Justiça

Moraes nega novo pedido da defesa e mantém prisão dos irmãos Brazão

Em junho, o magistrado havia negado pedido semelhante apresentado pela defesa dos réus

Moraes nega novo pedido da defesa e mantém prisão dos irmãos Brazão
Moraes nega novo pedido da defesa e mantém prisão dos irmãos Brazão
O ministro do STF, Alexandre de Moraes. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, manteve nesta quinta-feira 26 a prisão preventiva dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, acusados de terem mandado matar a vereadora Marielle Franco (PSOL), em 2018.

Em junho, o magistrado havia negado pedido semelhante apresentado pela defesa dos réus. O delegado Rivaldo Barbosa, que também é reú por envolvimento no assassinato, também está preso desde março e pediu para responder ao processo em liberdade.

O trio responde a uma ação penal no Supremo por homicídio qualificado e obstrução de justiça. Robson Calixto da Fonseca, assessor de Domingos no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, e o major Ronald Paulo de Alves Pereira também são investigados no caso.

O assassinato de Marielle começou a ser arquitetado pelos irmãos Brazão no segundo semestre de 2017, de acordo com a Polícia Federal. Os detalhes da trama foram revelados na delação premiada do ex-policial Ronnie Lessa, responsável pelos disparos que mataram a parlamentar e seu motorista Anderson Gomes.

Foi a colaboração do ex-PM que contribuiu para a elucidação do crime e a deflagração da Operação Munder Inc., responsável pela prisão de Chiquinho, Domingos e Rivaldo. As investigações apontaram que o crime ocorreu para proteger interesses econômicos de milícias e desencorajar atos de oposição política de Marielle.

Os detalhes do crime

Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, Domingos e Chiquinho trabalham desde o início dos anos 2000 para formar alianças com diferentes milícias no Rio. Os interesses a uni-los teriam relação com atividades de ocupação, uso e parcelamento irregulares de territórios.

Após traçar um longo panorama sobre a suposta trajetória criminosa dos irmãos, a Procuradoria afirma que eles tinham interesse econômico direto na aprovação de normas legais para facilitar a regularização do uso e da ocupação do solo em áreas de milícia e de loteamento clandestino.

Iniciativas do PSOL e, posteriormente, de Marielle contra essas práticas se tornaram, então, um problema para os Brazão.

Em 2015, o partido questionou a legalidade da eleição de Domingos para o TCE, sob os argumentos de haver vícios formais no procedimento e de que o indicado não tinha “notório saber jurídico”.

Após isso, Domingos e Chiquinho teriam infiltrado um miliciano no PSOL, com o objetivo de reunir informações sobre a ação política dos correligionários.

Ao assumir o mandato de vereadora, em 2017, Marielle fez com que as pautas de interesse dos irmãos não prosperassem com a mesma facilidade, anotou a PGR. Ela defendia a regularização fundiária pela caracterização de Áreas de Especial Interesse Social, a fim de acolher segmentos de menor renda e, portanto, com maior déficit habitacional.

A denúncia ressalta que a vereadora passou a defender explicitamente que as iniciativas de Chiquinho visavam uma exploração econômica de espaços dominados por milícias. Em 2017, Marielle e o PSOL ofereceram grande resistência a um projeto articulado por ele, que acabou aprovado por apenas um voto além do mínimo necessário.

“Não há dúvida de que as dificuldades na tramitação do projeto e, sobretudo, o elevado risco de rejeição, somados ao histórico de conflitos com o PSOL e Marielle Francisco da Silva, recrudesceram o descontentamento dos irmãos Brazão”, diz a denúncia da PGR.

Marielle se tornou, portanto, a principal opositora e o mais ativo símbolo da resistência aos interesses econômicos dos irmãos“, pontua o relatório enviado ao STF. “Matá-la significava eliminar de vez o obstáculo e, ao mesmo tempo, dissuadir outros políticos do grupo de oposição a imitar-lhe a postura”.

No segundo semestre de 2017, Domingos e Chiquinho teriam ordenado a Edmilson Oliveira, o Macalé, que preparasse a execução de Marielle. Também teriam informado o plano a Rivaldo Barbosa, a fim de acertar a garantia de impunidade.

A PGR diz que Rivaldo encorajou a decisão e prestou auxílio intelectual aos envolvidos, inclusive com orientação sobre onde não deveriam cometer os assassinatos. À época, ele era diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil. Um dia antes dos homicídios, tornou-se chefe da corporação.

Macalé, então, teria apresentado o plano e entregado uma arma ao ex-PM Ronnie Lessa, preso sob a acusação de disparar contra Marielle. Élcio de Queiroz dirigiu o carro usado no crime.

Edmilson também teria solicitado o apoio de Ronald, cuja função seria vigiar a rotina de Marielle e coletar informações úteis para o crime.

Segundo a PGR, os homicídios, por motivo torpe, ocorreram mediante promessa de recompensa por parte dos irmãos Brazão. A vereadora acabou assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, centro da capital fluminense.

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