Economia

No discurso dos 100 dias, Lula equilibra críticas ao BC, otimismo sobre a economia e ‘fantasma’ do fascismo

O presidente declarou que seria ‘melhor desistir’ se decidisse governar de acordo com o que dizem os críticos ou o ‘mercado’

O presidente Lula. Foto: Evaristo Sá/AFP
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O presidente Lula (PT) comandou nesta segunda-feira 10 uma reunião ministerial a marcar os primeiros cem dias de seu governo. A exemplo do que fez nos últimos eventos institucionais, ele se equilibrou entre as críticas à “herança” de Jair Bolsonaro (PL), os impactos da tentativa de golpe de Estado no 8 de Janeiro e mensagens de otimismo sobre a economia, apesar da taxa de juros definida pelo Banco Central.

Na última quinta 6, o presidente já havia afirmado que “vamos ver mudança no ritmo da economia brasileira”, durante um café da manhã com jornalistas do qual CartaCapital participou. Chegou até a ensaiar o discurso de que o País verá um “espetáculo do crescimento”, lembrança de uma expressão utilizada em seu primeiro mandato.

Nesta segunda, Lula instou seus ministros a demonstrarem otimismo para fortalecer a confiança da população. Elogiou, por exemplo, o responsável pela Agricultura, Carlos Fávaro, por sua agenda positiva após viagem à China no fim do mês passado.

O petista declarou que seria “melhor desistir” se decidisse governar de acordo com o que dizem os críticos ou o “mercado”. Segundo Lula, “é importante que essa gente fale para a gente fazer diferente do que eles querem que a gente faça”.

“Eu queria dizer a vocês que meu otimismo não é exagerado”, insistiu. “Se eu não acredito numa coisa, eu não faço.”

Uma das preocupações do presidente é o acesso ao crédito, em meio às elevadas taxas de juros praticadas no País. Não à toa, ele tornou a se dirigir ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, incentivando a execução do programa Desenrola, a fim de reduzir o endividamento da população e abrir caminho para a retomada dos empréstimos.

Ele também confia no peso que o retorno do investimento significativo em infraestrutura pode ter sobre o crescimento econômico. O “Novo PAC” – a receber um novo nome em breve – será detalhado nas próximas semanas e é visto pelo governo como um dos instrumentos mais importantes para induzir a expansão do PIB.

“Retomamos a capacidade de planejamento de longo prazo”, disse Lula nesta segunda. “E esse planejamento será traduzido em um grande programa que traz de volta o papel do setor público como indutor dos investimentos estratégicos em infraestrutura.”

Esses objetivos terão de ser atingidos sob a vigência de uma nova regra fiscal, embora não tão restritiva quanto o atual teto de gastos. O arcabouço apresentado por Haddad em março estabelece uma relação entre a despesa e a receita, fixando o limite de crescimento dos gastos a 70% da variação da receita primária nos 12 meses anteriores. Por exemplo: se o total arrecadado for de 1.000 reais, o governo poderá subir suas despesas em no máximo 700 reais.

Se as alas à esquerda no PT veem com reserva o plano de Haddad, Lula elogiou o ministro e disse ter certeza de que a regra fiscal será aprovada pelo Congresso e gerará frutos ao País. Nesse momento, o presidente aproveitou para voltar a criticar a condução da política monetária pelo Banco Central, sob a liderança de Roberto Campos Neto.

“13,75%… É muito a alta a taxa de juros”, reforçou. “Continuo achando que estão brincando com o País, sobretudo com o povo pobre e os empresários que querem investir. Só não vê quem não quer.”

De forma geral, o tom da reunião ministerial desta segunda teve o objetivo de retirar a pressão por resultados de grande impacto em um trimestre (“temos mais 1.360 dias para seguir reconstruindo este País”), mas também de insistir no slogan de que “o Brasil voltou”. Além do 8 de Janeiro, destacou Lula, há as consequências dos gastos do governo Bolsonaro em 2022 “na perspectiva de perpetuar o fascismo no País“.

Esta semana, com o início da tramitação no Congresso Nacional de quatro medidas provisórias imprescindíveis para o funcionamento do governo, tende a marcar os primeiros testes de fogo para a base parlamentar de Lula e para o próprio otimismo do presidente.

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