Diálogos da Fé

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Os direitos humanos e as mulheres evangélicas

A teologia feminista é um grito de protesto que busca construir uma visão mais igualitária e inclusiva de Deus e da religião

Encontro de Mulheres Vitoriosas - Culto De Gratidão Pela Pra. Elizete Malafaia. Foto: Reprodução
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Ao falar sobre direitos humanos, muitas vezes imaginamos um homem como representante do ser humano como um todo. Isso se deve ao fato de que, em sua origem, a Declaração de Direitos Humanos foi fortemente associada à ideia do homem como modelo e representação do ser humano completo. No entanto, esse paradigma masculino tem sido problematizado e criticado por excluir as mulheres e outros grupos marginalizados.

A discussão sobre o uso da palavra “homem” para incluir automaticamente as mulheres nos direitos humanos é antiga. O patriarcado exerce grande influência em nossa sociedade, incluindo nas perspectivas de direitos humanos quando se utiliza uma linguagem masculina. De acordo com Joana Ortega, as mulheres têm sido tratadas como seres inferiores, submissos e dependentes, sem direitos e sem respeito por sua identidade de gênero. Portanto, é importante considerar a necessidade de reivindicar os “direitos humanos das mulheres” para garantir sua inclusão e proteção em igualdade com os homens. E questionamos: direitos humanos para quem?

Existe uma assinatura teológica no Estado, e essa concepção é uma questão importante a ser considerada, pois na maioria das vezes é uma teologia feita por homens e para os homens, excluindo as mulheres e outras minorias. As práticas estatais muitas vezes refletem essa exclusão, negando às mulheres sua plena humanidade e dignidade. É nesse contexto que a teologia feminista traz uma crítica importante à temática de direitos humanos, questionando como esses direitos são formulados e aplicados em um contexto de opressão sistêmica.

Dessa forma, a violência contra as mulheres está presente em todas as partes e assume múltiplas formas. Mulheres de todas as condições – crianças, jovens e idosas, urbanas e rurais, crentes e não crentes – são vítimas de violência devido à sua condição de gênero. Além disso, essa violência muitas vezes é justificada, incentivada e sustentada religiosamente, e o pior de tudo é que frequentemente as próprias vítimas se desculpam e defendem o agressor, pois internalizaram sentimentos de inferioridade e culpa.

A opressão é sentida pelo corpo da mulher, e devemos encarar a realidade: esses corpos oprimidos estão presentes em nossas igrejas! Uma pesquisa conduzida por Valéria Vilhena revelou que 40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas. Como igreja, temos agido em prol dos direitos das mulheres? E nem sequer estou abordando a questão da legalização do aborto, que a bancada supostamente evangélica tem se esforçado para retirar os direitos mínimos, como em casos de estupro ou risco de morte da gestante.

Ser uma mulher evangélica da libertação requer coragem, é preciso abordar temas difíceis, como aponta a pesquisadora do Instituto Tricontinental Delana Corazza: “É preciso que o campo progressista religioso e não-religioso dialogue com a classe trabalhadora cristã não só por aquilo que nos une de imediato, como pautas econômicas e socias, mas também por aquilo que teremos dificuldades de abordar, como o aborto”.

O dia 8 de março é um marco importante para lembrarmos que os direitos das mulheres foram conquistados ao longo de muitas lutas e que eles ainda precisam ser protegidos e ampliados. É essencial reconhecer que as mulheres não são um grupo homogêneo e universal, mas sim diversas em suas experiências e lutas. Por isso, é significativo não só lutar pelos direitos das mulheres, mas também das outras minorias como a comunidade LGBT+ , pessoas com deficiência, povos originários, grupos que por muitas vezes são excluídos de direitos. Além disso, é necessário que haja uma reflexão crítica sobre a nossa própria teologia e nossas igrejas. Como a religião e a espiritualidade têm sido usadas para justificar a opressão das mulheres? Como podemos transformar nossas práticas religiosas para que sejam mais inclusivas e respeitosas com as mulheres e outras minorias?

A violência contra as mulheres é um problema global que requer uma resposta global. Para enfrentá-lo, precisamos desafiar as estruturas de poder que perpetuam a violência de gênero. Isso inclui desafiar os direitos humanos, que muitas vezes não são aplicados igualmente a todas as pessoas, e as políticas públicas que não levam em consideração as necessidades e experiências das mulheres. Também é necessário desafiar a nossa teologia e as nossas igrejas, que muitas vezes reforçam ideias patriarcais e androcêntricas que marginalizam e desvalorizam as mulheres.

A teologia feminista é um grito de protesto que questiona essas ideias e busca construir uma visão mais igualitária e inclusiva de Deus e da religião. A luta pela justiça de gênero é uma luta de todas e todos que requer a união de todas as pessoas, independente de gênero, raça, orientação sexual, religião ou cultura. Devemos nos unir em um espírito ecumênico, valorizando a diversidade de perspectivas e experiências, o que nos torna mais fortes e capazes de enfrentar os desafios que ainda temos pela frente. Juntas, podemos trabalhar para criar um mundo onde todas as pessoas, independentemente de gênero, possam viver livres da violência e da opressão.

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