Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro sobre os Titãs exalta trajetória da banda em meio a tragédia e cisões

O grupo reuniu talentos além da música e trabalhou no limite do aceitável para a indústria fonográfica

Foto: Bob Wolfenson/Divulgação
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A banda Titãs, que completou 40 anos, tem história para contar. O livro A vida até parece uma festa (Globo Livros; 456 páginas), de Hérica Marmo e Luiz André Alzer, que foi lançado recentemente e conta a caminhada do grupo, pegou bem essa oportunidade.

A obra já havia sido publicada há 20 anos, mas agora foi relançada com atualizações. A banda começou em 1982 na esteira do ressurgimento do rock-pop nacional e foi muito impulsionada pela indústria fonográfica na época, que era quase uma babá de artistas (quando tinha talento e principalmente potencial financeiro). Mas há de ressaltar que seus membros se expuseram à rebeldia e à contestação, mesmo bajulados pelo mercado, o que evitou involuntariamente caírem no lugar comum. 

A obra expõe essa face de não conformidade da banda, trabalhando no limite permitido pela indústria, na composição e produção dos trabalhos.

Inquietos

Nessa linha de inconformidade, foi natural que integrantes produzissem discos atormentados (e muito bons), como Cabeça Dinossauro (1986), Jesus Não tem Dentes no País dos Banguelas (1987) e Õ Blésq Blom (1989), além de músicas insubmissas integradas a outros álbuns ao longo dessas quatro décadas, inclusive no último, o Olho Furta-Cor (2022).

O grupo sempre foi bastante inquieto. Uma característica de todos os membros (aqueles da formação mais conhecida e chamada clássica) foi o interesse em fazer outros trabalhos, seja um disco solo ou atuar em outras áreas de criação. Até mesmo o Marcelo Fromer – tragicamente morto em 2001 depois de atropelado – fazia comentários sobre futebol na TV e escrevia em veículos.

Essa questão de trabalhar solo, aliás, é motivo central das saídas de Arnaldo Antunes (em 1992) e Nando Reis (em 2002), dois artistas de ponta hoje da MPB. A de Charles Gavin (em 2010) foi porque não aguentava mais pegar a estrada para shows – e foi a fundo do que já fazia com louvor: pesquisa fonográfica, se firmando pouco tempo depois em programa musical no Canal Brasil.

Paulo Miklos, além de tocar a vida de músico, já desenvolvia com sucesso a atividade de ator em bons filmes. Mas Miklos entrou mesmo em parafuso com a morte da mulher, Rachel, por conta de um câncer no pulmão, em 2013, depois de 30 anos de união. A cisão com a banda ocorreu três anos depois.

Os Titãs chegaram perto do fim. Tony Bellotto, um apurado escritor de livros, Sérgio Britto, também com trabalhos solos e compositor de primeira de clássicos da banda, e Branco Mello resolveram seguir assim mesmo, apesar da debandada. Esse último, também com projetos próprios nas costas, mostrando também interesse às artes além da banda, foi diagnosticado com câncer na laringe em 2018 – com recidiva em 2021 e em 2022. 

Casos com excesso de drogas e álcool por bons anos com os membros do grupo (com exceção de Charles Gavin) são relatados com quase naturalidade no livro, sendo que alguns deles tiveram que procurar ajuda para sair do vício em meio aos contratempos criados para o grupo pelo menos até quase 2010. 

É um livro elogioso aos Titãs. A banda taí e é, por certo, uma das principais da cena brasileira não somente pela sonoridade, mas por trazer letras mais instigantes e provocadores ao longo da história – em meio ao som poderoso, mas comportado da maioria de suas congêneres do pop-rock emergida ao longo dos últimos 40 anos.  

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