Economia

A Semana do Mercado: Nem a Ômicron tira a PEC dos Precatórios do radar

O editor de Finanças William Salasar apresenta as principais tendências da abertura dos mercados nesta segunda-feira 29

Bolsonaro, ao centro, com o Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Foto: SERGIO LIMA/AFP
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Enquanto ao redor do mundo os mercados continuam apreensivos com a nova variante da Covid-19, a Ômicron, por aqui as atenções permanecem voltadas para a PEC dos Precatórios, que poderá ir a votação amanhã, tanto na Comissão de Constituição e Justiça quanto no plenário do Senado, enquanto se deterioram as expectativas de inflação e crescimento para este e para o próximo ano.

Depois das fortes baixas do final da semana passada por causa da potencial ameaça da Ômicron à reabertura da economia global, os índices de ações europeus recuperaram cerca de um terço do que haviam perdido na sexta-feira 26, enquanto moedas de mercados emergentes, petróleo e metais básicos também desfrutaram de recuperações de força variável durante a noite e as bolsas americanas, que estavam ou fechadas (na quinta-feira, Dia de Ação de Graças) ou operando meio período (na sexta), abriram hoje em alta – mesmo sem confirmação de que a nova cepa representa mesmo uma ameaça maior do que a variante Delta. A bolsa brasileira acompanhava o exterior. Por volta das 13 horas, o Índice Bovespa subia 0,81%, com 103.464 pontos, mal e mal recuperando uma pequena parte da estrondosa queda de 3,39% no pânico da sexta-feira.

A Ômicron minou a expectativa dos mercados num aperto – ainda que leve – da política monetária do Federal Reserve (o Fed, banco central dos Estados Unidos), cujo presidente, o republicano Jerome Powell, foi confirmado no cargo por mais quatro anos, na semana passada, pelo presidente Joe Biden – que, em contrapartida, promoveu a vice de Powell a democrata Lael Bainard.

Os investidores e analistas já aguardavam os pronunciamentos marcados para hoje, amanhã e quarta-feira, por causa desse arranjo, para ver se e quanto influiria na condução futura da política monetária, se implicaria em manutenção ou não do ritmo atual de redução das compras de títulos pelo Fed e nas perspectivas da taxa de juros básica norte-americana. A irrupção da nova variante colocou um dado novo no tabuleiro, pois uma nova onda de restrições à atividade econômica poderia levar o Fed – assim como outros bancos centrais – a retomar os estímulos monetários que estavam em vias de ser desmontados.

Na seara política nacional, o destaque fica com o andamento da PEC dos Precatórios no Senado. A votação na Comissão de Constituição e Justiça está, inicialmente, marcada para a próxima quarta-feira 1º. Caso a votação na CCJ ocorra, a PEC poderá ser analisada no plenário. Porém, se houver alterações significativas no texto-base, a matéria poderá retornar à Câmara, o que atrasaria o trâmite a poucas semanas do recesso parlamentar. E mesmo com grandes mudanças no texto oriundo da Câmara (que aprofundam as pedaladas em várias frentes), não há segurança de que haja 49 votos necessários para a aprovação.

Entre indicadores desta semana, destaque para o IGP-M de novembro, divulgado nesta manhã, e o Produto Interno Bruto referente ao terceiro trimestre de 2021. Os analistas do Itaú preveem estagnação do PIB em relação ao segundo trimestre e crescimento de 4,3% na comparação com o mesmo período do ano passado, que ainda estava fortemente impactado pela pandemia.

O Índice Geral de Preços do Mercado de novembro veio abaixo do piso das estimativas e avançou apenas 0,02% em novembro, quando a mediana das projeções era de 0,30%, após atingir 0,64% em outubro. Com isso, o IGP-M acumula 17,89% de alta em 12 meses, contra avanço de 21,73% no mesmo período até outubro deste ano. A desaceleração do IGP foi explicada principalmente pela queda de 0,29% dos preços ao produtor, refletindo o recuo dos preços do minério de ferro no período. A queda da soja e do milho também ajudou a mais do que compensar a alta do diesel e da gasolina. O Índice Nacional dos Custos de Construção variou 0,71% em novembro, ante 0,80% em outubro, e os preços ao consumidor, por sua vez, desaceleraram de 1,05% para 0,93% no período, refletindo o alívio em quase todas as categorias, com destaque para habitação e alimentação. “Em três ou quatro meses, essa inflexão para baixo do IGP-M tende a ser refletir no IPCA”, assinala o professor Alberto Ajzental, da Fundação Getúlio Vargas.

“O IGP-M ‘sente’ primeiro a inflação até porque nossa inflação é importada, ela veio de fora, porque o petróleo tipo Brent bateu 82/83 dólares o barril – antes da pandemia, em janeiro de 2020, estava em 52 dólares o barril. “Aí, sobem gasolina e diesel, sobe tudo”, explica ele. Com outras commodities caindo nos mercados internacionais, como o minério de ferro, o IPG-M começa a apontar para baixo e deverá se refletir no Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que é o índice de inflação oficial do País.

“Muita gente vai dizer que o IPCA vai começar a cair por causa da Selic (a taxa básica de juros, que o Banco Central vem elevando desde março), mas a Selic não faz cair o preço do óleo Brent, nem tem conseguido fazer cair o dólar – que não cai porque, se tudo estivesse mais ou menos tranquilo, subia a Selic, vinha dinheiro de fora para ser aplicado aqui. Só que o ambiente político e o ambiente econômico estão de tal forma deteriorados, internamente, que a subida da taxa básica só faz piorar o cenário, porque cada ponto percentual de alta custa ao Tesouro 32 bilhões de reais por ano. Já custou 39 bilhões desde março”, observa Ajzental.

Mesmo refletindo a inflexão do IPG-M nas expectativas colhidas pelo BC para seu relatório Focus, os economistas do mercado financeiro continuam esperando maior aceleração do IPCA para este ano e para 2022. A edição do Focus divulgada hoje mostra que, para 2021, a projeção deste índice subiu, pela 34ª semana seguida, indo a 10,15% (ante 10,12% da semana passada), bem acima da meta de inflação que o BC deve atingir, de 3,75% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para 2022, as expectativas aumentaram 0,04 ponto, para 5,0%, exatamente o teto da meta, já que este será no ano que vem de 3,5%, também com margem de 1,5 ponto. Foi a 19ª vez seguida que a projeção aumentou.

A contínua deterioração das perspectivas de inflação acompanha projeções cada vez mais fracas para a economia: PIB deve crescer 4,78% este ano (ante 4,80% na apuração anterior) e 0,58% no próximo, ante um crescimento de 0,70% na pesquisa da semana passada.

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