ter reduzido os seus investimentos e distribuído altos valores em dividendos. 

“Como o preço do petróleo subiu bastante nos últimos anos no mercado internacional, isso proporcionou lucros recordes para a estatal, fazendo com que a Petrobras atingisse recordes na distribuição de dividendos“, argumentou. A nova política, segundo Ferreira, poderá ser configurada sem que a empresa enfrente prejuízos. Porém, “poderá ter a necessidade de redução do lucro”.

“São coisas diferentes. Isso pode permitir à Petrobras ampliar a sua função social, uma vez que, nos últimos anos, ela atuou, basicamente, como uma empresa de acionistas.”

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