Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Ivan Conti é mais um precursor do jeito brasileiro de tocar bateria que se foi

Bateristas surgidos nos anos 1950, 60 e 70, que imprimiram a marca brasileira no instrumento, vão aos pouco saindo de cena

Ivan Conti, conhecido no meio musical como Mamão. Foto: Divulgação
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Ivan Conti, conhecido no meio musical como Mamão, faleceu no último dia 17, aos 76 anos. A causa da morte não foi revelada. O baterista fundou em 1973 o Azymuth junto com o tecladista José Roberto Bertrami (morto em 2012) e o baixista Alex Malheiros.

O Azymuth foi um dos grupos brasileiros que ganharam o mundo ao colocar o samba dentro do jazz, dando uma característica muito própria ao gênero musical americano. Um dos segredos do sucesso da fusão estava nas mãos do baterista, que levava as batidas do ritmo brasileiro à estrutura harmônica jazzística.

Mamão imprimiu com maestria essa união. Tinha suingue e enorme capacidade de absorção do som mais universal do jazz. Mamão chegou a lançar três álbuns solos nos anos 1970 e o Azymuth teve sólida carreira internacional a partir dos anos 1980.

O baterista, por certo, viu o que vinha sendo feito na bossa nova (chegou a integrar um grupo que tocava o gênero), com a batida sutil e mais leve do samba, sem sobreposição a instrumentos harmônicos tradicionais, mas com grande capacidade complementar, de solo e de improviso.

A bossa nova foi profícua no surgimento de grandes bateristas, que assim como Mamão ganharam o mundo. A forma peculiar de executar a bateria teve uma geração de instrumentistas exemplares entre os anos 1950 e 1970 – que, infelizmente, aos poucos têm saído de cena…

O excepcional Milton Banana (1935-1999) tocou com todos os músicos da bossa nova nos seus primórdios, gravou mais de uma dezena de discos solos e foi um dos primeiros bateristas brasileiros a se destacar no exterior. Atribui-se a ele a criação da forma de se tocar bateria na bossa nova.

O Zimbo Trio é um marco da fusão do jazz com o samba e o baterista Rubinho Barsotti (1932-2020) foi o condutor da levada do grupo instrumental. Dom Um Romão (1925-2005), prócere também da bossa nova, foi quem gravou a batera no clássico álbum de Frank Sinatra e Tom Jobim (1967).

O baterista Edison Machado (1934-1990), que atuou como ninguém nos anos 1950 no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, e tocou até com o trompetista Chet Baker e o baixista Ron Carter, lendas do jazz americano.

Por ter acompanhado artistas de vários gêneros musicais desde a década de 1950 e desenvolvido um consistente trabalho solo no Brasil com ótimos discos de samba, o baterista, cantor e compositor Wilson das Neves (1936-2017) acabou tornando-se uma referência para vários músicos da geração atual.

Cita-se ainda dessa geração maravilhosa de bateristas Robertinho Silva, Airto Moreira, Marcio Bahia, Paulinho Braga, Nenê, Pascoal Meirelles e Chico Batera – este acompanhando Chico Buarque na sua atual turnê. O Brasil tem enorme legado na bateria.

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