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Com mais de 1,2 milhão nas ruas, França tem o maior protesto contra a Reforma da Previdência

A mobilização desta terça superou a de 31 de janeiro, até então considerada a maior mobilização contra as mudanças

Protesto contra a Reforma da Previdência em Paris, em 7 de março de 2023. Foto: Alain Jocard/AFP
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A França registrou, nesta terça-feira 7, o protesto mais expressivo contra a Reforma da Previdência impulsionada pelo presidente Emmanuel Macron, com 1,28 milhão de manifestantes, segundo o Ministério do Interior.

O sindicato CGT estimou, por sua vez, que 3,5 milhões de pessoas protestaram contra o projeto de adiar a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030. A mobilização superou a de 31 de janeiro, até então considerada a maior manifestação contra uma reforma social em três décadas no país.

Mais cedo, o porta-voz executivo do governo, Olivier Véran, afirmou que as paralisações podem acentuar “os riscos de uma catástrofe ecológica, agrícola, sanitária e até humanitária”. Por outro lado, os sindicatos se referem à mobilização com um “tsunami social”.

O que está  em jogo

Atualmente, a idade mínima para se aposentar na França é 62 anos. Pela proposta do governo francês, as mudanças incluem aumentar a idade mínima para 64 anos e ampliar o número de anos em que os trabalhadores devem contribuir para receber a aposentadoria completa. A ideia é que a mudança seja gradual, com um aumento de três meses por ano, começando em setembro e se tornando completa até 2030.

Além disso, a partir de 2027, os trabalhadores franceses passariam a fazer contribuições para a Previdência ao longo de 43 anos, em vez de 42, para receber uma pensão completa. No contexto europeu, a França destoa de países como Alemanha e Suécia em relação à taxa de emprego na população entre 60 e 64 anos. Enquanto nos dois países a taxa de emprego nessa faixa etária é de 61% e 69%, respectivamente, na França o índice é de 33%.

O governo francês sustenta que a mudança é necessária para que não aconteça um déficit no sistema previdenciário, o que faria com que “os jovens carregassem o ônus”. Atualmente, o texto está em análise no Senado. O Ministro do Trabalho francês, Olivier Dussopt, afirmou, no final de janeiro, que a aprovação da reforma poderá fazer com que a França economize 18 bilhões de euros até 2030.

A medida vem sendo rejeitada pela população francesa. Em 31 de janeiro, por exemplo, uma greve geral levou, segundo estimativa das centrais sindicais francesas, 2,5 milhões de pessoas às ruas. Conforme pesquisa realizada pelo Quantidade Crítica em fevereiro, 69% dos trabalhadores do país rejeitam a reforma. Além disso, 59% disseram que apoiam os movimentos de massas que ocorrem no país.

Segundo Frédéric Souillot, chefe da confederação sindical Force Ouvrière, os protestos vão continuar “até que a reforma seja retirada”. O jornal Libération, tradicionalmente ligado ao setor progressista da França, trouxe, em manchete de capa inteira nesta terça-feira 7, que hoje é “o primeiro dia do resto da greve”.

Histórico

Nas últimas décadas, todas as tentativas de reforma no sistema previdenciário francês enfrentaram resistência da população, com greves e mobilizações, assim como ampliaram o debate público sobre o tema no país.

Na década de 1980, o presidente socialista François Mitterrand estabeleceu que a idade mínima para aposentadoria seria de 60 anos. Àquela altura, o quadro era visto como representativo para os direitos sociais.

Desde então, oito tentativas de reformas aconteceram na França, envolvendo presidentes de esquerda, como François Hollande, e de direita, como Nicolas Sarkozy. Em 1995, uma proposta a exigir que trabalhadores do setor público contribuíssem por 40 anos (como era o caso do setor privado) enfrentou aquela que foi considerada a maior manifestação de massas desde o Maio de 1968, quando estudantes franceses paralisaram o país. Em 1995, diversos setores ficaram paralisados por três semanas, o que fez com que o governo abrisse mão da proposta de reforma.

(Com informações da AFP)

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