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O significado do ano novo islâmico para a comunidade muçulmana

O marco do início do calendário islâmico é a migração do profeta Muhammad de Meca para Medina-hijra

Garoto em meca (Foto: Phxsphere)
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O dia 31 de agosto marcou o início do ano novo islâmico. Como o calendário islâmico se baseia nos movimentos da lua, o número é de 10 dias menos que o calendário gregoriano e por isso todo ano as datas festivas e o próprio início do ano sempre ocorrem com 10 dias de antecedência.

O marco do início do calendário islâmico é a migração do profeta Muhammad de Meca para Medina-hijra. Tal migração não é qualquer uma, mas sim uma migração que para os muçulmanos possui suma importância. Inclusive, por esta razão o calendário se chama “calendário hijri” para sempre recordar do acontecimento que marcou o seu início.

A sistematização do calendário islâmico aconteceu no período do segundo califa do islam, Umar ibn al-Khattab, entre os anos 634-644 da nossa era. Esta sistematização procedeu a uma série de confusões, pois até esta época os árabes costumavam adotar diferentes acontecimentos por marco do calendário, por exemplo: três anos depois do ano de peregrinação do profeta.

 

Estas referências poderiam até chegar a afetar as datas festivas no islam como Ramadan, Festa de Sacrifício etc. Por esta razão, tomou-se a migração do profeta por marco do calendário e desde então, segundo a tradição, o calendário segue a mesma referência. Mas por que adotar a imigração do profeta por marco e não uma outra data que poderia ser, por exemplo, a noite em que a primeira revelação corânica chegou – Noite de Decreto?

O termo hijra, em árabe, possui uma certa variedade de significados. Ele pode ser como imigração, assim como abandonar algo ou algum grupo (Alcorão 25:30). Quanto à concepção de migração, hijra é uma imigração feita por um ideal. Ela não é uma fuga, tampouco busca de um bem material. Hijra é realizada em busca de agradar a Deus e mostrar a obediência para com Ele.

Em primeiros 13 anos de islam, como se vê no caso de Moisés no Egito e no caso de Jesus, o profeta Muhammad e os seus companheiros foram perseguidos, torturados e até alguns deles foram mortos pela elite da cidade de Meca. Tal perseguição chegou a um ponto que os fiéis foram boicotados e relegados a uma região onde não poderiam encontrar meios de alimentação. Por causa destas injustiças, um grupo de companheiros do profeta migrou para a Abissínia, região que atualmente abrange a Etiópia e a Eritreia, onde havia um rei cristão justo para com o seu povo e receptivo diante de quem se refugiava a seu país.

 

Uma outra solução foi o convite de um grupo da cidade de Yathrib, que depois da migração começou a ser nomeado como Medina. A cidade de Medina tinha uma diversidade religiosa e havia espaço para quem quisesse viver. Não podemos negar aqui as guerras que aconteciam entre as tribos, porém, isto tinha mais a ver com tribalismo/clanismo do que com razões religiosas. Enquanto isso os judeus e um grupo cristão habitavam esta cidade em paz. Portanto, foi viável este convite e os muçulmanos migraram, assim como o profeta.

O que deve ficar claro é que os muçulmanos não fugiram de Meca, houve uma resistência diante das torturas, perseguições e matanças por 13 anos. Porém, quando a ordem divina os levou a tomar esta decisão para melhor praticar a religião e cumprir seus deveres, a migração se faz necessária para os muçulmanos. Tal ideia existe no judaísmo como pessach, que em hebraico significa passagem e liberdade. No islam, isto é chamado de hijra, passar de um lugar para outro em busca da liberdade. Por isto, o marco do início do calendário é a migração do profeta, pois ela é o fundamento da ordem social que a sucedeu.

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