Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Grande letrista, Carlos Rennó vê a função em declínio com o avanço do cantautor

Compositor lança álbum com canções interpretadas por diferentes artistas, incluindo Paulinho Moska, Samuel Rosa e Jorge Drexler

Foto: Divulgação/Paula Marina
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Carlos Rennó é parceiro de Arnaldo Antunes, Chico César, Gilberto Gil, Lenine, Rita Lee, Zeca Baleiro e mais um monte de gente. A lista de intérpretes de suas músicas passa de uma centena.

Trata-se de um dos grandes letristas da música brasileira, que acaba de lançar um segundo disco com composições suas interpretadas por seus respectivos parceiros e por outros convidados.

O trabalho de 10 faixas inéditas tem o nome de Muita Lindeza (Biscoito Fino). Entre os parceiros que interpretam canções com Rennó no disco estão Paulinho Moska, Samuel Rosa e Juliano Rosa (filho de Samuel), Jorge Drexler, Moreno Veloso, João Gil (Gilsons), Marcelo Jeneci e Felipe Cordeiro.

Só como intérpretes estão Cortejo Afro (na música de Rennó com João Gil), José Gil e Mariá Pinkusfeld (uma parceria de Rennó com João Bosco) e Preta Ferreira (uma canção de Rennó com Bem Gil).

Há ainda uma música de Carlos Rennó com Moraes Moreira, falecido em 2020. Baião para uma Baiana em São Caetano começa com Moraes cantando, após Rennó resgatar em uma fita demo o registro da música na voz do baiano. Davi Moraes, filho de Moraes Moreira, interpreta o restante da canção.

“Ele teve um papel importante na minha formação. Aí, um dia acabamos nos conhecendo. Disso surgiu a ideia de compor uma canção”, diz Rennó sobre a parceria com Moraes Moreira.

“Eu tinha feito a letra para um samba. Chamava-se Samba para uma Baiana em São Caetano. Quando fui mandar para o Moraes, pensei: “vou ‘nordestinizar’ essa letra”. E troquei para “baião”. Curiosamente, ele fez um samba. É uma letra que não seria tão fácil de musicar, mas ele, mestre, musicou magistralmente.”

O repertório do disco Muita Lindeza foi definido com base em canções de amor de Carlos Rennó, que incluem algumas não tipicamente românticas, mas políticas, como é o caso de Deus Proteja Meu Filho (com Bem Gil e interpretada no álbum por Preta Ferreira).

Rennó explica que a canção trata de um amor de uma mãe preta por seu filho, envolvendo afeto e a preocupação dela com o tratamento que ele pode receber na rua devido ao racismo. “É uma canção de afeto, mas também antirracista”, resume.

Outra música nessa linha é a parceria com Moreno Veloso: A sua Vida, Preta, Importa pra Mim.

“É uma canção de amor para uma mulher preta, mas também uma canção política, que se utiliza do grande slogan do movimento negro internacional ‘Vidas negras importam.’”

O compositor lembra que havia feito a letra da canção e a enviado para Moreno Veloso musicar. O filho de Caetano Veloso teve a inspiração da melodia em um sonho.

Músicas de protesto são uma marca na obra de Carlos Rennó. Segundo ele, elas surgem de uma questão socioambiental ou de direitos humanos. A aproximação de Rennó com o produtor do álbum, Apollo Nove, surgiu justamente de uma canção engajada.

Nove, que produziu o último disco de Rita Lee, perguntou a ela se não teria a indicação de um letrista. Rita indicou Carlos Rennó.

“Anos depois, Apollo Nove veio a produzir uma canção política minha, porque boa parte de meu trabalho – e talvez a mais significativa – nos últimos 15 anos tem se constituído de uma série de músicas engajadas”, conta.

A música em questão tem o nome de Demarcação Já (2017), em defesa dos territórios indígenas, uma parceria de Carlos Rennó e Chico César, com a participação de vários artistas de ponta e a produção musical de Apollo.

Carlos Rennó ressalta que a ideia do disco Muita Lindeza foi de Apollo. “Conhecendo esse trabalho politicamente engajado, mas também conhecendo minhas canções de amor, canções pop, ele propôs fazer um álbum”, afirma.

A opção de Rennó por fazer letra de música se deve à aproximação inicial com a poesia. Ele acha, contudo, que a condição de letrista encolheu nos últimos anos.

“Havia um número menor (no passado) de pessoas criando (como letrista). De alguns anos para cá, até uma consequência positiva do avanço tecnológico, que propiciou uma facilidade para compor e gravar, o número de pessoas que compõem e cantam ficou proporcionalmente maior”, explica, em uma referência ao chamado cantautor.

“Então, eu acho que muitas pessoas que no passado poderiam ser apenas cantores ou apenas letristas passaram a fazer tudo. Isso contribui para um certo declínio da imagem do letrista. Quando a gente fala do letrista, normalmente não está se referindo a alguém de geração recente.”

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