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Público consagra Davi vencedor do BBB 24 – apesar do preconceito que persistiu até a final

O Brasil escolheu, como afirmou o próprio Tadeu Schmidt em seu discurso final, “o motoboy, a camelô, o cozinheiro da escola, o colocador de piso, a trancista, o motorista, o professor, a confeiteira, os endividados”

Davi Brito, campeão do BBB24. Foto: Reprodução/Gshow
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A noite que consagrou Davi Brito vencedor do BBB 24 refletiu a trajetória do brother ao longo dos 100 dias de programa: um contexto de contínuo escrutínio racial. O motorista saiu vencedor por uma expressiva margem de 60% dos mais de 200 milhões de votos. Mesmo enfrentando a persistente crítica branca, que não arrefeceu nem mesmo nos momentos finais da edição, a popularidade de Davi não vacilou. Uma demonstração de que a resistência e a autenticidade são percebidas e valorizadas pela audiência. Polêmico e cheio de contradições, Davi superou a rejeição da maioria dos adversários e terminou levando o prêmio graças à empatia diante das adversidades enfrentadas por ele dentro da casa.

Sua vitória é um reflexo de tensões sociais mais amplas. O fato de ele ser um jovem negro e nordestino, enfrentando preconceitos dentro de um ambiente altamente vigiado e competitivo, elevou a discussão para além do entretenimento. Temas como o racismo estrutural, resistência e resiliência foram discutidos ao longo da edição. Parte do público ignorou as polêmicas por se identificar com a história do rapaz preto que sonha em ser médico. E tudo isso aconteceu em uma edição onde o público torceu o nariz para os famosos.

O Brasil escolheu, como afirmou o próprio apresentador Tadeu Schmidt em seu discurso final, “o motoboy, a camelô, o cozinheiro da escola, o colocador de piso, a trancista, o motorista, o professor, a confeiteira, os endividados”.

Na noite da final, o reality reconfirmou seu lugar de destaque com o público brasileiro. O programa atingiu um pico de audiência não visto desde abril de 2022, marcando uma média de 26,5 pontos na Grande São Paulo. Mais da metade dos televisores na região estavam sintonizados na Rede Globo. Em São Paulo, superou a audiência do ano anterior em 35%. Em Manaus, a TV A Crítica, concorrente local da Globo, fez um movimento inédito ao interromper sua programação para transmitir um comunicado em apoio a Isabelle Nogueira, uma das finalistas.

Toda essa movimentação ainda fica aquém da comoção nacional que marcava as primeiras edições do programa, quando o BBB chegava a ultrapassar os 40 pontos de média. No entanto, para uma geração mais jovem, acostumada com o imediatismo dos smartphones e das redes sociais, a final do BBB 24 foi um evento de grande magnitude. No cenário atual, onde a televisão compete com múltiplas formas de entretenimento digital, a capacidade do BBB de atrair e manter uma grande audiência durante toda a noite representa um feito notável.

A decisão de retomar a essência dos primeiros anos do BBB nesta 24ª edição reavivou o espírito original que caracterizou o início do reality. Nas primeiras temporadas, as finais do programa eram eventos que movimentavam torcidas apaixonadas por todo o Brasil, um fenômeno que, embora tenha esmaecido ao longo dos anos com a mudança nos formatos e dinâmicas, foi resgatado parcialmente nesta temporada. Prova disso foi a mobilização nas cidades natais dos três finalistas, nos estados da Bahia, Manaus e Rio Grande do Sul. Foram organizados grandes eventos públicos que reuniram multidões para assistir à transmissão ao vivo da final, celebrando seus representantes locais com entusiasmo, apesar da previsibilidade do resultado que consagrou Davi como campeão.

Ao vencer o Big Brother Brasil 24, o baiano Davi Brito colocou em evidência um problema recorrente no tratamento midiático de personalidades negras. Ainda que as falas e comportamentos de Davi tenham sido, por vezes, passíveis de crítica, é preciso questionar a severidade e a frequência com que tais críticas são direcionadas a participantes negros em comparação aos brancos, que frequentemente têm atitudes semelhantes observadas com menos rigor ou completamente ignoradas pela mídia.

A vitória de Davi, portanto, reforça a importância da representatividade negra em plataformas de grande visibilidade como o BBB. Mais que um triunfo no jogo, a conquista do brother deve ser vista como pontapé para discussões mais profundas sobre igualdade racial e justiça na mídia.

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