Justiça

Celular de Ricardo Salles, apreendido em 2021, não foi periciado pela PF

Após o recebimento da denúncia que tornou o ex-ministro réu no caso, a PF tem dez dias para informar sobre a possibilidade de acesso aos dados do aparelho

Celular de Ricardo Salles, apreendido em 2021, não foi periciado pela PF
Celular de Ricardo Salles, apreendido em 2021, não foi periciado pela PF
Lula Marques/ Agência Brasil
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O celular do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL), que se tornou réu em uma ação em que é investigado sob a suspeita de facilitar o contrabando ilegal de madeira na Amazônia, apreendido pela Polícia Federal há dois anos, nunca foi periciado.

A informação foi trazida pelo O Globo consta da decisão que recebeu a denúncia contra o atual deputado federal.

À época da busca e apreensão do dispositivo na operação Akuanduba, que levou à saída de Salles do Ministério, o bolsonarista se recusou a entregar aos agentes a senha de desbloqueio do celular.

O celular então foi encaminhado para perícia no Instituto Nacional de Criminalística vinculado à PF. No entanto, a equipe técnica do órgão atentou que não havia nenhum software para obter “acesso aos dados encontrados na memória do dispositivo”.

Diante da impossibilidade de se acessar o conteúdo do celular do ex-ministro, autoridades dos Estados Unidos, vinculadas a investigação do esquema de contrabando das madeiras, informaram à PF que dispunham dos meios para “quebrar” a senha do celular e acessar os dados ali contidos.

Ainda em junho de 2021, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou o envio do dispositivo aos EUA.

Antes da encomenda ser enviada às autoridades americanas, o setor de perícias da PF enviou um ofício ao dirigente das investigações, Franco Perazzoni, informando que não seria necessário o envio do dispositivo, uma vez que uma atualização do software usado pela PF agora permitia o acesso ao celular, mesmo sem a senha.

Pouco tempo depois, Perazzoni foi exonerado da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros. Fontes apontam que a decisão que afastou o delegado responsável pelo caso teria sido uma retaliação.

Na ocasião, os arquivos relacionados à demissão foram colocados sob sigilo de 100 anos.

Ainda nesse intermédio, Salles pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente, o que obrigou a ação a mudar de instância, passando a tramitar na Justiça Federal do Pará.

Nesse período houve diversos pedidos para que o celular fosse periciado, porém, a análise nunca foi concluída.

Nesta terça-feira 29, a Justiça Federal aceitou a denúncia oferecida pelo MPF e tornou réu o deputado e ex-ministro.

Na decisão, o magistrado responsável pelo caso abriu prazo de 10 dias para que a PF se manifeste sobre a viabilidade técnica de acessar os dados armazenados no aparelho celular.

O episódio envolvendo o celular de Salles é apenas um capítulo da longa jornada de manobras praticadas pela cúpula da PF, alinhada com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Durante os quatro anos de mandato e controle da Polícia Federal, diversos delegados foram afastados após a apresentação de acusações contra Salles e outros ministros ou aliados do ex-presidente.

Assim aconteceu com Alexandre Saraiva, superintendente da PF do Amazonas, Rubens Lopes, chefe da divisão de combates a crimes contra o meio ambiente e do delegado Perazzoni.

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