Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Podcast de Nando Reis oscila entre tretas, desabafos e introspecção

Nos cinco episódios, o cantor e compositor vai da infância ao encontro com os Titãs, os abusos com drogas e a arte de compor

Foto: Carol Siqueira
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Lugar de Sonho, podcast que Nando Reis apresentou no Spotify em cinco episódios (o quinto foi ao ar no último dia 24), traz vários conflitos do artista, mas expõe também o aprofundamento musical do mais talentoso, profícuo e sensível dos Titãs, ao lado de Arnaldo Antunes.

Nando Reis está hoje na lista dos principais compositores brasileiros, mas teve dúvidas se levava jeito para a coisa até ser gravado por Marisa Monte, com que teve um romance na mesma época, e logo depois lançar seu primeiro disco solo.

O músico, nascido de uma família de classe alta, vai narrando sua história de Jaú – nos arredores, é dono de um casarão centenário em uma fazenda onde seu pai e seus avós paternos viveram.

Os pais e os irmãos ouviam muita música e iam a shows. No Colégio Equipe, em São Paulo, formou com colegas a banda Titãs. O músico conta que começou no grupo tocando bateria, logo abandonada por falta de intimidade. Ele também abandonou o curso de matemática no segundo semestre na UFSCar para se dedicar integralmente aos Titãs. Nando reconhece que a banda tinha um repertório de forte apelo popular.

Embora o disco acústico dos Titãs (1997) seja considerado o ápice da banda, o músico expõe opinião diversa no podcast.

“Até porque o acústico é um disco de regravações, embora tenha quatro músicas inéditas”, diz.  “Na minha cabeça, a gênese e a definição dos Titãs como identidade musical se deram nos dez primeiros anos, enquanto o Arnaldo (Antunes) estava lá”. Para ele, os dez anos seguintes foram consequências.

O cantor e compositor diz que quase deixou a banda após a saída de Arnaldo, em 1992, mas só concretizou o movimento em 2002. A última década nos Titãs foi de “descolamento”, como define. E de desavenças.

Ele afirma que na gravação do acústico havia muita “fricção interna” e que isso tinha a ver com ele, que já se relacionava com outros intérpretes do cenário nacional e se firmava como compositor e produtor.

A bela canção Os Cegos do Castelo seria a única inédita a entrar no acústico pela escolha do grupo, mas, segundo Nando, houve uma “impugnação” promovida por Sérgio Britto e Branco Mello. Eles anunciaram que seriam gravadas quatro inéditas, uma de cada cantor da banda na época: Nando, Sérgio, Branco e Paulo Miklos.

Os Cegos do Castelo deveria ser também a música de trabalho do álbum e seria lançada com exclusividade na Rádio 89 FM, de São Paulo. Marcelo Fromer, porém, trabalhava na emissora e, de acordo com Nando, teria vazado sua música composta com Sérgio Britto para o acústico, fazendo com que ela tocasse antes de Os Cegos.

“Conto isso com certa raiva”, afirma no podcast. “Achei isso parte da história da nossa ruptura.”

O excesso de shows de lançamento do álbum acústico “levou ao abuso de cocaína e álcool” por Nando. “Eu pirei. Viaja muito e sempre que viaja estava sempre doido”, relata. Ele reconhece o “deslumbramento” da época, mas diz que “ao mesmo tempo estava muito criativo”.

Em 2001, as mortes de Marcelo Fromer e Cássia Eller, duas pessoas muito ligadas a Nando Reis, foram um divisor de águas para o artista.

A passagem narrada sobre o contato e a produção do trabalho com Cássia Eller, que gravou uma dezena de músicas dele, foi o reconhecimento do Nando compositor, sensível, musical, mergulhado no seu universo particular, uma ratificação de sua introspecção criativa. Ele apresenta uma gravação inédita caseira de ambos no podcast.

Nando toca violão e compõe muito bem, fazendo letra e melodia juntas na grande maioria das vezes. “Resolução de uma composição é dar ordem a coisas dispersas, fragmentos que têm um sentido.”

Ele conta sobre a composição de Estrela Misteriosa, feita durante a pandemia e “nesse horror do governo Bolsonaro”. A canção faz referência a Júpiter, onde imaginaria estar melhor.

No penúltimo episódio, fala do casamento de idas e vindas com Vânia, que conheceu aos 15 anos e é mãe de quatro dos cinco filhos do músico.

Nando confessa que foi “desonesto”, “puxou o tapete dela” e a “magoou demais”, associando parte da crise aos abusos – há seis anos ele não bebe ou usa drogas. O cantor chegou a se divorciar e a se casar de novo com Vânia.

No último episódio, comenta o reencontro dos Titãs, neste ano, para shows apoteóticos. “Há uma grande afinidade, uma grande admiração mútua que se sobrepôs a qualquer resquício de memória de desentendimento.”

O podcast Lugar de Sonho apresenta Nando Reis por ele próprio: uma pessoa de subjetividades e suscetibilidades e, ao mesmo tempo, sentimental e afetivo, com tudo isso convergindo à sua música.

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