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Quatro pontos que precisamos aprender!

É imprescindível resgatar a utopia, seja ela o socialismo, anarquismo, comunismo, bem-viver, quilombismo ou Reino de Deus

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Nesse cenário de um novo governo, composto por diferentes grupos de poder, existem os setores judiciário, militar, econômico e outro que seria o setor do fundamentalismo/moral.  Eles assumiram como tarefa mudar o Estado brasileiro acabando com o pacto da constituição de 1988.

Já foi apontada como principal agenda a Reforma da Previdência, e como não é possível tirar direitos sem prender ou matar pessoas, temos também o pacote “anti-crime” do Ministro Sérgio Moro, além de todo ataque à educação, aos direitos ambientais e a participação popular. Dentre esses desafios, quais seriam nossas tarefas?

Em vez de ficar hierarquizando pautas, quero aqui apresentar quatro pontos que são transversais a todas as formas de lutas, pois sou daqueles que acham que a grande cortina de fumaça não é chamar atenção para um lugar e tirar de outro e sim lançar muitos debates ao mesmo tempo, o que não nos permite agilidade para respondê-los.

Não acho que a questão esteja na pauta acertada e sim na nossa real ligação com a base popular do nosso País. Está aberta uma janela histórica em que devemos nos unir em diferentes escalas, para resistir e para propor, mantendo nossa diversidade e aprendendo com os erros que todos nós cometemos, sem autoindulgência.

Acredito na articulação daqueles e daquelas que confiam que outro mundo é possível e querem fazer algo por isso. Que não veem esse momento como o fim, que não se deixam levar pelo medo e não aceitam ser eliminados, pois sabem que sobrevivemos a escravidão, ao nazismo e a ditadura.

Nossos inimigos vão ficar com a vergonha da história e vamos recomeçar. Para alcançarmos isso, o que fazer?

Sou evangélico pentecostal e progressista – sim, isso existe e é possível. Faço parte da Igreja Evangélica Projeto Além do Nosso, do Coletivo Esperançar e da Frente de Evangélicos pelo Estado Democrático de Direitos. Foi dentro da igreja que aprendi o que apresento abaixo e ainda pretendo falar disso em outros textos.

1. Dialogar com as Necessidades

Entender que precisamos dialogar com as necessidades das pessoas, o que elas realmente precisam e quais são suas urgências, não as que nós pressupomos importantes, mas o que elas estão vivendo, principalmente nos seus territórios. E agir coletivamente sobre isso de forma a demonstrar solidariedade e possibilidade de superação.

Exemplo: A maioria dos jovens não acessa a universidade, mas muitos deles desejam. É importante agir para que isso seja possível. Eu sou fundador do Pré Vestibular Popular + Nós, para dar uma resposta imediata a demanda, mas que consegue assim apontar a importância da educação pública, gratuita e de qualidade.

Outro exemplo: em muitas regiões não existe acesso à aparelhos culturais, não há teatro no bairro, também não há cinema e a ida até esses espaços são caras. Pelo custo da passagem e do ingresso, como esses jovens acessam a cultura? Uma das produções culturais em ascensão são as rodas de rimas do movimento hip-hop na qual faço parte.

Citei esses exemplos como uma demonstração de que já existem coisas acontecendo que precisam ser ampliadas e visibilizadas, não podemos querer “dialogar com o povo” sem saber o que esse povo está fazendo, ou necessitando, e isso quem mostrará são as pessoas. A igreja fez isso quando dialogou com a fome de diversas formas ou na relação com ex-presidiários, saídos do crime e dependentes químicos. Ela se colocou como uma saída.

2. Presença no Cotidiano

É preciso estar no cotidiano das pessoas. Não adianta fazermos atos uma vez por mês, é preciso estabelecer um contato direto nos territórios, de forma permanente e também através das redes. Acho que alguns movimentos conseguiram isso, como foi o processo do “Se Cidade Fosse Nossa” no Rio de Janeiro, na minha cidade estamos realizando uma experiência recente que considero bem sucedida, chamada Movimenta Caxias.

3. Se preocupar com a linguagem

É importantíssimo entender que a função da linguagem é comunicar.

Parte dos progressistas estão nas universidades, que são um espaço de poder no Brasil, que a elite pensou para sua exclusividade, por isso várias barreiras foram feitas, a da linguagem culta foi uma delas, com a função de codificação do conhecimento. É preciso superar essa questão, ser objetivo e simples, saber e respeitar que cada público possui uma forma particular de se expressar.

4. Resgatar a utopia

Esquerda e Direita são conceitos do século XVIII, da Revolução Francesa e do nascimento do capitalismo. Porém a luta dos explorados é anterior há isso e no século XX os projetos que contestaram o capitalismo, ou seja, os comunistas, socialistas e anarquistas tiveram experiências reais em alguns países, mas o Brasil não foi um deles.

Aqui a luta do povo se deu em quilombos, como em Palmares, em revoltas, como canudos, cabanagem e balaiada.

Nossa geração chega ao século XXI com a expansão do neoliberalismo, uma fase mais cruel do sistema, que motiva o individualismo e a competição e que prega a seguinte mentira:

“O mundo sempre foi assim e não vai mudar.” Diferente das gerações anteriores, crescemos sem ter um projeto em comum de futuro. É imprescindível resgatar a utopia, independente da denominação que daremos a ele, seja ela socialismo, anarquismo, comunismo, bem-viver, quilombismo ou Reino de Deus. Se não conseguirmos olhar para o horizonte, ficaremos buscando lugares seguros no passado.

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