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Acusação dos EUA sobre corrupção invade campanha eleitoral do Paraguai

“A corrupção endêmica mina as instituições democráticas paraguaias e destaca a necessidade premente de o governo do Paraguai agir no melhor interesse de seus cidadãos, não enchendo os bolsos de suas elites políticas”, disse o subsecretário do Tesouro, Brian E. Nelson

(Foto: Eric Thayer / Getty Images via AFP)
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A acusação de corrupção feita pelos Estados Unidos contra dois dos principais líderes do partido governista no Paraguai, o Colorado, caiu como uma bomba no centro da campanha eleitoral, na qual o candidato da situação, Santiago Peña, disputará a presidência do país com o opositor Efraín Alegre, em 30 de abril.

O ex-presidente Horacio Cartes, atual presidente do conservador Partido Colorado, e o vice-presidente do país, Hugo Velázquez, foram classificados no ano passado como “significativamente corruptos” pelo Departamento de Estado americano, que vetou seu ingresso nos Estados Unidos.

No final de janeiro, o Departamento do Tesouro americano adotou sanções contra quatro empresas Cartes. E agora os colorados enfrentam a dificuldade de conseguir empréstimos para a última etapa da campanha.

“Cartes não pode pagar salários, não pode pedir créditos para financiar a campanha. Delegar sua assinatura também não é válido, é contra a lei. Estamos sem os recursos necessários para enfrentar o Dia D. O que sabemos é que os créditos solicitados já foram rejeitados por cinco bancos. Se não temos esse dinheiro, como vamos mobilizar nossa gente? De onde vão sair os recursos?”, questionou Gerardo Soria, líder do Partido Colorado distante do ex-presidente, em conversa recente com a AFP.

Ontem, porém, o segundo vice-presidente do partido, Rodolfo Friedmann, garantiu que um banco paraguaio concordou em conceder um empréstimo.

“Não haverá problemas no financiamento da campanha. Tem dinheiro na conta, e isso nos dá uma grande tranquilidade”, disse o candidato Peña há uma semana.

Empate técnico

Uma pesquisa da empresa AtlasIntel, do início de abril, mostrou um empate técnico entre Peña e Alegre, com leve vantagem para o opositor. Este advogado de 60 anos, líder do Partido Liberal, disputa a Presidência pela terceira vez.

Na mesma sondagem, a corrupção é considerada como o principal problema do país para 68% dos entrevistados.

Peña, um economista de 44 anos que foi ministro no governo de Cartes (2013-2018), aposta no voto duro dos afiliados ao partido, cerca de 2,5 milhões de pessoas, a maioria funcionários públicos e seus familiares.

O padrão eleitoral registra cerca de 4,8 milhões de eleitores de uma população de 7,5 milhões.

“O partido governista fala para o funcionalismo sobre a perda de empregos, a perseguição se a oposição ganhar, apelando para o fanatismo, para a tradição. Os colorados agora também levantam a bandeira nacionalista, anti-imperialista, patriótica, como elemento eleitoral”, disse o analista político Marcos Cáceres Amarilla à AFP.

“Mas muitos colorados estarão refletindo sobre que tipo de governo estará à frente do Estado paraguaio depois de 30 de abril”, completou.

‘Corrupção endêmica’

A sanção americana atinge o Partido Colorado em suas duas vertentes: a de Cartes, considerado padrinho político do candidato Peña, e a do atual presidente, Mario Abdo Benítez, cujo vice, Velázquez, viu-se forçado a renunciar às suas aspirações eleitorais.

“A corrupção endêmica mina as instituições democráticas paraguaias e destaca a necessidade premente de o governo do Paraguai agir no melhor interesse de seus cidadãos, não enchendo os bolsos de suas elites políticas”, disse o subsecretário do Tesouro, Brian E. Nelson, ao fundamentar as sanções.

A partir de então, grande parte dos dardos da campanha do partido governista se concentrou em alusões à “intromissão imperialista”.

Juan Carlos Galaverna, segundo no comando do Partido Colorado, descreveu a medida dos EUA como “uma agressão flagrante e sem vergonha, sem limites morais”.

Yamil Esgaib, líder colorado que concorre a senador, exigiu a expulsão do embaixador dos Estados Unidos, Marc Ostfield, enquanto o senador Martín Arévalo afirmou que “a embaixada americana está em uma campanha para pulverizar o Partido Colorado”.

Mas as denúncias judiciais contra esses líderes políticos não chegam à sentença.

“Em um povo com oito anos de escolaridade ‘per capita’, o bandido é votado igual. Ninguém se importa se é corrupto, ou não”, descreveu o consultor de políticas públicas Sebastián Acha.

“As pessoas não dimensionam quando se fala em bilhões de dólares, porque os réus geralmente ficam impunes”, observou.

Vários membros do Parlamento estiveram envolvidos em negócios relacionados com o tráfico de drogas. Até agora, apenas um deles foi preso e processado: o deputado colorado Juan Carlos Ozorio.

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