Economia
A Semana do Mercado: Servidores em greve e indicadores de varejo no radar
Privados pela greve dos funcionários do Banco Central do boletim Focus e boa parte das séries estatísticas do BC, os mercados aguardam os dados do IBGE
Em uma semana encurtada pela Páscoa, as atenções dos mercados se voltam para as paralisações do setor público, em particular a dos funcionários do Banco Central, que já leva uma semana e deixa os agentes do mercado sem um norte. Já no cenário internacional, se destacam as eleições na França e os dados sobre inflação nos Estados Unidos e na Europa, que indicarão o rumo dos juros nas praças dominantes do mundo.
Pelo calendário, o Banco Central deveria divulgar o Índice de Atividade Econômica —a prévia do PIB — de fevereiro na 5ª feira, mas já informou, na 6ª feira, que não publicará o resultado por conta da greve. Também deixou, por duas vezes, de publicar o Boletim Focus, além de indicadores como o fluxo cambial e a dívida bruta do país no mês de março. Além dos funcionários do BC, que reivindicam reajuste de 26%, outras carreiras já anunciaram movimentos semelhantes para esta semana, como analistas do Comércio Exterior, funcionários da Comissão de Valores Mobiliários; analistas e técnicos de Planejamento e Orçamento; auditores e técnicos do Tesouro Nacional e funcionários da Susep.
Privados pela greve dos funcionários do Banco Central do boletim Focus e boa parte das séries estatísticas do BC, os mercados aguardam os dados do IBGE sobre os setores de serviços (previstos para amanhã) e varejo (previstos para a quarta), que testarão a percepção de melhora do ritmo da atividade neste início de ano, após o IPCA de março, que ficou em 1,62%, levar o acumulado de 12 meses da inflação para 11,30%, o maior patamar desde 2013 e muito acima do centro da meta de inflação prevista para este ano, de 3,5%. Além disso, a alta da inflação vem sendo sustentada por aumentos consistentes em vários preços, começando pelos alimentos. Em seu relatório, o IBGE chamou a atenção para os avanços de itens como cenoura (166% mais cara) e tomate (27% mais caro), além de vários outros componentes da cesta básica. Ainda segundo o IBGE, o indicador de difusão, que mede o percentual de produtos e serviços em crescimento ou queda, foi de 76%. Ou seja, os preços de mais de três quartos dos itens da cesta de produtos acompanhada pelo IBGE estão avançando.
Em palestra virtual a empresas do mercado financeiro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu que esta inflação não é de oferta, como se dizia durante a pandemia, mas de demanda – ou seja, é, sim, sensível à alta da taxa de juros, ao contrário do que críticos dos BCs vêm afirmando.
Em resumo, a pergunta é: o BC, que na prática se comprometeu em levar a taxa Selic, o juro básico da economia a 12,75% a.a até o final do ano vai se contentar com esses patamares? A curva de juros diz que não, responde Rafael Bevilacqua, estrategista chefe da casa de análise Levante, apontando a alta de praticamente todos os vencimentos dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (o custo do dinheiro nas transações entre bancos). Para janeiro de 2023, subiram 0,15 ponto percentual (de 12,75% para 12,90%); para janeiro de 2024 avançaram ainda mais, subindo de 12,16% para 12,46%.
O especialista lembra ainda que a edição mais recente do Relatório Trimestral de Inflação, o RTI, estimava que a taxa norte-americana equivalente à nossa Selic, a Fed Funds Rate, seraia de 1,75% no fim de 2022. Os comunicados mais recentes do Federal Reserve, porém,mostram que essa expectativa já caiu por terra, sendo bastante provável que os juros nos EUA encerrem o ano a 2%, nos cálculos mais conservadores, até 2,50%.
Uma pesquisa da agência Reuters com centenas de economistas, divulgada na manhã desta segunda, mostra que o que 85 deles esperam uma alta de 0,5 ponto percentual da Fed Funds Rate na reunião do Federal Open Market Committee (Fomc, o comitê de política monetária do Fed) em maio e outros 52 esperam nova alta de meio ponto em junho, o que elevaria a taxa básica para 1,50% no fim do semestre. A Reuters ressalta que duas altas de meio ponto sucessivas não ocorrem desde 1994. Se isso acontecer, o fluxo de dólares para o Brasil pode arrefecer, fazendo o câmbio voltar a subir. Na semana passada o dólar acumulou alta de 1,13%, encerrando a sexta-feira cotado em 4,7513 reais.
Lá fora, o desempenho do presidente Emmanuel Macron nas eleições francesas — irá ao segundo turno com pouco menos de quatro pontos à frente da líder populista de direita Marine Le Pen — ensejou uma alta modesta dos títulos da zona do euro e da própria moeda europeia, refletindo o alívio moderado dos mercados com esse resultado, de modo que, por ora, as maiores expectativas se voltaram para os índices de preços da Europa e dos Estados Unidos, que serão divulgados a partir de amanhã e podem influenciar as perspectivas sobre o aperto monetário do Federal Reserve e do BCE (Banco Central Europeu). O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) dos EUA sairá nesta terça.
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