Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Airto Moreira e Naná Vasconcelos levaram a percussão a outro nível, diz Chico Batera

O músico, há 50 anos na banda de Chico Buarque, considera que o país criou um conceito no exterior com os instrumentos percussivos

Foto: Leo Zulluh
Apoie Siga-nos no

Prestes a completar 81 anos, Chico Batera iniciou a carreira musical na época em que bateristas e percussionistas começaram a ganhar projeção internacional, foram morar lá fora e integraram bandas de grandes jazzistas americanos.

“Fiquei morando em Los Angeles. Lá sempre teve muito trabalho, mas a música braba do jazz sempre foi em Nova York, até hoje”, conta Chico, que morou nos Estados Unidos entre 1964 e o início dos anos 1970. Naquele momento, o Brasil mostrava ao mundo a sua qualidade musical e uma maneira singular de tocar.

“A percussão e a bateria eram exclusivamente rítmicas. Essa ideia de embelezamento, efeitos, sons exóticos, isso foi de Naná (Vasconcellos) e Airto (Moreira). Eles estavam na crista da onda tocando com os músicos de jazz mais notáveis do mundo”, diz a CartaCapital.

Para o baterista, eles deram à percussão brasileira uma nova linguagem. “Depois que eles tocaram com Miles Davis, todo mundo começou a imitar a percussão de efeito, que não era só rítmica”, afirma.

O músico crê que o fato de Naná sempre desenvolver projetos no Brasil o fez ser muito mais reconhecido no País do que Airo Moreira, que no auge da carreira não vinha para cá.

“A percussão brasileira tem prestígio. Aonde a gente vai, fica todo mundo curioso. Criou-se um conceito por causa da sorte de nossas raízes. Ela está aí há muitos anos não porque é mercadológica, mas por ser boa mesmo.”

Chico Batera diz ter tido sorte por ser contemporâneo de grandes instrumentistas brasileiros e aprender com eles.

“Quando cheguei dos Estados Unidos, as multinacionais descobriram o Brasil. O País passou a ocupar importante posição na indústria fonográfica. Vivi bons anos, até o início da década de 1980. Gravava o dia inteiro”, relembra.

O momento era bom para instrumentistas qualificados como ele participarem de registros fonográficos em estúdios. “A gente ganhava tanto sem sair do Rio (de Janeiro)… Gravava com todas as cantoras, mas na hora de ir para a estrada com elas não era bom negócio.”

“Se você saísse, por exemplo, em um fim de semana para um show em Belém e ficasse três dias fora, mesmo que fosse o mais alto cachê, perdia-se três dias de gravação aqui”, explica. “Eu fazia até três gravações de estúdio por dia. Era uma fonte de renda sólida.”

Na década de 1980, no entanto, o jogo virou com a chegada do aparelho que reproduz sons de instrumentos, o sintetizador, e mais tarde o sampler. “Foi o primeiro baque. Os produtores achavam o máximo bateria digital programada, teclado, baixo. Aí foi uma lacuna na vida profissional dos músicos sem tamanho.”

Foi o trabalho na banda de Chico Buarque que o “segurou” financeiramente por muitas vezes. Ele entrou na banda de Chico em 1974 e é o mais longevo do grupo hoje – e também o mais aplaudido entre os instrumentistas do cantor ecompositor nos shows, faz questão de frisar.

A lista de artistas aqui e lá fora que Chico Batera gravou e acompanhou é interminável e vai de João Gilberto e Gal Costa a Cat Stevens e Frank Sinatra.

O músico lançou sete discos solos e o último saiu em 2006. Agora, ele prepara a divulgação de um EP, em meio às comemorações dos 80 anos completados em 2023, que envolveram ainda o lançamento de um livro: Chico Batera: memórias de um músico brasileiro.

O instrumentista diz que o lançamento do EP, com composições suas e outras em que surge cantando, será uma grande descoberta. Afinal, seu último disco foi lançado em CD.

“Com esse negócio das plataformas digitais, estou tentando seguir o ritmo da vida como está agora. Tem uma valsa que fiz para minha mãe, outra instrumental, uma parceria minha com Paulo César Pinheiro”, lista.

O novo trabalho sairá pelo selo Rocinante, ainda sem data definida. “Nessa novo situação do mercado fonográfico, é como estivesse começando”, define.

Em 8 de abril, Chico Batera completará 81 anos. Ele comemorará no dia seguinte, no Bottles Bar, no Beco das Garrafas, em Copacabana, onde começou a tocar com o pessoal da Bossa Nova quando não tinha nem 18 anos. Na ocasião, fará o relançamento de sua autobiografia e um show com o seu trio.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo