Mundo

Ataque contra Lula é parte do ‘genocídio generalizado’ imposto por Israel, diz embaixador da Palestina

Em entrevista a CartaCapital, Ibrahim Alzeben pede ação rápida por cessar-fogo: ‘Palestinos em Rafah correm o risco de um massacre’

O presidente Lula e o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, plantam uma muda de oliveira no jardim da Embaixada, em Brasília. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Apoie Siga-nos no

O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou em entrevista a CartaCapital que a reação do governo de Israel a declarações do presidente Lula (PT) sobre os ataques contra a Faixa de Gaza é parte de uma estratégia de genocídio do povo palestino. O objetivo, no caso das críticas ao petista, seria calar vozes solidárias ao enclave.

Desde 7 de outubro, dia em que militantes do Hamas invadiram o território israelense e deixaram mais de 1,1 mil mortos, a ofensiva terrestre e aérea de Israel contra Gaza matou cerca de 30 mil pessoas, em sua maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde local.

Em um tom que gerou indignação no Itamaraty, Israel declarou Lula “persona non grata” por comparar indiretamente a ofensiva contra Gaza ao Holocausto. Nesta terça-feira 20, o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, voltou a cobrar um pedido de desculpas e disse que a afirmação do presidente é “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”.

Na segunda-feira, Lula chamou de volta para consultas o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, também convocou para uma reunião o embaixador israelense Daniel Zonshine e expôs a insatisfação com o tom da reprimenda.

Na noite desta terça, em sua reação mais incisiva, Vieira afirmou que a diplomacia de Israel escreveu uma “vergonhosa página” ao acusar Lula “com recurso a linguagem chula e irresponsável”. Ele classificou como “algo insólito e revoltante” a conduta de Tel Aviv.

Leia os destaques da entrevista de Ibrahim Alzeben a CartaCapital:

CartaCapital: Qual a sua avaliação sobre a declaração de Lula e as respostas de Israel?

Ibrahim Alzeben: Israel está perdendo o equilíbrio, tanto o governo quanto a cabeça do governo. Estão perdendo o equilíbrio porque estão sendo encurralados pela opinião pública, pelas expressões internacionais. Há uma condenação popular e governamental global contra o genocídio.

Eles querem com essa atitude [contra Lula] calar as vozes solidárias e seguem aquele genocídio. Genocídio tem várias formas. Matar é uma forma, cometer massacres é outra, tratar de subornar jornalistas é outra. Genocídio tem várias formas, entre elas atacar todos os que denunciam seus crimes.

Esse ataque contra o presidente Lula cabe dentro desse genocídio generalizado que o governo de Israel, o governo de Netanyahu e seu gabinete de guerra e de extermino estão dirigindo contra o povo palestino.

Lembramos hoje também a cumplicidade dos Estados Unidos de usar o veto [no Conselho de Segurança da ONU] contra uma resolução da Argélia que estabeleceria um cessar-fogo para poder enviar ajuda humanitária.

Quando um mandatário denuncia é um ato soberano, um ato humano que deve ser elogiado.

CC: Qual é a situação em Gaza, mais de quatro meses após o início da ação isralense?

IA: É um genocídio, e a situação é de calamidade pública. Setenta e cinco por cento da Faixa de Gaza está destruída ou semidestruída, não há lugar para viver.

Temos mais de 100 mil entre mortos e feridos, contabilizando também 8 mil desaparecidos que, por lógica, estão mortos. Não é fácil desaparecer naquele lugar, a não ser que esteja sob os escombros.

Estão faltando água, medicamentos e alimentos. Sobram mortes, feridos, corpos em decomposição, doenças que se espalham, necessidades primárias em todos os sentidos.

É um estado que não sei se aconteceu na Segunda Guerra Mundial. A situação é terrível, independentemente de espaço e tempo.

Se vamos comparar com a primeira e a segunda guerras, é pior, porque está acontecendo no século XXI, com tanta comunicação. O mundo está vendo. É uma guerra televisionada, transmitida por voz e imagem. É incrível que isso aconteça e o mundo não intervenha da maneira que deve, diante de tanta agressividade por parte de Israel e do encobrimento desses crimes por parte dos Estados Unidos e de algumas potências ocidentais.

Ao menos na Europa alguns países estão exigindo o cessar-fogo, e esperamos que essa movimentçaão consiga dar frutos antes que Israel volte a massacrar 1,6 milhão de habitantes que estão em Rafah [no sul da Faixa de Gaza].

O mundo precisa agir rapidamente, porque esses palestinos estão correndo o risco de ser massacrados.

CC: Diante da incapacidade do Conselho de Segurança da ONU, qual é o caminho mais viável para uma solução?

IA: O único caminho é o Conselho de Segurança, não tem como. Somente rezar, porque a Corte Internacional de Justiça, em primeiro lugar, não toma decisões tão rápidas.

Outra coisa: para implementar um cessar-fogo é o Conselho de Segurança, responsável pela paz, mas que está sendo agora, pela posição dos Estados Unidos, cúmplice nesta guerra de extermínio.

Não temos outra saída a não ser rezar, lamento dizer isto, com esta impotência que estamos sentindo frente ao mundo, que não consegue agir, pela posição dos Estados Unidos, pela agressividade, pelo genocídio.

Não sou especialista na Língua Portuguesa. Como ser humano, político ou diplomata, não consigo ainda achar uma palavra para descrever o que aconteceu e está acontecendo em Gaza. Até a palavra ‘holocausto’ fica pequena, até a palavra ‘genocídio’ fica pequena. Alguém tem de descobrir e dar exatamente o tamanho da barbárie que está acontecendo em Gaza.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo