CartaExpressa
Após recorde de desmatamento, Bolsonaro diz ter ido ao Catar vender ‘turismo na Amazônia’
O presidente é um grande defensor da exploração da floresta e tem trabalhado contra mecanismos de controle na região


Na sua chegada ao Catar, nesta quarta-feira 17, o presidente Jair Bolsonaro disse que está ‘falando muito em turismo na região Amazônica’ com os estrangeiros. A declaração foi registrada em um balanço divulgado em suas redes sociais e segue a linha de entreguismo do governo.
“Realmente, o que nós vendemos aqui é a verdade acima de tudo. Pode ter certeza de que essa viagem produz frutos que nós levaremos para o Brasil. Temos falado muito em turismo na região Amazônica, em cooperação na área de energia, infraestrutura, portos, aeroportos, material de defesa, material da nossa Embraer”, destacou Bolsonaro.
A ‘prestação de contas’ confirma os discursos dos ministros que o acompanham. No domingo 14, Paulo Guedes, da Economia, disse estar no local em busca de ‘petrodólares’ e fez diversas menções à abertura total do País para o dinheiro dos árabes.
Para ‘vender a Amazônia’, o presidente brasileiro também mentiu aos investidores da região. Na segunda, disse que a floresta estaria ‘90% intacta, como em 1.500’, e não pegaria fogo por ser um local úmido. Bolsonaro, no entanto, omitiu os dados oficiais de mais de 100 mil focos de incêndio na Amazônia em 2020, além do desmatamento recorde registrado em outubro. Diferente do que declarou no ‘balanço’, portanto, o ex-capitão não ‘vendeu a verdade’ aos estrangeiros.
Os dados negativos comprovam as poucas ações do governo federal na proteção da Amazônia e resultam do descontrole ambiental promovido pela atual gestão. Incentivos ao garimpo e ao agronegócio na região também contribuem para a deterioração dos indicadores, bem como para o aumento da violência contra os povos originários locais.
Novamente, Bolsonaro também aproveitou a publicação para tentar minimizar as suspeitas sobre os seus gastos com viagens. No vídeo, fez questão de reafirmar que a estadia em hotéis luxuosos é uma cortesia dos governos locais. “0800, como dizem”, ressaltou o presidente em vídeo. Como mostrou CartaCapital, o discurso de ‘respeito ao dinheiro público’ exibido nas redes sociais não se confirma nos ‘passeios’ oficiais de Bolsonaro.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Governo Bolsonaro interferiu na prova do Enem, apontam ex-funcionários do Inep
Por Marina Verenicz
Criticado por viagens, Bolsonaro agradece ‘estadia gratuita’ em hotel de luxo no Bahrein
Por Getulio Xavier