Educação
Na USP, policiais ostentam fuzil ao entregar intimação a estudante negra
A Polícia alega que o motivo para os agentes estarem armados na faculdade é que eles estavam cumprindo outras diligências no mesmo dia
No dia 22 de março, dois policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi) foram até o Centro de Acolhimento e Referência para Estudantes da USP para entregar uma intimação a uma aluna que está sendo acusada de injúria racial por outro estudante. O caso causou revolta entre a comunidade estudantil pelo fato de um dos policiais estar portando um fuzil durante a abordagem, segundo relatos, ter apontado a arma para alunos no local.
Procurada por CartaCapital, a Polícia Civil afirmou, em nota, que as imagens (se referindo ao vídeo que registra o momento da entrega da intimação, já dentro do prédio) mostram os policiais com o dedo fora do gatilho, bandoleira devidamente colocada e arma apontada para o chão, “procedimento de segurança correto para o manuseio do armamento”. Também alegam que o motivo para os agentes estarem armados na faculdade é que eles estavam cumprindo outras diligências no mesmo dia – no vídeo, pode-se ouvir o homem com o fuzil responder, ao ser questionado, que estava com a arma pois não podia deixá-la na viatura.
Thainá conta que estava em frente ao prédio do CARE, indo para uma reunião com a assistente social sobre a suspensão do seu auxílio permanência, quando recebeu mensagens de amigos a alertando de que haviam pessoas armadas procurando por ela. Logo em seguida, ela afirma ter presenciado o policial apontar o fuzil para uma outra estudante negra no local e perguntar se ela era Thainá. Assustada, ela fugiu do local e foi abrigada no alojamento de colegas, de onde ligou para uma professora de sua confiança que a acompanhou até o prédio onde foi feita a entrega da intimação (que pode ser vista no vídeo).
Em nota, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento afirma que a instituição não requisitou nem concorda com a forma como a ação da Polícia Civil foi feita e que fez uma reclamação junto à ouvidoria da Polícia Civil e ao Ministério Público.
Apesar disso, Thainá acredita ser vítima de uma perseguição política. No dia anterior à abordagem, ela participou de uma reunião com uma assistente social da faculdade na qual a questionou sobre a perda do seu auxílio, mesmo com sua condição econômica extremamente precária, e da falta de acolhimento frente a um longo histórico de ataques racistas e agressões que sofreu dentro da Universidade.
“Não acho que foi coincidência eu confrontar a assistente social e no dia seguinte aparecer um policial armado tentando me intimidar’’, comentou.
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