Economia

A Semana do Mercado: Servidores em greve e indicadores de varejo no radar

Privados pela greve dos funcionários do Banco Central do boletim Focus e boa parte das séries estatísticas do BC, os mercados aguardam os dados do IBGE

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Foto: Reprodução/Febraban
Apoie Siga-nos no

Em uma semana encurtada pela Páscoa, as atenções dos mercados se voltam para as paralisações do setor público, em particular a dos funcionários do Banco Central, que já leva uma semana e deixa os agentes do mercado sem um norte. Já no cenário internacional, se destacam as eleições na França e os dados sobre inflação nos Estados Unidos e na Europa, que indicarão o rumo dos juros nas praças dominantes do mundo. 

Pelo calendário, o Banco Central deveria divulgar o Índice de Atividade Econômica —a prévia do PIB — de fevereiro na 5ª feira, mas já informou, na 6ª feira, que não publicará o resultado por conta da greve. Também deixou, por duas vezes, de publicar o Boletim Focus, além de indicadores como o fluxo cambial e a dívida bruta do país no mês de março. Além dos funcionários do BC, que reivindicam reajuste de 26%, outras carreiras já anunciaram movimentos semelhantes para esta semana, como analistas do Comércio Exterior, funcionários da Comissão de Valores Mobiliários; analistas e técnicos de Planejamento e Orçamento; auditores e técnicos do Tesouro Nacional e funcionários da Susep. 

Privados pela greve dos funcionários do Banco Central do boletim Focus e boa parte das séries estatísticas do BC, os mercados aguardam os dados do IBGE sobre os setores de serviços (previstos para amanhã) e varejo (previstos para a quarta), que testarão a percepção de melhora do ritmo da atividade neste início de ano, após o IPCA de março, que ficou em 1,62%, levar o acumulado de 12 meses da inflação para 11,30%, o maior patamar desde 2013 e muito acima do centro da meta de inflação prevista para este ano, de 3,5%. Além disso, a alta da inflação vem sendo sustentada por aumentos consistentes em vários preços, começando pelos alimentos. Em seu relatório, o IBGE chamou a atenção para os avanços de itens como cenoura (166% mais cara) e tomate (27% mais caro), além de vários outros componentes da cesta básica. Ainda segundo o IBGE, o indicador de difusão, que mede o percentual de produtos e serviços em crescimento ou queda, foi de 76%. Ou seja, os preços de mais de três quartos dos itens da cesta de produtos acompanhada pelo IBGE estão avançando. 

Em palestra virtual a empresas do mercado financeiro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu que esta inflação não é de oferta, como se dizia durante a pandemia, mas de demanda – ou seja, é, sim, sensível à alta da taxa de juros, ao contrário do que críticos dos BCs vêm afirmando. 

Em resumo, a pergunta é: o BC, que na prática se comprometeu em levar a taxa Selic, o juro básico da economia a 12,75% a.a até o final do ano vai se contentar com esses patamares? A curva de juros diz que não, responde Rafael Bevilacqua, estrategista chefe da casa de análise Levante, apontando a alta de praticamente todos os vencimentos dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (o custo do dinheiro nas transações entre bancos). Para janeiro de 2023, subiram 0,15 ponto percentual (de 12,75% para 12,90%); para janeiro de 2024 avançaram ainda mais, subindo de 12,16% para 12,46%.

O especialista lembra ainda que a edição mais recente do Relatório Trimestral de Inflação, o RTI, estimava que a taxa norte-americana equivalente à nossa Selic, a Fed Funds Rate, seraia de 1,75% no fim de 2022. Os comunicados mais recentes do Federal Reserve, porém,mostram que essa expectativa já caiu por terra, sendo bastante provável que os juros nos EUA encerrem o ano a 2%, nos cálculos mais conservadores, até 2,50%

Uma pesquisa da agência Reuters com centenas de economistas, divulgada na manhã desta segunda, mostra que o que 85 deles esperam uma alta de 0,5 ponto percentual da Fed Funds Rate na reunião do Federal Open Market Committee (Fomc, o comitê de política monetária do Fed) em maio e outros 52 esperam nova alta de meio ponto em junho, o que elevaria a taxa básica para 1,50% no fim do semestre. A Reuters ressalta que duas altas de meio ponto sucessivas não ocorrem desde 1994. Se isso acontecer, o fluxo de dólares para o Brasil pode arrefecer, fazendo o câmbio voltar a subir. Na semana passada o dólar acumulou alta de 1,13%, encerrando a sexta-feira cotado em 4,7513 reais.

Lá fora, o desempenho do presidente Emmanuel Macron nas eleições francesas — irá ao segundo turno com pouco menos de quatro pontos à frente da líder populista de direita Marine Le Pen — ensejou uma alta modesta dos títulos da zona do euro e da própria moeda europeia, refletindo o alívio moderado dos mercados com esse resultado, de modo que, por ora, as maiores expectativas se voltaram para os índices de preços da Europa e dos Estados Unidos, que serão divulgados a partir de amanhã e podem influenciar as perspectivas sobre o aperto monetário do Federal Reserve e do BCE (Banco Central Europeu). O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) dos EUA sairá nesta terça. 

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo