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Os problemas no discurso de Tadeu Schmidt para exaltar o finalista branco do BBB24

A descrição de Matteus como uma figura quase angelical cria um contraste, mesmo que implícito, entre ele e seus colegas concorrentes

Créditos: TV Globo/Reprodução
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Ao anunciar Matteus como finalista do BBB 24, Tadeu Schmidt justificou a escolha do público afirmando que o jogador era naturalmente incapaz de maldade e grosseria, atribuindo suas virtudes à sua genética e criação. Esse tipo de afirmação resgata conceitos de essencialismo biológico, um discurso que simplifica a complexidade dos traços humanos ao sugerir que certas qualidades morais são inatas e imutáveis.

Em seu discurso, Tadeu Schmidt destacou que “certas mudanças vão além da capacidade física mesmo, por mais que o cérebro humano seja capaz de se adaptar, há certas coisas que ele não é capaz de fazer”. Ele seguiu afirmando que “o cérebro do Matteus é incapaz de fazer uma maldade, incapaz de fazer grosseria”. “Essa combinação da genética com a criação que ele recebeu produziu um rapaz que é imagem da pureza, gentileza, educação, humildade”, destacou o apresentador.

Ao atribuir a bondade e a incapacidade de maldade de Matteus a fatores genéticos e de criação, Tadeu Schmidt toca em conceitos que historicamente têm raízes em teorias eugenistas e na crença de que características comportamentais podem ser predeterminadas por aspectos inerentes e imutáveis. A ideia de que alguns traços morais e comportamentais são determinados geneticamente sugere que apenas indivíduos com certas composições genéticas podem exibir comportamentos moralmente superiores. Historicamente, essas teorias têm sido usadas para justificar políticas discriminatórias e excludentes, classificando grupos étnicos como inferiores ou superiores com base em características biológicas.

Na televisão e no cinema, é comum o uso de elementos visuais e comportamentais para distinguir claramente personagens “bons” e “maus”. Heróis são geralmente retratados como atraentes e altruístas, enquanto vilões são caracterizados por atributos físicos ou expressões culturalmente associadas ao mal ou à negatividade. Ao descrever Matteus, Tadeu Schmidt revive esses padrões culturais, enfatizando sua suposta incapacidade de maldade e atribuindo-a à sua genética e criação.

A descrição de Matteus como uma figura quase angelical cria um contraste, mesmo que implícito, entre ele e seus colegas concorrentes: neste caso, um homem negro e duas mulheres do Norte do país. Esse contraste pode levar o público a perceber os outros competidores sob uma luz menos favorável, influenciados por padrões sociais e culturais persistentes.

Milhões de espectadores do BBB 24, contudo, não se reconhecem nessas representações idealizadas. O público busca espelhos no entretenimento — espelhos que refletem não apenas o que é aspiracional, mas também o que é real. A diversidade autêntica exige uma representação que abrace todas as formas, incluindo as imperfeições e as lutas internas que todos enfrentamos. Quando a mídia falha em capturar essa complexidade, perde-se a oportunidade de promover a empatia e o entendimento em uma sociedade cada vez mais plural.

Às vésperas da grande final do programa, Matteus não é o líder nas pesquisas que apontam o possível vencedor dos quase três milhões de reais. Surpreendentemente, o favorito é um homem negro, da periferia, que durante o programa teve várias atitudes questionáveis. Para o público que acompanha o BBB, fica evidente que a verdadeira beleza das pessoas não se encontra na perfeição, mas sim nas imperfeições que cada um carrega.

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