Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Reverbo chega à maturidade como principal mostra musical do País

Músicos do grupo criado em 2017 no Recife reúnem número expressivo de registros fonográficos de inquestionável qualidade artística

Apresentação da mostra Reverbo, com o falecido Jr. Black ao microfone
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O cantor e compositor Juliano Holanda prefere definir a Reverbo como uma movimentação em vez de movimento. Mas pela qualidade inquestionável, não há como não associá-la a uma experiência musical bem sucedida no País.

“Movimento tem uma espécie de ideário. A Reverbo é uma mostra, um organismo que se movimenta, uma conversa ao redor da fogueira onde cada um conta sua história e a diferença é que todo mundo ouve”, explica o seu idealizador, que divide a tarefa de levar à frente o projeto com a companheira e produtora Mery Lemos.  “A mostra é interessante enquanto proposta de análise musical interna. A Reverbo é uma plataforma de desenvolvimento artístico”. 

O grupo, criado oficialmente em 2017, é integrado hoje por 27 artistas que compõem, cantam, desenvolvem parcerias entre si e fazem apresentação com todos juntos, mas cada um realiza sua carreira individualmente.

“Isso criou um fluxo criativo, de um conhecer o outro, de ter admiração um pelo outro. É um fluxo interessante”, acrescenta Juliano. 

Bom compositor, violonista e produtor musical, o artista tem três álbuns lançados e centenas de músicas gravadas por outros músicos, como Simone [inclusive produziu seu último disco, lançado ano passado] e Zélia Duncan [que tem um disco só com músicas assinadas por ambos].

As parcerias se estendem até ao autor de hits Michael Sullivan, pernambucano como ele, de quem é fã: “Cresci o tendo como referência”. O disco novo de Sullivan tem quatro canções compostas pelos dois. 

Não tem ninguém no grupo da Reverbo atualmente que não tenha gravado nem que seja um single. EPs e álbuns já foram lançados por 21 artistas do grupo, parte produzida pelo próprio Juliano Holanda.

Os cantautores que compõem a Reverbo hoje, além de Juliano Holanda, são: Ágda (lançou álbum recentemente), Álefe Passarim, Almério (caminha para o seu quinto álbum), Camila Yasmine (um disco lançado), Flaira Ferro (três álbuns lançados), Gabi da Pele Preta (um EP já lançado), Gean Ramos (um disco lançado), Igor de Carvalho (dois álbuns lançados), Isabela Morais (um álbum lançado), Joana Terra (dois discos), João Euzé, Larissa Lisboa, Luíza Fittipaldi (Fitti), Lucas Torres (um disco e um EP), Marcello Rangel (um álbum), Martins (prepara lançamento de seu terceiro disco), Mayra Clara (um disco), Mayara Pera, Mazuli, PC Silva, Revoredo (esses três últimos, um disco cada), Rogéria Dera (dois álbuns), Sam Silva (um EP lançado), Tonfil (um disco lançado), Una (um disco lançado) e Vinícius Barros (está em estúdio para seu segundo álbum). 

Jr. Black, morto ano passado e que também integrava o grupo, deixou seu primeiro disco gravado pela metade – ele ficou conhecido por atuar no filme Bacurau (2019). A Isadora Melo, que já participou do grupo, lançou seu segundo álbum em 2022 com algumas músicas de compositores da Reverbo.

Três desses artistas têm seus recentes trabalhos sendo lançados pela gravadora Deckdisk, do Rio de Janeiro, que percebeu ares novos e inovadores na música: Martins, Almério e Isabela Morais. Mas a maioria dos artistas da Reverbo se autoproduz.

Juliano Holanda conta que foi numa ida para uma temporada de trabalho no Rio que passou a olhar o que estava acontecendo mais de perto musicalmente no Recife, indo inclusive ao encontro desses novos músicos quando tinha oportunidade de voltar à capital pernambucana.

“Vi essa turma começando e até já fazendo encontro. Pensei: isso podia ser uma mostra de música. Poderia juntar essa galera e fazer essa mostra. Aí, agrupei alguma dessas pessoas por meio de saraus, encontros lá em casa”, lembra. 

“A Reverbo é resultado daquela época que a gente viveu, de ressignificação da canção brasileira”, disse. “É uma mostra de canção autoral”. 

A ressignificação da canção ele crê que veio com o advento das plataformas digitais de música. “Abriu-se ali uma estrada que estava muito ligada a ouvir canção”, avalia. “Há um espaço para um tipo de música que ela é cantada, que tem letra, melodia, não necessariamente para dançar”.

A Reverbo, para ele, se insere no retorno da canção. “Não sei se foi proposital, mas sei que somos resultado desse tempo”, afirma.

“A mostra existe quando as pessoas se encontram, fazem músicas juntos e pensam a música que fazem. Passa pelo labor, pelo exercício e pelo afeto, que é a palavra-chave. Tem que reconhecer o outro”, diz. 

O coletivo ganhou relevância e esse ano sairá um longa-metragem sobre a existência da Reverbo. A mostra não conta apenas com artistas do Recife, mas do interior do Pernambuco, inclusive do sertão, da Zona da Mata e do agreste.

Juliano Holanda tem um projeto aprovado de gravação de registro audiovisual, que é em voz e violão, que pretende transformar em disco, com parcerias diversas.

Além disso, pretende lançar singles esse ano para dar vazão a canções inéditas com variados parceiros. Os três primeiros (com participação dos mesmos) são com Joana Terra, Kleber Albuquerque e PC Silva, mas há outras que podem ser gravadas e foram compostas com Otto e Zé Renato.

“Tinha vontade de registrar algumas parcerias que tenho, coisas que não cabem em um álbum”, diz. “Quem vem do álbum fica tentando ressignificar o single”, afirma, ressaltando que a ideia de gravar essas parcerias é um jeito para que o single faça sentido.

“Fazer um disco é um livro. Para ter ideia do livro, preciso estar munido de um objetivo, com a necessidade de dizer alguma coisa e enquanto conjunto da obra. O disco tem que ter um guarda chuva, uma lógica construída”, ressalta. 

A lógica talvez esteja mais perto que parece, por ali mesmo, na mostra Reverbo, onde a música brasileira floresce na sua plenitude, mais uma vez.  

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