Cultura
Cacá Diegues, pioneiro do Cinema Novo, morre aos 84 anos
Desde 2018, o cineasta era integrante da Academia Brasileira de Letras


Morreu na madrugada desta sexta-feira 14, aos 84 anos, o cineasta Cacá Diegues, um dos grandes nomes da história do cinema brasileiro. Ele morreu no Rio de Janeiro, vítima de complicações de uma cirurgia.
Nascido em Maceió, capital de Alagoas, em 19 de maio de 1940, ele foi um dos fundadores do movimento Cinema Novo, na década de 1960, ao lado de Glauber Rocha, Nelson Pereira da Rocha e outros nomes históricos.
Pioneiro no movimento característico do cinema brasileiro, Diegues foi responsável por obras que tiveram forte repercussão internacional, como Xica da Silva, Bye Bye Brasil e Um Trem para as Estrelas.
Para além do trabalho artístico e cultural, o cineasta foi também um combativo opositor da ditadura militar e nome importante da resistência brasileira. Ele chegou a viver exilado na Itália e na França.
Em 2018, Diegues foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira que foi do amigo Nelson Pereira dos Santos. “Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística ao abordar temas sociais e culturais com sensibilidade. Durante a ditadura militar, viveu no exílio, mas se manteve sempre ativo no debate sobre política, cultura e cinema”, manifestou a ABL, em nota de pesar nesta sexta.
O velório de Cacá Diegues acontecerá na sede da ABL, no centro do Rio de Janeiro, a partir das 9h deste sábado 15. O corpo será cremado em um cemitério do Rio, cidade onde ele passou a maior parte da vida.
Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que recebeu “com muito pesar a notícia do falecimento de Cacá Diegues, que durante sua vida levou o Brasil e a cultura brasileira para as telas do cinema e conquistou a atenção de todo o mundo”.
“Ganga Zumba, Xica da Silva, Bye, bye Brasil, e, mais, recentemente, Deus é Brasileiro mostram muito bem nossa história, nosso jeito de ser, nossa criatividade. E representam a luta de nosso cinema, que sempre se reergueu quando tentaram derrubá-lo”, complementou o presidente, em nota oficial.
Ativismo político
O cineasta jamais deixou de se posicionar politicamente. Em seu último artigo no O Globo, publicado no domingo 9, falou sobre a deportação de imigrantes pelo governo de Donald Trump, nos estados Unidos.
“Temos sido testemunhas de um inimaginável retrocesso em curso. É como se estivéssemos vendo todas as históricas conquistas civilizatórias e humanistas irem para o lixo, refundando-se a barbárie, onde só vale a lei do mais forte. Tristes tempos”, escreveu.
Nos últimos meses ele também mostrou empolgação com o sucesso internacional de Ainda Estou Aqui e de Fernanda Torres.
“Eunice Paiva era ícone de resiliência e reinvenção. ‘A vida vale a pena’ é uma reflexão relevante e significa viver plenamente”, escreveu, citando frase da atriz que interpreta a viúva de Rubens Paiva.
“Fazer a vida valer a pena não significa acumular riquezas ou status, mas sim viver com propósito, em equilíbrio. A mensagem que fica é que a vida deve ser um palco para a expressão pessoal. Que cada um de nós encontre seu próprio caminho para fazer da vida uma honra”, completou, também em coluna em O Globo.
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