Fashion Revolution

Novo ano, velhas cobranças: Fashion Revolution segue demandando da moda mais responsabilidade 

A COP28 pode ter acabado, mas o El Niño e as mudanças climáticas continuam

Fonte: Reuters; Thaier Al-Sudani
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O ano de 2023 fechou com uma agenda ambiental movimentada: duas semanas intensas de Conferência das Partes (COP 28), o maior leilão de poços de petróleo no Brasil, aprovação do Marco Temporal e do Pacote do Veneno. O ano passou, mas as demandas do Fashion Revolution seguem as mesmas: o comprometimento da indústria da moda com sua responsabilidade socioclimática. Transição energética, descarbonização, transparência e salários justos são algumas das exigências do maior movimento de ativismo de moda do mundo.

Os processos na rede produtiva de abastecimento da moda podem ser extremamente intensivos em água, produtos químicos e energia. Segundo o Índice de Transparência da Moda Brasileira 2023 (ITMB23), as fibras sintéticas correspondem a 62% das fibras utilizadas na indústria da moda. Derivado do petróleo, elas expõem a forte dependência do setor com os combustíveis fósseis. “Existe uma correlação entre o crescimento da produção de poliéster e o aumento vertiginoso da produção de roupas, já que a superprodução demanda a disponibilidade de uma matéria-prima mais barata”, destaca o relatório.

Uma das demandas do Fashion Revolution é que a indústria da moda se comprometa com as metas climáticas alinhadas com as recomendações de Net-zero (emissões líquidas) da ONU. Isso significa uma redução de 55% nas emissões da cadeia de abastecimento até 2030 e um distanciamento significativo da indústria fóssil. Porém, o setor ruma justamente para a direção contrária: ainda segundo o ITMB23, se mudanças não forem feitas, até 2030, 73% dos tecidos produzidos serão feitos de petróleo.

A responsabilidade da indústria da moda na crise climática é inegável e é por isso que o Fashion Revolution esteve presente na COP 28, tendo uma das suas dez integrantes a diretora executiva do Fashion Revolution Brasil, Fernanda Simon. “A atuação de cada equipe costuma ser local, então ficamos imersos nos problemas do nosso território. Quando temos essas oportunidades de trocar, conhecemos as dores, os desafios e soluções alcançadas por outras equipes, faz com que a gente aprenda e evolua”, relata.

Fernanda relembra que, apesar do lobby fóssil, o evento foi um misto de cores e representatividade de ativistas climáticos, que mostra o potencial da sociedade civil na batalha contra a crise climática. “Às vezes, achamos que por ser um país distante é longe da nossa realidade. Mas acabamos vendo, nessas trocas, que muitas vezes as soluções que buscamos estão no mesmo lugar”, afirma. Ela cita como exemplo o lugar dos saberes ancestrais.

No evento How to Clothe 10 Billion People Sustainably, Fernanda destacou a relação direta da moda brasileira com o meio ambiente. “Na Amazônia, o couro está ligado diretamente ao desmatamento. No Cerrado, o algodão tem sido uma das razões para a devastação do bioma”, explicou. A falta de compromisso com esta realidade aparece nos números do ITMB23: das 60 maiores marcas presentes no território brasileiro, apenas 10% divulgam compromisso mensurável e com prazo determinado para o desmatamento zero e menos da metade (45%) publica as emissões anuais das próprias instalações.

Demandas

O Fashion Revolution trabalha em prol de uma indústria que conserve e restaure o meio ambiente e valorize as pessoas acima do crescimento e do lucro, mobilizando cidadãos, marcas e tomadores de decisão. Esse posicionamento está claro dentro das demandas apontadas na COP 28. Entre os principais pontos estão: o desmatamento zero, redução das emissões, transparência, hiperprodução e trabalho digno.
Um dos itens estabelece: “conte-nos como e onde suas roupas foram feitas, quantas foram produzidas e seus impactos ambientais”, “divulgue seus volumes de produção anuais”, e divulgue os preços que você paga aos fornecedores por cada item e quantos trabalhadores recebem realmente um salário mínimo”. O texto reforça que qualquer meta significativa em matéria de descarbonização deve abordar volumes excessivos de produção e consumo excessivo e que não existe moda sustentável sem remuneração justa.

A realidade, em solo brasileiro, segue aquém: enquanto apenas 40% das maiores marcas de moda que atuam no Brasil divulgam a quantidade de produtos produzidos anualmente, nenhuma publica a diferença salarial anual de seus funcionários sob a perspectiva racial, considerando a distribuição por cargos. A transparência dá visibilidade aos direitos humanos e às questões ambientais.

O faturamento da indústria da moda segue aumentando: uma das marcas mais bem pontuadas no ITMB23, a C&A, dobrou os lucros no 2º semestre de 2023. E, no mundo, o setor gera mais de US$ 2,5 trilhões em vendas anuais. “As roupas são manifestações culturais que podem contribuir para a construção de novas narrativas e transformações sistêmicas tão urgentes na nossa sociedade”, afirma Fernanda”, o caminho ainda é longo, mas ver tantas organizações e ativistas reunidos, mostrando seus trabalhos e comprometidos em fazer a diferença, nos incentiva a fazer a nossa parte e nos traz esperança em um futuro melhor”.

(O Instituto Fashion Revolution agradece ao Fundo Brasil, organização que viabilizou a nossa participação na COP28)

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