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Chefe da Otan rejeita anexação ‘ilegal e ilegítima’ de regiões da Ucrânia

Vladimir Putin assinou nesta sexta a anexação formal dos territórios de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e Kherson e Zaporizhzhia, no sul

O presidente da Rússia, Vladimir Putin. Foto: Mikhail Klimentyev/Sputnik/AFP
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O secretário geral da Otan, Jens Stoltenberg, classificou nesta sexta-feira 30 a anexação de quatro regiões da vizinha Ucrânia pela Rússia como uma operação “ilegal e ilegítima”.

“Esta tomada de terras é ilegal e ilegítima. Os aliados da Otan não reconhecem, nem reconhecerão, nenhum desses territórios como parte da Rússia”, disse Stoltenberg na sede da aliança militar, em Bruxelas.

Em Moscou, o presidente Vladimir Putin assinou nesta sexta a anexação formal dos territórios de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e Kherson e Zaporizhzhia, no sul, após referendos realizados há uma semana.

Com isso, os territórios passam a ser considerados pela Rússia como parte de seu próprio território.

Ao anunciar os referendos, Putin alertou que a Rússia poderá usar todas as ferramentas para defender seu território, em uma referência clara às armas nucleares.

Por sua parte, Stoltenberg defendeu que uma guerra nuclear “nunca debe ser travada. E haverá sérias consequências para a Rússia se usar armas nucleares.”

“Estamos monitorando de perto o que a Rússia está fazendo. Não vimos nenhuma mudança na postura nuclear. Estamos vigilantes, estamos compartilhando informações. E deixamos bem claro para a Rússia que haverá sérias consequências”, insistiu o chefe da Otan.

Conheça as cinco regiões da Ucrânia anexadas pela Rússia desde 2014

A Rússia anexou total, ou parcialmente, cinco regiões da Ucrânia, após referendos denunciados por países ocidentais, da região do Donbass (nordeste) à península da Crimeia (sul).

Saiba mais sobre essas áreas ocupadas, as quais representam 19,4% do território ucraniano, incluindo os 11,9% conquistados desde a ofensiva russa lançada em 24 de fevereiro, conforme estimativas do “think tank” americano Institute for the Study of War (ISW).

Lugansk e Donetsk

Essas duas regiões de maioria russófona formam o Donbass, a bacia industrial da Ucrânia.

Entre 2014 e 2022, um conflito nessa região opôs separatistas leais a Moscou e forças ucranianas. Em fevereiro de 2022, porém, o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência dos separatistas e justificou a invasão da Ucrânia pela necessidade de salvar as populações de língua russa de um suposto genocídio.

Antes da guerra, a região de Lugansk tinha 2,1 milhões de habitantes. Faz fronteira com a Rússia por três lados e, segundo a ISW, mais de 99% de seu território está sob controle de Moscou desde a ofensiva.

Das quatro regiões onde os referendos foram organizados nos últimos dias, Lugansk é a que se encontra mais controlada pela Rússia, mas à custa de pesadas perdas militares.

Desde a contraofensiva ucraniana, no início de setembro, que libertou grande parte da região vizinha de Kharkiv, as forças ucranianas ganharam algum terreno em Lugansk.

A região vizinha de Donetsk tinha 4,1 milhões de habitantes antes da guerra, e sua capital, homônima, é a terceira maior cidade do país.

Antes da invasão russa, cerca de metade da região estava sob controle separatista. Atualmente, pelo menos 58% de seu território está nas mãos de Moscou e de seus aliados, incluindo a cidade portuária de Mariupol, destruída pelo cerco e bombardeio russo.

Zaporizhia

Esta região que faz limite com o Mar Negro abriga a maior central nuclear do país, no rio Dnipro, e antes da guerra tinha 1,63 milhão de habitantes.

Segundo o ISW, 72% de sua superfície está ocupada por Moscou e por sua administração militar. Sua maior cidade, de mesmo nome, Zaporizhia, está em mãos ucranianas, mas seu principal porto, Berdyansk, está sob controle russo.

A gigantesca central nuclear da área foi tomada pelo Exército russo em março. Desde então, os dois lados se acusam mutuamente de bombardearem a região, com risco de um acidente nuclear. Constantes pedidos de desmilitarização foram feitos, até agora sem sucesso.

Kherson

Em torno de 83% desta região, a mais ocidental sob o controle de Moscou, e sua capital homônima foram tomadas pela Rússia nos primeiros dias da guerra.

Esta região de grande importância agrícola é estratégica para Moscou, porque faz fronteira com a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

Sua captura, juntamente com a da costa de Zaporizhia e Donetsk, proporciona à Rússia uma continuidade territorial em todas as regiões ucranianas sob seu controle, incluindo a Crimeia, assim como com o território russo.

A Ucrânia lançou ali uma contraofensiva e teve alguns sucessos nos últimos meses. Em particular, danificou as pontes sobre o rio Dnipro ao redor da cidade de Kherson para cortar as linhas de abastecimento russas.

Além disso, os ataques contra funcionários russos e pró-russos aumentaram na área, deixando vários mortos.

Crimeia

Anexada pela Rússia em 2014, esta península turística e vinícola envenenou as relações entre Kiev e Moscou, após a queda da União Soviética em 1991.

Povoada, principalmente por russófonos, a Crimeia foi “presenteada” à Ucrânia soviética em 1954, por Nikita Khrushchev, então líder da URSS, de origem ucraniana.

Quando a URSS entrou em colapso em 1991, a Crimeia se tornou parte da Ucrânia independente.

Em 16 de março de 2014, em um suposto referendo denunciado pela comunidade internacional, 97% dos habitantes votaram “a favor” da anexação à Rússia, segundo Moscou.

A anexação foi ratificada dois dias depois por um tratado assinado por Putin.

Dos dois milhões de habitantes da Crimeia, 59% são russos; 24%, ucranianos; e 12%, tártaros, uma comunidade de tradição muçulmana estabelecida desde o século XIII.

Ao tomar a Crimeia, a Rússia recuperou o grande porto de Sebastopol, onde sua frota militar está instalada desde o século XVIII. Além disso, o porto oferece-lhe uma saída para o Mar Negro e, portanto, para o Mediterrâneo e para o Oriente Próximo.

Desde maio de 2018, a península está unida à Rússia continental por uma ponte de 19 km de comprimento.

Usada como base logística de retaguarda pela Rússia e afastada dos combates, a Crimeia se viu afetada por várias explosões desde agosto. Mais tarde, a Ucrânia reconheceu o lançamento desses ataques.

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