Midiático

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A vida fora da bolha é dolorida

Participar do BBB com a mente fragilizada e uma autoimagem baseada apenas em aprovação virtual pode ser um tiro no pé

Vanessa Lopes no BBB24. Foto: Reprodução/ Globo
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Nos últimos dias, o comportamento de Vanessa Lopes tem chamado atenção de fãs do Big Brother Brasil.

A jovem de 22 anos tem, por exemplo, interpretado as músicas tocadas na casa como mensagens secretas relacionadas ao jogo, sugerindo que a produção estaria comunicando-se indiretamente com os participantes através das letras. Também chegou a expressar a crença de que os outros concorrentes seriam atores contratados para manipulá-la dentro do programa, deixando colegas perplexos.

Esses comportamentos têm gerado discussões nas redes sociais e entre os fãs do programa sobre o estado psicológico da influenciadora e as dinâmicas dentro da casa e nas redes sociais. Aqui, trago uma leitura do que pode estar acontecendo.

[ATUALIZAÇÃO: Na tarde desta sexta-feira 19, após a publicação deste texto, Vanessa Lopes deixou o Big Brother Brasil]

Embora acumule mais de 40 milhões de seguidores nas redes sociais, Vanessa Lopes não nasceu famosa. Cresceu nas redes recentemente, por volta de 2021 e 2022.

Seu sucesso deve-se em grande parte ao TikTok, onde predominam danças e entretenimento leve, sem muita profundidade ou debates intensos. A plataforma é conhecida por atrair um público jovem e por vezes gerar ondas de hate.

Seus pais, que já passam dos 40 anos, parecem ter apreciado a fama repentina proporcionada pela filha. Mas, embora sempre tenham gozado de boa situação financeira, a fama é também uma novidade para eles.

Vanessa sempre foi bastante ‘blindada’ por eles. É difícil, porém, se expor na internet sem furar essa proteção.

Vanessa sofreu ataques virtuais, especialmente após o lançamento de uma música que, apesar das expectativas de sucesso devido ao seu engajamento online, virou piada em todo o Brasil. Também foi criticada por suas escolhas de moda.

Além disso, envolveu-se na controvérsia entre o surfista Gabriel Medina e a modelo Yasmin Brunet, sendo apontada por alguns como causa da separação do casal, apesar de outras fontes desmentirem os boatos.

A posição política da família, que apoiou Jair Bolsonaro, e outros episódios na internet também contribuíram para a sua imagem controversa.

Sua resistência psicológica frente ao julgamento público nunca foi das melhores. Em resposta às críticas, a narrativa adotada era de que toda negatividade se devia à inveja. Toda crítica é de gente infeliz: Vanessa é perfeita, maravilhosa, amiga de todos os famosos, frequenta as melhores festas.

Essa visão pode ser prejudicial, especialmente quando falta uma base sólida de autoconhecimento.

Antes de entrar no Big Brother Brasil, os participantes são avaliados por um psicólogo. Vanessa afirmou fazer terapia. Por que, então, estamos vendo tudo isso nos primeiros 15 dias do programa? Seu comportamento, a meu ver, reflete as pressões e desafios da casa, especialmente após a saída de um participante com quem ela tinha afinidade, embora ela tivesse certeza de que outro concorrente sairia.

Vanessa teve que lidar com uma experiência inédita: estar errada. Agora, mostra desconfiança, criando teorias para justificar suas percepções. Não ter formado amizades femininas significativas na casa e culpar outras mulheres por conflitos, ao invés de reconhecer sua própria participação, também é preocupante.

Ela é também muito focada em redes sociais, likes e números. Na casa, sem acesso a esses recursos, ela parece perdida, preocupada com sua imagem. Vive se olhando no espelho (já que não tem celular e internet) e diz que está “fazendo stories“.

Seu comportamento sugere egocentrismo e dificuldade em confiar nos outros. Ela acredita ser a única correta, apoiada pela família e assessores. Como se eles fossem entrar na casa e intervir.

Participar de um reality show com uma mente fragilizada e uma autoimagem baseada apenas em aprovação virtual pode ser um tiro no pé. A negação dos pais em relação às suas dificuldades só agrava a situação.

Seria mais apropriado que os pais reconhecessem publicamente as dificuldades enfrentadas por Vanessa, oferecendo apoio e amor. Em vez disso, eles reforçam a narrativa de que ela está certa e é vítima de inveja.

Quando ela mencionou que os pais são distantes, isso suscita dúvidas sobre a precisão de sua percepção.

A pouca idade não é justificativa. A comparação com Jade Picon, que entrou no programa aos 20 anos demonstrando maturidade e firmeza, mostra como o suporte familiar e uma base emocional sólida são fundamentais.

A experiência no BBB pode ser uma oportunidade de despertar para Vanessa, incentivando-a a buscar mais apoio profissional e a desenvolver uma perspectiva mais realista sobre a vida fora do ambiente virtual.

A vida fora da bolha é dolorida.

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