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Candidata liberal vence as primárias da oposição na Venezuela

María Corina Machado, no entanto, está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos, o que impede a engenheira de inscrever sua candidatura para as eleições presidenciais do próximo ano

Foto: Federico PARRA / AFP
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A liberal María Corina Machado venceu por ampla margem as primárias da oposição celebradas no domingo (22) na Venezuela, que definiu o rival do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 2024. Mas ela está inabilitada pela justiça e, em tese, não pode ser candidata nas eleições gerais.

Um primeiro boletim da comissão que organizou as eleições internas informa que Machado recebeu 552.430 dos 601.110 votos contados até o momento, com 26% das urnas apuradas. Seu rival mais próximo, Carlos Prosperi, que denunciou irregularidades no processo, recebeu 28.153 votos e os demais aspirantes uma votação inferior a 5.000 votos.

Machado, uma engenheira industrial de 56 anos, promete acabar com o socialismo e impor uma economia liberal, com a privatização de empresas públicas como a Petróleos de Venezuela.

Ela entrou para a política em 2002 com uma ONG que estimulou um referendo revogatório contra o falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013) e depois foi eleita deputada em 2011, mas teve o mandato cassado em 2014 por participar como “embaixadora alternativa” de Panamá em uma reunião da OEA na qual denunciou supostas violações dos direitos humanos durante os protestos no mesmo ano que pediram a saída de Maduro e deixaram 40 mortos.

“Este não é o final, mas este é, sim, o início do fim”, declarou Machado para simpatizantes na sede de sua campanha.

María Corina Machado está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos, o que, teoricamente, impediria a engenheira de inscrever sua candidatura para as eleições presidenciais do próximo ano.

As primárias aconteceram apenas cinco dias após a assinatura de um acordo em um processo de negociação entre governo e oposição, que programou as eleições presidenciais para o segundo semestre de 2024, com a presença de observadores da União Europeia e de outras instituições internacionais.

O governo dos Estados Unidos respondeu com um alívio, por seis meses, das sanções contra o petróleo venezuelano, mas estabeleceu como condição a retirada das inabilitações de opositores, um tema delicado no qual o chavismo não deseja ceder.

A punição contra Machado, inicialmente de 12 meses e que terminou em 2016, foi prorrogada para 15 anos em 30 de junho, justamente quando sua campanha começou a crescer. A Controladoria, comandada pelo agora presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, acusou a ex-deputada de corrupção e de promover sanções contra o país.

Machado também enfrenta resistências internas. Ela também critica com veemência a oposição tradicional e o seu partido, Vente Venezuela, não integra, por exemplo, a coalizão Plataforma Unitária, que negocia com o chavismo na mesa de diálogo. E isto gera dúvidas sobre como será modificado o tabuleiro interno.

“Um candidato é escolhido, a liderança da oposição é outra coisa”, destacou, evasivo, o presidente da Plataforma, Omar Barboza.

O processo de primárias foi organizado pela oposição, que descartou a assistência técnica do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) após meses de evasivas por parte da instituição, que, no último minuto, propôs um adiamento por um mês para gerenciar as primárias.

Essa situação resultou em problemas de logística, como atrasos na definição dos centros – a maioria localizada em parques, praças, lojas e casas de moradores – e no credenciamento dos integrantes das mesas e testemunhas.

Ao contrário do sistema eletrônico das eleições nacionais, a votação foi manual e alguns locais ficaram sem cédulas, depois que a participação superou as estimativas.

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