Mano Brown: Será imperdoável se Lula, eleito, não for pra cima da educação

Em outubro de 2018, durante um evento promovido pela campanha de Fernando Haddad (PT), o rapper Mano Brown fez um discurso profético. Contrariando o clima festivo e as falas esperançosas da noite, Brown se disse descrente de uma vitória e apontou a necessidade de a esquerda voltar para sua base popular.

“Se o pessoal daqui falhou, agora vai pagar o preço. Porque a comunicação é alma, e, se não está falando a língua do povo, vai perder mesmo, certo?”.  Mesmo vaiado, ele prosseguiu. “Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada, ou a gente vai cair no precipício.”

De lá pra cá, o mais importante rapper brasileiro se revelou também um excelente comunicador – no sentido mais exato da palavra – com o podcast Mano a Mano, que chega nesta quinta 24 à sua segunda temporada. 

O programa, uma bem-sucedida parceria com o Spotify, nasceu da busca desse retorno para a base, especialmente aquela mais jovem e periférica. “No Brasil, a gente tem projeto de gado. Tem a casa grande, tem o pastor e as ovelhas. Não tem um projeto para o povo. Como não investem no jovem, ele não pode ter um futuro melhor”, lamenta ele, em conversa com jornalistas. “Se o Lula ganhar ele vai ter que ir pra cima disso. É imperdoável se o Lula não ir pra cima disso. A escola é que vai salvar os jovens”.

O segredo do sucesso, segundo ele, é debater de forma simples, aberta e direta assuntos que tenham a ver com o cotidiano. “Há uma urgência. A juventude está conectada com um monte de coisa ao mesmo tempo e você precisa ser prático. Eles gostam da objetividade e da praticidade”, explica. “O jovem já ouviu todo tipo de conversa romantizada, poética, das outras gerações. Hoje, esses assuntos precisam ser abordados de forma mais direta.”

A segurança pública foi um dos temas mais difíceis de debater. Quando fala do assunto Brown costuma ser criticado à esquerda e à direita. “É um monte de questão. Ele está questionando quem: o governo, eles mesmo, os caras da quebrada? Quem o Brown tá questionando? São temas delicados. Você pode entrar em conflito com os seus.”

O rapper também falou falou sobre o preconceito racial. Se, no auge do Racionais MCs, era taxado de ‘ignorante e intransigente’, em suas palavras, hoje ele convive com outro tipo de incômodo. “O incômodo [que se tem] com o preto que tem pensamento original, não é catequizado.”

“Outro dia um cara me estranhou que falei que era taurino. ‘Pô, o Brown acredita em signo?’ Só por que eu canto rap não posso ter signo? Tenho fome, preguiça, gosto de conforto, roupa boa, perfume, boa música e boas amizades”.

Na primeira temporada do programa, Brown recebeu personalidades como Glória Maria, Wagner Moura, Vanderlei Luxemburgo, Leci Brandão, Fernando Holiday, Dráuzio Varella e Lula. Nesta nova leva de episódios, serão entrevistados o rapper Emicida, a jornalista Cecilia Oliveira, o ator e cantor Seu Jorge e o neurocientista e colunista de CartaCapital Sidarta Ribeiro.