Cultura
Maricá lança plataforma de streaming ‘de esquerda’
A prefeitura deve lançar um edital, ainda este ano, prevendo aportes de 500 mil reais para licenciamento de conteúdos


Cidade do litoral do Rio de Janeiro governada há 14 anos pelo PT, Maricá, com 150 mil habitantes, ganhou fama nacional graças a seu pioneirismo em políticas públicas inovadoras como a universalização do transporte público gratuito e a adoção de um programa de renda básica para a população, com direito a banco comunitário e moeda social municipal, a mumbuca, paritária ao real.
Com a volta dos incentivos e investimentos do governo federal aos projetos culturais, a aposta da administração municipal agora é a Maricá Filmes, plataforma de streaming lançada em abril com a promessa de um edital, a ser publicado ainda este ano, com aporte de 500 mil reais para licenciamento de conteúdos em filmes de curta, média e longa metragem.
O coquetel de lançamento da plataforma contou com a presença de nomes conhecidos, como o ator Jackson Antunes e os cineastas Silvio Tendler e Flávio Tambellini, entre outros. O ator e diretor Antônio Pitanga, que está filmando em Maricá parte do longa Malês, saudou a iniciativa: “Maricá é o estúdio aberto desse Brasil”, disse.
Também prestigiou o lançamento o presidente da Ancine, Alex Braga, o que aponta para possíveis futuras parcerias com o governo federal: “Estamos fazendo uma articulação múltipla e plural com o MinC para estabelecer políticas públicas estruturantes, sustentáveis e duradouras.”
Presidente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá, Carlos Senna ressalta que o município sempre atraiu a indústria cinematográfica, tendo sido cenário para inúmeras produções do cinema nacional e sede de cidades cenográficas: “Iniciamos um conjunto de ações que buscam incluir e expandir as atividades do setor já ocorrentes no município, priorizando a valorização científica e social”, diz.
O fomento imaginado pelo Instituto consiste na união entre a formação técnica de profissionais para o mercado audiovisual e a produção escalonada de obras audiovisuais através de projetos que atraiam produtoras já consolidadas no mercado nacional e internacional. O objetivo, diz Senna, é alavancar o setor audiovisual na região “com sustentabilidade e inovação social, gerando novos empregos diretos e indiretos e aumento da renda per capita municipal”.
Por intermédio da Maricá Filmes, a prefeitura irá apoiar produtoras independentes que desejarem se estabelecer no município e projetos e programas voltados à inclusão e inovação social, como, por exemplo, a abertura ou manutenção de salas de cinemas populares e cineclubes e o apoio a eventos como festivais e mostras. Além disso, há acordos para a instalação de programas públicos de graduação, pós-graduação e qualificação técnica e científica voltados para diferentes áreas do audiovisual.
“De 2003 a 2016 houve a valorização da produção nacional e a atração da produção internacional pelo Brasil. Os movimentos das instituições do audiovisual geraram renda e emprego enquanto garantiram crescimento econômico e social. Com a restituição do Minc, assim como a retomada das atividades da Ancine, o ICTIM irá, dentro de suas atribuições, dialogar com as diferentes esferas governamentais para garantir a vanguarda nesta reconstrução audiovisual nacional”, diz Senna.
A prefeitura de Maricá lançou este mês a programação de 2023 que será exibida gratuitamente para a população no Cine Henfil, cinema público municipal administrado pelo Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip). Na abertura, em 4 de maio, foram exibidos os filmes Dedo na Ferida, de Silvio Tendler, que ganhou o prêmio no Festival do Rio em 2017 como melhor documentário pelo júri popular, e Socorro, de Susanna Lira, sobre a líder comunitária Socorro do Burajuba, do município de Barcarena, no Pará, área de inúmeros conflitos ambientais e sociais.
O secretário de Cultura, Sady Bianchin, diz que a programação escolhida se preocupa com a reflexão, formação e inclusão social: “Pensamos a cidade inteligente por meio das artes. Uma cidade sustentável, afetiva, solidária, cooperativa e, sobretudo, humanística.”
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