Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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‘Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo’ vai bem ao expor as tensões vividas pelo grupo

Ao longo de quase duas horas, o filme detalha a ‘missão’ do grupo a partir de relatos dos quatro integrantes

“Mano Brown disse que, se fosse batizar, os Racionais hoje se chamariam Emocionais”, lembra Emicida. Foto: KLAUS MITTELDORF
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Lançado há poucos dias pela Netflix, o documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo mostra a trajetória de estrondoso sucesso do grupo, há 30 anos expondo tensões sociais de forma aguda.

Ao longo de quase duas horas, o filme detalha a ‘missão’ do grupo a partir de relatos dos quatro integrantes. Um forte ingrediente é a frequente perseguição policial contra os quatro, antes e depois do sucesso.

Obviamente, o tema acabou dando o tom das músicas dos Racionais, o que provocou ainda mais tensão com o braço armado do Estado – o filme vai bem ao mostrar esse conflito em diversos momentos da história do grupo. 

Dos desafios iniciais até o sucesso, Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay sempre caminharam em campo minado. Se não tivessem dado certo como músicos, talvez trilhassem outro destino comum nas periferias – foi o que aconteceu com o rapper Dexter, responsável por conectar os Racionais à realidade do caótico sistema prisional brasileiro. Antes de se tornar um brilhante rapper, Dexter passou mais de dez anos preso por um assalto. 

Outro ponto que chama à atenção é quando eles tratam do disco mais emblemático da banda, o potente Sobrevivendo no Inferno (1997). Embora se concentre totalmente na realidade da favela, o álbum afastou os Racionais da periferia. Quem gostou do disco, nas palavras do próprio Mano Brown, foram os universitários.

Entre os moradores das periferias, o disco acabou criando um clima muito pesado, fazendo o grupo se afastar por um tempo desses temas. 

As palavras ditas por Mano Brown logo no início do filme, reconhecendo como “mais fortes” aqueles que não viraram comida de tubarão, são referência aos negros que atravessaram o Atlântico nos navios negreiros e sobreviveram.

No fim, Racionais: Das ruas de São Paulo pro Mundo faz pensar sobre o quanto ainda vale a pena retratar a dura realidade brasileira, que pouco sensibiliza a quem pode fazer algo. Mas não deixa de ser um tapa na cara de playboys de verde e amarela bradando na porta dos quartéis – o território onde eles precisam clamar por Justiça está a quilômetros de distância. 

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