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EUA vetam novo pedido da ONU para ‘cessar-fogo imediato’ em Gaza

É o terceiro bloqueio do país a uma iniciativa deste tipo desde o início da guerra entre o seu aliado Israel e o grupo islamista palestino Hamas

A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, vota em reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a guerra Israel-Hamas. Créditos: ANGELA WEISS / AFP
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Os Estados Unidos vetaram, nesta terça-feira 20, um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia “um cessar-fogo imediato” em Gaza.

É o terceiro bloqueio do país a uma iniciativa deste tipo desde o início da guerra entre o seu aliado Israel e o grupo islamista palestino Hamas.

A resolução, elaborada pela Argélia, exigia “um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes” e se opunha ao “deslocamento forçado da população civil palestina”. Obteve 13 votos a favor, a abstenção do Reino Unido e o veto americano.

“Não podemos apoiar uma resolução que poria em risco negociações delicadas” para alcançar uma trégua, declarou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, ao mesmo tempo em que defendeu um esboço alternativo redigido por seu país.

A votação ocorreu enquanto Israel se prepara para uma ofensiva na cidade de Rafah, a última da Faixa de Gaza que não foi invadida por tropas terrestres e onde estão refugiadas 1,4 milhão de pessoas.

Israel enfrenta uma pressão crescente para evitar a incursão, inclusive de parte dos Estados Unidos.

“Não se trata, como alguns membros têm afirmado, de um esforço americano para encobrir uma incursão terrestre iminente, mas de uma declaração sincera da nossa preocupação com o milhão e meio de civis que buscaram refúgio em Rafah”, disse Thomas-Greenfield antes da sessão.

Assim como os esboços anteriores rejeitados por Israel e Estados Unidos, o texto vetado nesta terça condenava o ataque sem precedentes do grupo islamista contra Israel de 7 de outubro, que causou a morte de mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva que deixou mais de 29.000 mortos em Gaza, a grande maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

No fim de semana, os Estados Unidos já haviam ameaçado bloquear o projeto de resolução argelino.

Washington considera que a resolução colocava em risco as delicadas negociações diplomáticas em curso para obter uma trégua que inclua uma nova libertação de reféns.

Em seu lugar, os Estados Unidos distribuíram um esboço alternativo, ao qual a AFP teve acesso.

Embora o texto inclua a palavra “cessar-fogo” – que os Estados Unidos evitaram anteriormente, vetando dois projetos em outubro e dezembro que usavam o termo -, não pede o fim imediato das hostilidades.

Sem data-limite

Ecoando as recentes declarações do presidente americano, Joe Biden, submetido a uma pressão crescente antes das eleições presidenciais de novembro, nas quais tentará a reeleição, o texto alternativo faz referência a um “cessar-fogo temporário em Gaza assim que possível” com base em uma “fórmula” de libertação de todos os reféns.

Também expressa sua preocupação com Rafah, ao advertir que não deveria haver “uma grande ofensiva terrestre” sob as “circunstâncias atuais”, pois “resultaria em novos danos à população civil e um novo deslocamento”.

“Não temos planos de nos apressarmos para votar nosso texto”, disse na segunda-feira um alto funcionário americano, que acrescentou não ter uma “data-limite”.

O texto americano “não pode ser aprovado tal como está”, comentou uma fonte diplomática, citando vários “problemas” na redação do conceito de “cessar-fogo”.

Alguns diplomatas questionaram as reais intenções de Washington.

“Realmente querem esta resolução ou querem empurrar a outra parte para o veto?”, perguntou-se um deles, destacando a probabilidade de um veto russo a qualquer texto elaborado pelos Estados Unidos.

O simples fato de Washington ter apresentado uma contraproposta pode “deixar Israel nervoso”, explicou à AFP Richard Gowan, analista do International Crisis Group.

“Os Estados Unidos estão, por fim, usando o Conselho de Segurança como plataforma para mostrar os limites de sua paciência com a campanha israelense”, acrescentou o especialista.

O Conselho, há anos muito dividido sobre a questão israelense-palestina, só conseguiu aprovar duas resoluções a respeito desde 7 de outubro, essencialmente humanitárias e sem grandes resultados, pois o fluxo de ajuda para Gaza continua insuficiente.

O bloco de países da ONU conhecido como Grupo Árabe reiterou seu apoio ao projeto argelino antes da votação desta terça-feira.

“Nenhuma desculpa pode justificar a inércia do Conselho de Segurança e todos os esforços devem convergir para deter a matança que está ocorrendo em Gaza”, declarou o grupo.

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