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Um relato sobre o martírio do Imam Hussain

O filho mais novo do Imam Ali se opôs à corrupção e tirania e foi referência para o líder Nelson Mandela

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A paz esteja com o profeta Mohammad e sua purificada família.

Esta semana estamos nas celebrações de luto do mês de Moharram, que marca o início do ano islâmico, composto por 12 meses. São dias de pranto e tristeza para os muçulmanos que amam a família purificada do profeta Mohammad e relembram a história do martírio do Imam Hussain. Foi no dia 10 de Moharram, que é exatamente hoje, nesta terça-feira, quando aconteceu a Ashura, ou o martírio de Hussain, neto do profeta Mohammad e filho do Imam Ali.

Depois da morte do profeta Mohammad, os governantes muçulmanos foram se distanciando do islam das origens, movidos por um sentimento corrupto e traidor.

O Imam Ali, a paz esteja com ele, em seu califado, tentou acabar com os abusos e não o deixam governar por reintegrar os direitos entre árabes, não árabes, coraixis e não coraixis.

Em cinco décadas após a morte do profeta Mohammad, o califa Otman falece e Ali ibn Taleb seria destinado o quarto califa. Ele, que já havia sido eleito em 656, foi contestado várias vezes por Muwaiya, por Tahla e por Aisha.

Em 657, Ali e Muwayia se enfrentam na batalha de Siffin, mas ninguém saiu vencedor. Estabeleceu-se, assim, um acordo em que Ali é nomeado califa.

O imam Ali era contra as diferenças que faziam entre os muçulmanos árabes e não árabes, curaixis e não curaixis e a corrupção que se espalhava. Havia um clã de ricos endinheirados que se achavam superiores e não gostavam dos discursos do Imam em defesa dos pobres.

 

Ali foi assassinado, esfaqueado pelas costas enquanto rezava, por um coraixita em 661, em Cufa, Iraque.

Muwaiya se torna o califa e governante e então cria uma inovação no islam que é a monarquia, que tanto o profeta quanto Ali sempre haviam combatido. Ele nomeia seus próprios filhos por decreto, dividindo o governo e colocando um governante de sua confiança em cada província criada por ele e seu filho Yasid como seu sucessor, o que gerou muitas revoltas, pois Yazid era um lumpem, alcoólatra e conhecido como um debochado.

Muwayia e sua família não tinham realmente nada a ver com a construção do islam. Sempre combateram o próprio profeta Mohammad, combateram a Usmam e combateram ao Imam Ali. Foram um governo de eganos, subornos e assassinatos.

Os Omiadas governaram de 661 a 750. Esses idólatras que sequer acreditavam em Deus e viriam a ser os governantes do islam sobre um governo tirano da dinastia Omiadas com Yazid, uma espécie de playboy corrupto no poder.

O movimento do Imam Hussain

Hussain, o filho mais novo do Imam Ali, se opôs à corrupção e tirania e lutou pela retomada do islam verdadeiro, das origens, contra a camarilha de Yazid e do grupo de ricos da cidade de Meca. Seu irmão mais velho, o Imam Hassan, já havia sido martirizado, assassinado por envenenamento por agentes do regime. O Imam Hassam também havia rompido todos os acordos com Muawia e depois da morte de Muawia rompeu com Yazid e seu filho.

Yazid decide se levantar contra o Imam Hussain, que se vê encurralado e tem que escapar de Meca com toda a família para não ser morto.

O Imam Hussain é então chamado pela gente de Cufa, no Iraque, onde milhares de seguidores que o esperavam oferecem 12 mil a 18 mil homens com espadas   para instaurá-lo como líder do Iraque e ele sai em caravana com toda sua família, incluindo mulheres, crianças e até um bebê, que durante o cerco de Karballah também não foi poupado e foi cravado de flechas pelos soldados de Yasid.

Hussain estava com 50 companheiros que seriam massacrados com ele no meio do caminho em Karballah antes de chegar a Cufa. Muitos pereceram e acabaram morrendo de sede sem ter acesso a água, que embora estivesse bem perto dali eles foram impedidos de beber e ainda assim lutaram como bravos em uma batalha que foi uma verdadeira tragédia histórica. Um cruel massacre daqueles que queriam reformar o islam, que havia caído nas mãos de traidores.

Yazid havia infiltrado seus espiões e descoberto os planos do Imam Hussain, que tinha por intenção unir sua caravana a seus aliados e combater o governo corrupto. Ele enviou um enorme exército para cercar e matar todos os integrantes da caravana. O Imam Hussain iria morrer por “se meter” a combater a corrupção do governo de Yazid, neto de Abu Sufia e filho de Muwaia aos quais o profeta amaldiçoou. Abu Sufia liderou várias lutas contra o islam e era idolatrado.

Yazid ordenou matar o Imam Hussain com as seguintes palavras: “Matem Hussain mesmo que esteja agarrado às cortinas da Caaba”.

Hussain, quando havia saído de Meca, olhou para sua caravana ao partir e disse: “Somos de Allah e a ele retornaremos.” Ele sabia que todos iriam ser martirizados.

O que aconteceu depois em Karballah toca os corações de todos que têm valor revolucionário.

A batalha

Há muitas narrações sobre a batalha que se deu em Karballah, uma região desértica onde a caravana foi cercada em emboscada.

Durante nove dias no deserto, o exército enviado por Yazid já somava ao número absurdo de 30 mil homens e depois 70 mil homens para atemorizar e matar uma caravana de familiares do Profeta Mohammad e crentes do islam, que foram cruelmente mortos na décima noite, decapitados, e todas as mulheres feitas prisioneiras. Zainab, irmã de Hussain, foi discursando contra a tirania em cada lugar em que os prisioneiros passaram na dura jornada a pé, acorrentada e arrastada desde o Iraque até sua prisão na Syria.

Lições de Karballah

Quem chora por Hussain, Allah dá o paraíso como morada ou os que fazem chorar ou se lamentam pela perda dele, Allah promete o perdão dos pecados.

O Imam Hussain foi decapitado e sua cabeça levada em uma estaca para que Yazid a desrespeitasse. Ele torturou a filha menor do Imam, Sukina, apresentando a cabeça de seu pai martirizado, frente a ela.

Estes acontecimentos cruéis aconteceram contra a família do profeta Mohammad. Mais de 25 milhões de pessoas se reúnem em peregrinação a Karballah todos os anos para recordar a batalha e esse número tem aumentado continuamente.

Nelson Mandela, que passou 20 anos de sua vida na prisão, disse que pensou em desistir e assinar todos os termos de sua rendição mas se lembrou da história do Imam Hussain e disse que ele lhe deu forças para defender a libertação de seu povo.

No quadragésimo dia, no fim do luto, quando as cabeças dos mártires foram finalmente sepultadas, celebra-se o Arbaeen, em que os seguidores do Imam Hussain vão em peregrinação até a cidade sagrada de Karballah relembrar seu martírio e fortalecer seus votos de fidelidade a seu movimento que hoje continua vivo.

Oh Allah, tu sabes que tudo que fazemos não é por desejos de poder político ou riquezas, mas sim para mostrar aos homens os brilhantes princípios e valores da tua religião e para defender os direitos de teus sevos oprimidos. (Imam Hussain) (a.s.)

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