Diálogos da Fé
Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões
Diálogos da Fé
O ser humano diante das igrejas
A verdadeira religião é sempre libertadora e solidária. Nela, o fiel é sujeito e não objeto
*Artigo escrito em parceria com o professor Waldir
“Todos os que tinham abraçado
a fé reuniam-se e punham tudo em
comum: vendiam suas propriedades
e bens, e dividiam-nos entre todos,
segundo as necessidade de cada um”
Atos dos Apóstolos 2, 44-45
Sem a necessidade de grandes esforços, podemos concluir que vivemos em uma sociedade capitalista, globalizada e altamente consumista.
Esses elementos nos permitem traçar um dos perfis mais presentes em nossa época: a concorrência, na maioria das vezes desleal, estabelecida entre os seres humanos.
Sem se dar conta, o homem deixa de enxergar o outro como semelhante, transformando-o em concorrente, em obstáculo a ser vencido, passando a trata-lo como tal em todos os espaços da sociedade.
Não obstante, o mercado de consumo trabalha ferrenhamente por meio das novas tecnologias midiáticas, produzindo o desejo pelo supérfluo. Em outras palavras: o ter ocupa o lugar do ser.
Não importa mais o que você é: um homem, uma mulher, um jovem trabalhador… importa, sim, o que você tem. Convencidos disso, muitos daqueles que não possuem as coisas de último tipo, tornam-se ressentidos por sua condição e acabam alimentando inveja daqueles que têm.
Inveja esta que pode se transformar em um desejo incontrolável de possuir o objeto cobiçado, capaz de levar à prática de atos violentos para ter sua vontade realizada.
Não bastasse, o “espírito do capitalismo” paira sobre a sociedade e alimenta a falsa necessidade de possuir sempre mais para ser bem visto e respeitado, convencendo de que a realização pessoal está vinculada diretamente ao sucesso econômico e à ascensão social.
Na sociedade capitalista, o homem não é visto como cidadão, e sim como um número, um consumidor a mais que vale o que compra, que vale o limite de seu cartão de crédito. Nesta circunstância, aqueles que têm um limite baixo para compras passa a ser tratado como “cidadãos de segunda classe”, para os quais o mercado inventará uma nova modalidade de consumo que os levará a contrair dívidas buscando ostentar um estilo de vida que não condiz com sua realidade econômica. Estamos diante de um novo modelo de escravização e dominação.
É preciso um contraponto ao Deus-mercado (Foto: Pixabay)
O papel dos cristãos
Face a esta realidade, qual o papel das igrejas cristãs? O que cada uma delas pode (deve) fazer para que os seres humanos não sucumbam à violência gerada por este mercado de consumo escravizador?
Trazendo para cá a epígrafe que abre este texto, entendemos que a solidariedade e o compromisso com o bem comum devem ser os elementos norteadores para uma vida livre da dominação financeira imposta pelo universo do capital econômico, cabendo às igrejas grande parte da responsabilidade em propaga-los.
Contudo, é com tristeza que nos deparamos com “igrejas” que trouxeram o “espírito do capitalismo”, alimentador do consumismo, para suas esferas, doutrinando seus fiéis para que “lutem cada vez mais para terem cada vez mais”.
Não bastasse esta doutrinação, temos ainda a imposição inegociável de que os fiéis devem colaborar o quanto puderem para que a “igreja cresça”. Não basta o dízimo. Este é tido como condição sine qua non para que os fiéis sejam considerados integrantes daquela Igreja. O que você oferece a mais é que demonstra o tamanho da sua fé.
Perdoem-nos aqueles que discordarem, mas para nós, tais “igrejas” estão longe da verdade libertadora do Evangelho. Estão longe da prática da solidariedade, da partilha, da colhida ao estrangeiro, ao pobre e ao desvalido. Estas “igrejas” só enxergam números à sua frente.
Daí a necessidade de nos unirmos em torno do Cristo Libertador, vivendo uma teologia que liberta, uma doutrina que suaviza a caminhada e que atua verdadeiramente na construção do Reino de Deus.
A igreja deve demonstrar ao mundo que não somos apenas números diante do Pai, pois “… o sólido fundamento colocado por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra: o Senhor conhece os que lhe pertencem”. (2Tim 2,19).
A verdadeira igreja é libertadora e solidária. Nela, o homem é sempre o sujeito e nunca o objeto.
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