Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Lula Queiroga apresenta paisagens sonoras em disco que ‘percorre’ o rio Capibaribe

Com autoridade, um dos maiores compositores pernambucanos faz um mergulho sonoro de timbres e ritmos

Foto: Sidarta
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O novo disco de Lula Queiroga se chama Capibaribum, uma junção do nome do rio mais importante de Pernambuco com a onomatopeia “tibum”, extraindo-se a primeira sílaba.

“O nome do rio é Capibaribe, o rio das capivaras em linguagem ancestral (tupi). E ‘bum’ é o mergulho nele. A capa do disco é a capivara mergulhando no rio”, explica, em entrevista a CartaCapital. “Moro a 300 metros do rio. Ele sai dando voltas, criando deltas, pequenas ilhas. Tempos atrás, sobrevoei os 240 quilômetros do rio e fui buscar a nascente, que é pequena, um ‘choro contínuo’. Desce pelo desfiladeiro, cria um rio, vira um açude – o Capibaribe se transforma muito.”

As músicas do disco, o sexto da carreira do autor, remetem ao trajeto do rio, desde sua nascente até a foz, na capital, passando pela serra, por comunidades ribeirinhas e por baixo de pontes.

A faixa-título, de Lula e Yuri Queiroga (sobrinho do autor e parceiro em mais quatro canções do disco), abre o trabalho e termina com um coro de crianças ribeirinhas do Capibaribe.

A segunda, A Ponte (Lula e Lenine), única não inédita das dez canções do álbum e sucesso na voz de Lenine, tem a participação de Ailton Krenak e de Marcelo Falcão.

Também marcam presença no álbum Bruna Alimonda, Zé Renato, Martins, Ylana Queiroga e a dupla Caju e Castanha.

“Caju e Castanha conheço desde pequenininho. Eles tocavam com lata de doce. Minha mãe trouxe eles para almoçar em casa porque achava que eles estavam com fome. Depois, passaram a ir lá”, lembra Lula Queiroga. Eles tocaram a última faixa, Forro do Nevoeiro (composição de Lula).

“Acima de tudo, nessa parte musical (do disco), eu crio paisagens sonoras para edulcorar a letra. Nessas passagens sonoras a gente vai em uma busca incessante de timbres e polirritmias. A gente usa muito polirritmia”, ressalta. “Pernambuco tem os maiores acervos de ritmos de todos. Por que não usá-los?”

Segundo ele, entre os ritmos que “entrelaçam” o disco estão forró, xote, maracatu, frevo e eletrônico. Lula Queiroga faz nesse trabalho uma junção de timbres, andamentos e pulsações, de forma nada convencional, com autoridade. É um dos artistas mais respeitados de Pernambuco, que dialoga com figuras locais e de outras regiões do País.

Ele tem na carreira um trabalho inovador com Lenine, o álbum Baque Solto, de 1983. Lula também ostenta mais de 200 composições gravadas por diferentes intérpretes do primeiro time da música brasileira, de Elba Ramalho a Milton Nascimento.

“Passei por muitas transições. O primeiro foi em vinil (com Lenine). Depois, as tecnologias amparadas pelo computador. Hoje, chegou a um desarvorar completo”, define. “Isso mudou a relação com a música.”

O artista aponta uma “supremacia gigantesca” do technobrega e do piseiro em seu estado. “Mas o que a gente faz nunca vai deixar de ter seu nicho”, pondera. “No Brasil, tão diverso e disperso, tem essa hegemonia grande do sertanejo, com um pouco do pagode. A hegemonia é igual a pardal: quando tem muito, ele come a comida dos outros e não sobra nada para ninguém.”

Assista à entrevista de Lula Queiroga a CartaCapital:

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