Entrevistas

‘Faremos oposição a qualquer nível de privatização’, diz Teonilio Barba, do PT em São Paulo

O deputado foi escolhido pela bancada petista para compor mesa diretora da Alesp com aliado de Tarcísio de Freitas, André do Prado

Teonilio Barba, deputado estadual do PT. Foto: Larissa Navarro e Marco Antonio Cardelino
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A bancada paulista do PT escolheu o deputado estadual Teonilio Barba para compor a mesa diretora da Assembleia Legislativa de São Paulo, por meio de um acordo com o deputado André do Prado (PL-SP), indicado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para a presidência da Casa.

Os 94 deputados eleitos em São Paulo se preparam para a eleição na Alesp, que definirá os dirigentes da próxima legislatura, em 15 de março. A expectativa é de que o PT ocupe a 1ª secretaria da mesa diretora, cargo mais importante depois da presidência.

A ocupação da 1ª secretaria pelo PT não é algo novo. Durante os quase 30 anos de governo do PSDB e de liderança tucana na Alesp, os petistas também estiveram no posto. Na legislatura que acaba agora, o PT estava na 1ª secretaria com Luiz Fernando Teixeira, enquanto o presidente da Assembleia era o tucano Carlão Pignatari.

Para garantir o cargo, o PT terá de votar no candidato de Tarcísio para a presidência. Em troca, Prado diz ter se comprometido a recolher votos a favor dos petistas, inclusive no PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O possível presidente da Alesp se reuniu com a bancada petista pela primeira vez dias antes do carnaval. Na ocasião, ouviu demandas dos parlamentares.

O deputado André do Prado (PL) é favorito de Tarcísio de Freitas para a Alesp. Foto: Reprodução/Instagram

Além da 1ª secretaria, o PT também quer ampliar sua presença nas 19 comissões da Alesp, ocupando duas vagas em 11 comissões e três vagas em três comissões: Constituição, Justiça e Redação; Assuntos Metropolitanos e Municipais; e Transportes e Comunicações.

O PT também pleiteia obter mais duas presidências de comissões. Hoje, eles já têm quatro: Infraestrutura, Relações Internacionais, Direitos Humanos e Educação. Agora, desejam também as presidências das comissões de Finanças e Orçamento e de Constituição, Justiça e Redação.

O PSOL critica a postura do PT em dividir a mesa diretora com um indicado de Tarcísio, por considerar simbólica para a população a aproximação com um candidato que representaria um “governo negacionista”. O partido terá candidato próprio à presidência e não deve votar nos petistas para a 1ª secretaria.

O PT, por sua vez, diz que há um “direito consolidado” da sigla em ocupar o posto, por se tratar de uma tradição da Alesp ter como 1º secretário um representante da 2ª maior bancada. O PL, com 19 deputados, e a federação do PT, também 19, têm as maiores fatias.

Em entrevista a CartaCapital, Teonilio Barba diz que defenderá a autonomia da Alesp em relação ao governo do estado e que a bancada do PT fará “dura oposição” a Tarcísio.

Além disso, Barba nega qualquer possibilidade de discussão sobre as privatizações almejadas pelo Palácio dos Bandeirantes, como a da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, Sabesp, Empresa Metropolitana de Águas e Energia e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

“Faremos oposição o tempo todo, em qualquer nível de privatização”, declarou.

Barba é um quadro do sindicalismo dos metalúrgicos do ABC. Seu nome era avalizado pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, antigo companheiro de militância. O deputado também recorreu aos ministros Alexandre Padilha e Paulo Teixeira para engrossar o apoio ao seu nome à 1ª secretaria.

O parlamentar foi indicado a partir de uma decisão consensual da bancada, sem votação.

Ele disputava o posto com outros três nomes: Ênio Tatto, irmão do secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto, e vinculado a uma relevante família de políticos na legenda; Emidio de Souza, ex-prefeito de Osasco que foi coordenador do programa de governo de Haddad na eleição de 2022; e Beth Sahão, nome que apareceu por último na disputa, psicóloga e socióloga.

Na Assembleia Legislativa de São Paulo, petistas pretendem compor mesa diretora com candidato do PL. Foto: Alesp

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

CartaCapital: Como chegaram à conclusão do nome do senhor para a 1ª secretaria?

Teonilio Barba: Primeiro, temos que ter claro que a 1ª secretaria é a defesa da proporcionalidade que o PT faz. Como é que funciona aqui a Assembleia? Normalmente, quem ganha o governo indica o presidente, depois, a 2ª maior bancada indica o 1º secretário, e a 3ª maior bancada indica o 2º secretário. Essa é a composição da mesa diretora da Casa. Isso não tem nada a ver com o governo.

CC: Mas qual o seu projeto para essa posição?

TB: A primeira coisa é a gente tentar transformar a Assembleia em uma Assembleia autônoma e independente em relação ao governo. É lógico que quem é base aliada do governo tem lá os seus motivos ideológicos pelos quais apoia o governo. Agora, a Assembleia tem que ser independente e autônoma em relação ao governo do estado. A Assembleia é uma Casa Legislativa. Ela tem obrigação de fiscalizar o governo, além de legislar. São duas tarefas. Essas tarefas que vamos defender aqui na Casa enquanto Mesa Diretora.

CC: Não é um recado complicado para o eleitor quando o PT compõe uma Mesa Diretora com o indicado do governador Tarcísio, um ex-ministro bolsonarista? Afinal, o PT também vai precisar votar no indicado pelo governador para a Presidência.

TB: O regimento é muito claro: a proporcionalidade será exercida sempre que for possível. O quê que é possível? É quando você constrói um acordo que, aí, um vai votar no outro. O que tem que se ter muito claro: a bancada do PT é de oposição aqui nessa Casa. Aqui tem um grupo de deputados e deputadas que apoiou a candidatura do presidente Lula, que apoiou a candidatura do Fernando Haddad e que fará oposição ao governo do Tarcísio.

CC: O senhor acha que o deputado André do Prado pode representar os interesses do bolsonarismo? Ou acha que ele é mais dialogável?

TB: Aí eu prefiro não comentar sobre o deputado. Eu convivo com ele aqui há dois mandatos. Sempre nos respeitou muito, sempre respeitou a bancada do PT. Então, o tratamento, a liturgia do cargo, tem que manter esse respeito. Aqui, elegemos um conjunto de 28 deputados, sendo 19 da federação – 18 do PT, das quais cinco deputadas mulheres, mais a Leci Brandão do PCdoB – mais o PSOL, que já dá 24, mais o PSB, que elegeu três, são 27, mais a Marina Helou. Esse foi o conjunto de deputados que apoiou o presidente Lula e o Fernando Haddad para o governo do estado de São Paulo. Nós esperamos contar com todos esses deputados para fazer oposição, principalmente, ao espírito privatista do Tarcísio, que quer privatizar Sabesp, estradas, o metrô e toda a linha ferroviária. Então, faremos uma oposição muito dura contra o Tarcísio.

CC: A entrada do Tarcísio rompeu anos do PSDB no poder. O que muda agora, com o governo de um ex-ministro bolsonarista?

TB: Não espero muita mudança. O governo do Tarcísio é uma esperança para eles, bolsonaristas. Para nós, não representa esperança nenhuma em termos de governo do estado. É um governo que traz, no seu cerne, a privatização e o ataque aos direitos dos trabalhadores.

CC: Tem alguma possibilidade de a bancada do PT ceder em algo em relação à privatização da Sabesp? Essa pauta é negociável?

TB: Não existe a mínima possibilidade de a gente discutir qualquer nível de privatização. Faremos oposição o tempo todo, em qualquer nível de privatização.

CC: No caso da Sabesp, quais os riscos que o senhor apontaria para essa privatização?

TB: Das 645 cidades aqui no estado de São Paulo, a Sabesp atende algo próximo de 300 cidades. E quem é que subsidia essas cidades? São sempre as maiores que subsidiam as menores. Então, o risco da privatização é faltar água para o povo, tratamento de esgoto e saneamento básico.

CC: O fato de o Tarcísio ter discursado ao lado de Lula não demonstra que o governador pode estar assumindo uma postura mais moderada?

TB: Aquele foi um evento grave que aconteceu, de um fenômeno da natureza que, praticamente, quase destrói toda a Baixada. Foram 67 mortos até agora. Então, a tarefa do presidente Lula, a tarefa do governador e a tarefa do prefeito é, exatamente, ir lá no local onde as coisas aconteceram.

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