Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Luisão Pereira grava disco em que referencia o tratamento contra o câncer

Músico e produtor compôs e registrou canções nos longos períodos de internação

Foto: Leto Carvalho
Apoie Siga-nos no

Luisão Pereira nasceu em Juazeiro, interior da Bahia, de uma família de músicos. Seu irmão Antonio Carlos Tatau foi cantor e compositor e seu tio é um dos baluartes do samba baiano, Ederaldo Gentil.

“No inicio escolhi o rock e só anos depois fui abrindo o leque, mas sempre trabalhei com aquilo em que acreditava e gostava”, conta. Ele gravou dois discos com o grupo baiano de rock Cravo Negro, três com a banda Penélope e mais três em parceria com Fernanda Monteiro, que formavam o Dois em Um. Também produziu álbuns e shows. Na produção executiva atuou de Los Hermanos a Tom Zé.

Em 2017, foi diagnosticado com câncer de mieloma múltiplo. “Tudo começou com uma simples dor nas costas. Gosto sempre de contar isso para que as pessoas fiquem atentas a um diagnóstico precoce”, diz. Naquela época, Luisão fez um ano de quimioterapia e depois entrou em remissão, até outubro de 2019.

A partir daí, teve uma série de internações por causa de fraturas (problemas ósseos são uma das causas desse tipo de câncer) no joelho, nos dois fêmures, na tíbia, no braço esquerdo e ainda teve de fazer um transplante de medula óssea durante a pandemia. “Sigo em quimioterapia até hoje. Mas me sinto bem até agora.”

“Hoje, reduzi o tempo de trabalho por conta do tratamento. Daí, as escolhas estão ainda mais filtradas. Mesmo assim, a vida tem sido generosa comigo, como compositor, músico e produtor”, prossegue. “Descobri que era a única maneira que eu tinha pra sobreviver a toda aquela loucura”.”

Nesse período difícil, Luisão Pereira produziu um dos álbuns mais importantes lançados nos últimos tempos: Do meu Coração Nu, de Zé Manoel – já resenhado em CartaCapital.

“Estava em tratamento (na produção do disco de Zé Manoel) e ter levado o computador de trabalho para o hospital e imergir no disco dele foi vital. Não ficava pensando na doença, o foco era a música”, recorda.

“Um pouco depois, voltei a me internar novamente e por períodos mais longos, inclusive com um transplante de medula no ‘pacote’. Resolvi, além de computador e fones de ouvido, levar também placa de áudio, teclado controlador e até microfone – inclusive captei barulhos do hospital, como bomba de infusão, de máquinas de ressonância, raios X e afins. Daí começou a surgir o meu disco.”

Sim, Luisão Pereira fez seu primeiro álbum solo no momento mais difícil de sua vida. Com o nome de Fogo no Mar, o disco sai em 26 de maio.

Parte das letras e das melodias foi criada no período de tratamento propriamente dito. “A canção Forte, por exemplo, em que digo ‘seja forte mais que ontem, seja forte mais uma vez’, foi um mantra que comecei a cantarolar na cabeça durante uma sessão insuportável de quimioterapia”, diz. “Outras canções, como Se Saia e Licença, foram processos parecidos também>”

As faixas do álbum Fogo no Mar foram produzidas por Luisão, com contribuições de outros produtores, como Kassin, Gustavo Ruiz, Ênio e Livia Nery. O disco conta ainda com a participação de Zé Renato, Marcelo Jeneci, Mãeana, Zé Manoel, Luiz Chagas, Regis Damasceno, Icaro Sá, Junix, Emanuel Venancio, Bruno Buarque, Estevan Barbosa e Alexandre Copinha.

A música Forte do álbum Fogo no Mar é uma parceria com o poeta Mauro Santa Cecília (também paciente oncológico) e já foi lançada em single:

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo