Economia

Opep+ decide reduzir em 2 milhões de barris diários sua produção de petróleo

Pouco depois do anúncio do corte, o presidente do EUA, Joe Biden, reagiu e disse estar ‘decepcionado’ com a decisão

Foto: VLADIMIR SIMICEK / AFP
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A Opep+ deu um duro golpe ao decidir, nesta quarta-feira (5), reduzir drasticamente em dois milhões de barris diários suas cotas de produção de petróleo para manter os preços do hidrocarboneto, uma medida “decepcionante” segundo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Em sua primeira reunião presencial desde o início da pandemia, em março de 2020, os 13 integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderados pela Arábia Saudita, e seus dez sócios, encabeçados pela Rússia, aprovaram uma redução em sua produção de “dois milhões” de barris diários a partir de novembro, anunciou a aliança em um comunicado.

Pouco depois do anúncio do corte, o presidente americano reagiu. Biden está “decepcionado” com a decisão da Opep+” de reduzir drasticamente sua produção, indicou a Casa Branca em um momento em que tenta conter a escalada dos preços.

Os Estados Unidos anunciaram que “vão consultar o Congresso sobre os instrumentos e mecanismos adicionais que permitam reduzir o controle [da Opep] sobre os preços da energia”.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, declarou mais tarde que com esta decisão “a Opep+ se alinha com a Rússia“.

Biden enfrenta no próximo mês as eleições de meio de mandato e há meses luta contra uma inflação insistente que o mobilizou até a Arábia Saudita em julho para tentar influenciar a política de Riade, uma visita muito polêmica.

“Proativo”

“É a redução mais importante desde o início da pandemia”, reagiu em uma nota Srijan Katyal, da corretora ADSS.

Certamente, a decisão levará a uma “disparada dos preços”, acrescentou, contrariando, assim, os esforços dos Estados Unidos e do Ocidente de frear a explosão dos custos de energia, que alimentam a inflação e prejudicam o crescimento mundial.

A decisão da Opep+ também acontece “justo no momento em que os consumidores começavam a respirar aliviados”, pois os preços haviam retrocedido com força desde junho, lembrou em uma nota o analista de mercado Craig Erlam, da Oanda.

Efetivamente, os dois indicadores de referência mundial do petróleo – Brent e WTI – perderam força desde então, girando em torno de 90 dólares o barril, um valor distante dos máximos alcançados em março, no início da guerra na Ucrânia, quando os preços chegaram a 140 dólares o barril.

Nesta quarta-feira, por volta de 14H20 (horário de Brasília), o Brent era cotado em torno de 93 dólares o barril, enquanto o WTI girava em torno de 88 dólares.

Já em setembro, o grupo reduziu ligeiramente sua cota produtora em 100.000 barris e se mostrou aberto a ir além.

Frente às críticas pelo impacto para os consumidores, o ministro saudita de Energia, Abdel Aziz bin Salman citou as “diversas incertezas” em torno da economia mundial.  Em várias ocasiões ele destacou a necessidade de ser “proativo” para “estabilizar o mercado”.

“Temos que ouvir a equipe técnica, olhar para o mercado e tomar uma decisão em função disso”, disse o ministro emiradense, Suhail Mohammed al Mazrouei, aos jornalistas na entrada de seu hotel na terça-feira.

Agora, com esta decisão, os membros da Opep+ querem “se antecipar a uma eventual recessão graças a medidas proativas”, explicou Bjarne Schieldrop, do grupo Seb. “Isso os permitiria evitar um eventual acúmulo de reservas e, portanto, preços baixos de petróleo”.

Boas notícias para a Rússia

Esta decisão favorece a Rússia e lhe permite aumentar sua receita às vésperas da entrada em vigor, em dezembro, de um embargo europeu às importações do petróleo de Moscou.

O vice-primeiro-ministro russo encarregado da Energia, Alexander Novak, criticou nesta quarta-feira a política europeia de sanções.

O funcionário censurou qualquer limite de preço que se imponha ao petróleo russo, uma medida que a UE considera devido à “violação dos mecanismos do mercado” que poderia ter um efeito “muito nefasto” na indústria mundial.

Novak evocou a possibilidade de que haja “escassez” e advertiu que as empresas russas “não forneceram petróleo a países que aderiram a este instrumento”, segundo declarações à televisão russa.

Esta redução da produção é a mais importante desde as reduções históricas de quase 10 milhões de barris diários no primeiro semestre de 2020 devido à queda abrupta da demanda de petróleo causada pela pandemia de covid.

A Opep, criada em 1960 com o objetivo de regular a produção e o preço do hidrocarboneto estabelecendo cotas de produção e exportação, foi ampliada em 2006 para incluir a Rússia e outros produtores, formando a Opep+.

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