Editorial

cadastre-se e leia

Lula contra os golpistas

Apoio total ao presidente e a sua determinação para colocar as forças armadas no lugar devido e acabar de vez com o sinistro espantalho na capa desta edição

Imagem: Sergio Lima/AFP
Apoie Siga-nos no

A imagem sombria na capa desta edição exprime as razões que sustentam o poder das Forças Armadas em um país como o Brasil. Lula percebeu a gravidade desta situação, entrave fatal para uma autêntica democracia. No dia 12 passado, durante um café da manhã com jornalistas, Lula disse: “Eles não são o poder moderador que pensam que são”. Sejamos claros: é possível que um energúmeno demente como Jair Bolsonaro possa enganar e dividir uma nação inteira para perder eleições presidenciais com margem mínima? Este é, infelizmente, o Brasil, país cujas Forças Armadas se impõem pela lei do medo e sua consequente incerteza de futuro.

E não é que por lá apareçam figuras de porte intelectual e moral. As cabeças ali são órfãs de pai e mãe. Também deste ponto de vista a conjuntura assume um aspecto tipicamente brasileiro. São as consequências inescapáveis em um país incapaz de viver uma transição bem orientada depois da queda da ditadura militar e civil, graças ao maciço apoio midiático, pois o jornalismo, com exceções muito raras, cuidou de trabalhar a favor dos poderosos e de suas benesses, enquanto celebrava o status quo para manter a funesta dicotomia casa-grande e senzala.

Enrolados em suas bandeiras mentirosas, figurantes da intentona de 8 de janeiro perfilam-se diante dos quartéis

Faltou o interregno para entender o sentido e o alcance da mudança, a despeito dos esforços de Ulysses Guimarães, que, ao longo da campanha das Diretas Já, como presidente da Constituinte de meio período, cuidou de abrir os olhos do povo. O Brasil não soube aproveitar os efeitos da chamada distensão, cumprida até a entrega dos poderes ditatoriais por parte de João Figueiredo, ao se afastar do Palácio do Planalto pela porta dos fundos. Seguiu-se, como sabemos, o governo de Tancredo Neves, que faleceu antes de cumprir o seu mandato, para ser substituído pelo vice de conveniência, José Sarney, feudatário do Maranhão e líder do partido da ditadura, a Arena.

Mais uma vez vingou o medo de um retorno à ditadura, no enésimo compromisso tão pouco aderente à realidade dos fatos. Prevaleceu o costumeiro vezo para bater agora na caldeirinha em lugar do cravo. Como de hábito, recorreu-se à tentativa da conciliação e o tempo do Cruzado contribuiu para ludibriar o País. Recordo que, na ocasião, fui anfitrião de um jantar em sala privada do Hotel Ca’d’Oro, em São Paulo, com a presença do então ministro da Fazenda Dilson Funaro e do futuro presidente Lula, e hoje digo apenas que comemos bem.

Imagem: Caio Guatelli/AFP

Por causa de amigos muito queridos que o orientavam, como Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manuel Cardoso de Mello, de bom grado Lula confiava em Funaro. Mesmo assim, quando o Cruzado foi lançado e o País caiu no logro, a revista IstoÉ, que eu dirigia, publicou um cruzado de direita praticado por uma luva de boxe. Diga-se que ainda eram tempos de grandes esperanças, embora o retorno da ditadura não fosse uma hipótese descartável para manter alerta o medo de sempre.

Lula sabe perfeitamente que a presença de um exército de ocupação a cuidar dos interesses da minoria abastada é um desplante inaceitável. E conta, como sempre, com o apoio de ­CartaCapital neste seu empenho para manter ordem na casa. Logo após a intentona de 8 de janeiro, o presidente disse: “Todos que participaram do ato golpista serão punidos”. E prosseguiu: “Todos, não importa a patente”. Na terça-feira 17 dispensou 40 militares que atuavam na coordenação da administração do Palácio da Alvorada, residência oficial do Executivo. E no dia 18, exonerou os 13 militares que atuavam no Gabinete de Segurança Institucional.

A vanguarda bolsonarista cuidou de interromper a circulação em diversas rodovias à sombra da greve dos caminhoneiros

O presidente já havia dispensado a equipe formada pelo general Augusto Heleno, ministro de Bolsonaro, e preferiu manter a Polícia Federal para cuidar de sua segurança pessoal. Na quinta 19, outros nove militares do GSI também foram rifados e deixarão de receber a gratificação que lhes cabia por atuar no governo federal. Até o fim da semana, o Alto-Comando das Forças Armadas deve se reunir com Lula e o ministro da Defesa, José Múcio.

Por ora, quem se apressou a expor a insatisfação militar foi o general da reserva Sérgio Etchegoyen, ex-ministro-chefe do GSI. Disse em entrevista à TV Pampa: “Lula sabe que general algum vai convocar uma coletiva para responder à ofensa. Então, o ato dele é de profunda covardia”. Não é por acaso que Etchegoyen foi ministro do usurpador Michel Temer. A intervenção presidencial alcança também a Polícia Federal, sobretudo a Polícia Rodoviária Federal, que atuou descaradamente a favor de Bolsonaro nas eleições, dificultando, inclusive, a passagem de ônibus e outros veículos que conduziam eleitores no Nordeste.

Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABR

Ao cabo, na quinta-feira 19, foram trocados 18 superintendentes regionais da PF, além de 26 superintendentes da PRF. Refrega árdua a que Lula se entrega para condenar o papel até hoje arcado pela corporação fardada. Age com a determinação de certa forma insólita, mas de todo modo eficaz. O mestre da conciliação conforme o aprendizado de líder sindical, mas em todo caso armado por uma determinação irrevogável. O transparente propósito de colocar as Forças Armadas no lugar devido, à sombra de uma democracia autêntica, prova a qualidade e a sinceridade do seu esforço, destinado a consagrar o seu terceiro mandato. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1243 DE CARTACAPITAL, EM 25 DE JANEIRO DE 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Lula contra os golpistas”

Leia essa matéria gratuitamente

Tenha acesso a conteúdos exclusivos, faça parte da newsletter gratuita de CartaCapital, salve suas matérias e artigos favoritos para ler quando quiser e leia esta matéria na integra. Cadastre-se!

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo