Cultura

Wakanda é um sonho possível?

O reino de T’Challa é o nosso candomblé. O vibranium, o axé

Cena de Pantera Negra (Foto: Divulgação)
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Os fãs do Pantera Negra estão ansiosos. No dia 24 de fevereiro, o longa-metragem pode tornar-se a primeira produção de super-heróis a ganhar o prêmio principal do Oscar.

Ao herdar o trono de Wakanda, um país altamente desenvolvido, T’Challa inicia a aventura para preservar a soberania de seu reino. Ao mesmo tempo, convida-nos a pensar nas questões tão atuais de representatividade e nos leva a imaginar como seria uma civilização africana se a história do continente não tivesse sido interrompida pela colonização e pela escravidão.

Não saberia avaliar as chances do filme na disputa pelo Oscar, mas estou na torcida. Wakanda parece inspirar o movimento de descolonização que tem movimentado a história do povo negro em todo o mundo e já surte efeitos, inclusive, nas religiões de matriz africana.

Com o anúncio das indicações, comecei a relembrar os comentários e as correlações que os adeptos do candomblé faziam entre as cenas e personagens e os rituais e orixás. Num tempo de perseguição e intolerância crescentes ver nossas divindades e crenças protagonizando uma produção de tanto sucesso, ainda que só na nossa imaginação, fortalecia nosso espírito para os enfrentamentos diários.

Wakanda é nosso sonho. Para mim, como expectador, Wakanda é o próprio candomblé, o terreiro, nosso território de retorno e resistência.

O vibranium seria nosso axé, a força vital e sagrada que permite a realização de todas as potencialidades, nosso maior segredo e nossa maior riqueza.

Wakanda é um elo entre nós e a ancestralidade. Desta forma, cada um dos personagens é um filho ou o próprio orixá. E a aventura é nossa luta contra o racismo, a intolerância religiosa e a apropriação cultural.

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Ao morrer, o velho rei T’Chaka, um filho de Oxalá, tornou-se um ancestral e foi para o Orun, de onde passou a orientar seu herdeiro, o príncipe T’Challa, que teve de mostrar sua bravura na cerimônia de coroação.

T’Challa é um filho de Oxóssi, o orixá caçador, um guerreiro estrategista. Ao tornar-se rei assume os poderes do herói Pantera Negra, mas ao ver seu reinado ameaçado tem que usar toda a sua inteligência para salvar seu povo e preservar as riquezas de Wakanda.

Shuri, o cérebro do reino (Foto: Divulgação)

Killmonger é primo de T’Challa e foi criado em Nova York. Cresceu revoltado e virou um guerreiro sanguinário, certamente um filho de Ogum, que assume o papel de vilão e volta pra disputar o trono de Wakanda. Na batalha entre inteligência e força, T’Challa sai vitorioso e retoma o trono.

A bela Nakia é o grande amor de T’Challa, sedutora como uma boa filha de Oxum. É uma espiã que cumpre missões de libertação de outros povos africanos. É apaixonada pelo rei, mas faz um certo charme. Desdenha da coroa, mas no fundo quer ser rainha.

As mulheres, aliás, aparecem com grande força, como a guerreira Okoye, a filha de Obá, que lidera um exército feminino totalmente leal ao trono de Wakanda.

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Shuri é irmã mais nova de T’Challa, uma verdadeira cientista e visionária. Independente e ousada, é a filha de Ewá que desenvolve e moderniza o uniforme do Pantera Negra.

Ramonda, a mãe de T’Challa e Shuri, é a própria Iemanjá, promovendo a paz entre todas as tribos, mas sempre pronta pra proteger seus filhos.

W’Kabi é o líder da segurança de Wakanda e grande amigo de T’Challa. Como chefe da tribo da fronteira, comanda os guerreiros altamente treinados que protegem as entradas do país contra invasores. Apesar de coadjuvante, não tem como não relacioná-lo a Exu, o guardião dos caminhos e mensageiro dos orixás.

M’Baku é o Xangô da história. Ele lidera a tribo Jabari, que vive nas montanhas e mantém uma disputa velada com T’Challa. Aspira o poder, mas segue como aliado.

Zuri, o sacerdote de Wakanda, foi um amigo fiel do rei T’Chaka e guardava seu grande segredo. Filho de Ossain, o senhor das folhas, transmitiu a T’Challa a sabedoria dos ancestrais. É o responsável pelo jardim no qual nascem as ervas sagradas que ativam o poder do Pantera Negra.

Usurpadores querem se apropriar do vibranium, o grande axé de Wakanda. Corromperam Killmonger, que cresceu longe dos valores de seu povo e se tornou um instrumento dos interesses estrangeiros.

T’Challa e seus guerreiros vão proteger o reino e fazer prevalecer a tradição, que lá convive perfeitamente com a alta tecnologia de uma nação superdesenvolvida.

Wakanda é um sonho, um sonho que o colonizador interrompeu e continua a impedir que se realize.

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