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SXSW e a inovação que o Brasil já faz há muito tempo

O que os líderes brasileiros de empresas e agências vão fazer com as informações do evento?

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O South by Southwest (SXSW) é um dos maiores eventos de inovação, tecnologia, cinema e música que acontece no mundo, em Austin, Texas, nos Estados Unidos. É um dos eventos mais queridinhos do publicitários brasileiros. Não à toa, o evento contou com 1.400 brasileiros inscritos este ano, a segunda maior delegação.

Muito se falou da inteligência artificial, realidade aumentada, big data. Nos seis primeiros dias, o evento estava tomado de homens, brancos, com idade média de 40 anos, que lideram agências e grandes empresas. Muitos brasileiros, claro. Confesso que durante os 10 dias que estive no evento, encontrei poucas participantes e palestrantes com a minha idade, na casa dos 20 anos.

Nos últimos quatro dias, a configuração da cidade mudou, pois começaram os eventos de música. Tinham muitas pessoas negras artistas no evento e muitos moradores das periferias de Austin vivendo a cidade e não o SXSW. Isso reforça o que disse no início: informações como tecnologia e inovação ainda fica concentrada nas mãos de poucos. E ter negros na parte da música mostra como eles ainda acreditam que somos apenas o entretenimento.

Voltando. Enquanto os homens brancos brasileiros de 40 anos ficavam empolgados com as novidades nunca vistas, por não imergirem em seu próprio país, eu fiquei pensando quem são os brasileiros que estão falando, ou melhor, colocando em prática aquilo que os palestrantes do SXSW estavam dizendo.

Vou começar pelo Jacson Fressatto. Ele criou o robô Laura, desenvolvido usando tecnologia cognitiva. Ou seja, ele é capaz de aprender. Atualmente, a tecnologia está espalhada em cinco hospitais brasileiros, trazendo informações em tempo hábil para os médicos. Como ele mesmo diz, é um Robô Cognitivo Gerenciador de Risco que utiliza Cognitive Computing e Machine Learning.

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Além dele temos o Cairê Moreira, CEO e fundador da Genyz que faz escaneamento corporal e design tridimensional para empresas de moda. A solução consiste no escaneamento corporal integrado com sistemas de modelagem e produção, misturando automação com o manual tradicional no segmento. Resumindo, é possível escanear o corpo da pessoa através de um tablet para obter as medidas certas e fazer a modelagem. Cairê também está desenvolvendo a Mia, primeira influenciadora virtual do Brasil e colocando-a em interação com o mundo real.

Tayanara Alves é cientista e empreendedora, criou a InQuímica, uma startup que alinhada à tecnologia e características químicas retira dos alimentos – frutas, verduras e legumes – até 85% dos metais pesados, provenientes da utilização de agroquímicos, defensivos agrícolas, solo contaminado, fertilizantes químicos, etc.

Em Olinda, temos Mãe Beth de Oxum que possui um ponto de cultura onde é a sede da rádio Amnésia e do Laboratório de Tecnologia e Inovação Cidadã, que oferece cursos gratuitos. Mãe Beth de Oxum forma por ano cerca de 150 adolescentes e jovens em linguagem de programação e ancestralidade, criando o jogo “Contos de ifá”, como promoção da identidade negra e mitologia afro-brasileira. No SXSW, o que você mais vai ouvir é que programação é uma das habilidades do futuro. No passado, Mãe Beth começou a preparar os jovens das periferias de Olinda para o presente e o futuro. E continua fazendo isso.

Falei de tecnologia, mas trago também Maurício Sacramento, idealizador da maior festa negra e LGBTQ que ganhou o mundo: Batekoo. É mais que uma festa. É um ecossistema de inovação na área de produção cultural que todas pessoas deveriam estudar. Como uma festa com apenas 1 mês de existência ganhou o Brasil e se mantém viva até hoje?

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A Batekoo movimenta dinheiro, traz autoestima para o povo negro e LGBTQ e ainda possui um dos melhores times de produção cultural, feito por jovens de até 26 anos.

Por mais que a sociedade brasileira esteja passando por um momento bastante complexo com o atual governo, podem acreditar que, pelo menos, as discussões relacionadas à diversidade, empatia, humanizar as empresas e tecnologias, o Brasil está muito à frente.

Eu vivi o evento e a cidade sem necessariamente bater ponto no SXSW. Falta curadoria no evento para olhar para as bordas da sociedade que estão inovando. Falta os brasileiros enxergarem a potência que temos nas periferias do país e reconhecer que as inovação criadas às margens funcionam.

Minha preocupação maior não é o quanto o evento é caro, não inclusivo, repetitivo. Mas sim o que os líderes brasileiros de empresas e agências vão fazer com essas informações.

Assista a Monique Evelle falando sobre o mito de ser feliz fazendo o que se ama no TEDx Talks:

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