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Chanceler alemão faz giro pela América do Sul, com visita a Lula na agenda

Com o retorno de Lula ao poder, Berlim e outras capitais europeias esperam virar a página das relações tumultuadas com o Brasil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro

O primeiro ministro alemão, Olaf Scholz. Créditos: Tobias SCHWARZ / AFP
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O chanceler alemão, Olaf Scholz, inicia neste sábado um giro pela América do Sul. Depois de passar por Argentina e Chile, ele será a primeira autoridade europeia a visitar, na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Acompanhado de uma dúzia de diretores de empresas, Scholz visitará primeiro a Argentina e o Chile antes de encerrar a viagem no Brasil. A volta para Berlim será na terça-feira.

Assim que chegar a Buenos Aires, Scholz se reunirá com o presidente da Argentina, Alberto Fernández.

Ricos em matérias-primas, em terras férteis e em lítio, o novo “ouro branco” da transição energética, esses três países “são parceiros muito interessantes” para a principal economia da Europa, afirmou uma fonte do governo alemão.

A visita de Scholz ocorre no momento em que as empresas alemãs buscam novas oportunidades no exterior após o choque econômico causado pela invasão russa da Ucrânia, e as preocupações aumentam com a forte dependência comercial em relação à China.

“A Alemanha é um dos principais investidores da UE no Brasil”, lembrou Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), afirmando que “o tamanho do mercado” faz do Brasil um país atrativo para os europeus.

Parceria com o Mercosul

Com o retorno de Lula ao poder, Berlim e outras capitais europeias esperam virar a página das relações tumultuadas com o Brasil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Um dos objetivos comuns será avançar nas negociações sobre um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e os membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).

Finalizado em 2019, o acordo não foi ratificado desde então, principalmente devido a preocupações dos europeus com a política ambiental de Bolsonaro.

O encontro de Scholz com Lula, que na quarta-feira considerou “urgente” a conclusão dessa união aduaneira, deve permitir avanços, apesar de muita relutância na Europa por parte de fazendeiros e ambientalistas.

O Chile, membro associado do Mercosul, modernizou recentemente seu acordo de livre-comércio com a UE, o que deve reduzir a maior parte das tarifas alfandegárias.

Assim como na África, a China tem investido cada vez mais em fortalecer sua presença na América Latina, em concorrência com os Estados Unidos e os europeus.

Para a Alemanha, a visita de Scholz é uma oportunidade para Berlim mostrar que pode ser um parceiro essencial para a região. “Só temos de ser melhores do que eles (os chineses)”, disse a mesma fonte do governo alemão.

A Alemanha, porém, “hesitava” no passado em participar na extração de lítio, que representa um “caso delicado” do ponto de vista social e ambiental, reconheceu esta fonte.

“Não podemos mais nos dar a esse luxo hoje se realmente quisermos nos sustentar e ter nossas próprias fontes de abastecimento”, completou.

“Desmontar a propaganda russa”

A questão ambiental também está na agenda de Scholz. Após a vitória de Lula no segundo turno das eleições, em 30 de outubro, a Alemanha, o segundo maior financiador para a proteção da floresta amazônica, depois da Noruega, afirmou estar pronta para retomar sua enorme ajuda financeira, suspensa em 2019.

O governo Bolsonaro havia “fechado as portas para a diplomacia ambiental”, lembrou Roberto Goulart Menezes.

Lula, ao contrário, jurou fazer da preservação da Amazônia uma das prioridades de seu governo.

Berlim também conta com este giro latino-americano para garantir o apoio dos três países visitados contra a Rússia. Segundo o ponto de vista alemão, é “muito importante explicar nossa posição e desmantelar a propaganda russa”.

“Vamos sublinhar que os contornos da paz são relativamente simples: que a Rússia saia de um território nacional onde não tem nada para fazer”, segundo esta fonte.

Brasil, Argentina e Chile condenaram na ONU a invasão russa, mas nenhum dos três impôs qualquer sanção econômica a Moscou.

Lula chegou a receber críticas ao declarar, em 20 de dezembro, que o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, era “tão responsável” pelo conflito em seu país quanto o mandatário russo, Vladimir Putin.

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